Capítulo 2

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Ava está sentada de frente para sua avó, e o sol da manhã inunda o refeitório sul do Napa Valley Country Club. Ava tem 14 anos de idade e, embora adore vir ao clube com a avó, isso não diminui a dor que sente com a perda recente dos pais.

A avó olha com preocupação para o prato intocado.

-Ava, você precisa comer. Sei que é difícil, mas seus pais iriam querer vê-la saudável e bem. Você sabe disso, não?

Ava entende a preocupação na voz da avó e pega o garfo.

-As vezes eu não me lembro deles - diz a garota, sentindo-se culpada e forçando um pedaço de ovo cozido na boca.

-É para isso que estou aqui, minha querida - diz a avó suavemente. - Para lembrá-la. – E estendendo o braço por sobre a mesa, aperta a mão livre da neta. - E a vinícola vai lembrá-la também. E cada brisa. Cada colheita. Cada vinha.

Ava anima-se um pouco. Pensar na vinícola lhe traz conforto. Seus pais podem ter partido, mas a presença deles permanece no solo de Starling, no envelhecimento do vinho nos barris na adega, no vento que farfalha as vinhas. Enquanto Ava tiver a vinícola, seus pais estarão sempre por perto.

Ava dá outra mordida, saboreando melhor o pedacinho, quando um homem se aproxima da avó. Alto e distinto, com cabelos grisalhos e vestindo terno e gravata, apesar de ser um domingo bastante quente. Ele puxa a cadeira e se junta a elas muito antes de a avó registrar sua presença.

-Olá, Sylvie - diz o homem. - Está linda como sempre.

A avó de Ava olha para cima, e seus traços elegantes transformam-se em uma máscara fria.

-Eu ia perguntar o que você quer, senhor Reinhardt, mas nunca fui boa em fingir.

O sorriso do homem se desfaz.

-Essa é uma das coisas que admiro em você.

Ela balança a mão, rejeitando a ideia que ele tem em mente.

-Você já tem minha resposta: eu nunca vou vender a Vinícola Starling. Não há mais nada a ser dito sobre o assunto.

O homem chamado Reinhardt concorda.

-Sim, foi o que você disse. - Ele estica o braço por sobre a mesa, puxando uma maçã da travessa de frutas colocada no centro.

Ele dá uma mordida, enquanto seu olhar recai sobre Ava.

-Você conhece a história de Adão e Eva, não é mesmo, querida? Sobre a maçã no Jardim do Éden?

Os olhos de Ava deslizam para a avó antes que ela olhe de volta para o homem e balance a cabeça afirmativamente.

-Você sabe o que fez Eva querer tanto a maçã?

Ava pensa, desejando obter a resposta certa, apesar de não saber exatamente o porquê dessa necessidade.

-Porque o diabo a enganou? - sugere timidamente.

O homem coloca a fruta na mesa, enxugando a boca com um dos guardanapos de linho.

-Porque disseram a ela que não poderia tê-la.

-A expressão dele endureceu. - E isso só afez querê-la mais.

O CÉU AINDA ESTAVA PINTADO DE ROSA E LARANJA QUANDO AVA chegou à área de treinamento atrás do terá. Quase não tinha dormido; os fantasmas de seu passado rondavam pela névoa do meio-sono até que não pudesse ter certeza se estava acordada ou sonhando.

Revenge Treinamento para Vingança - Jesse LaskyOnde histórias criam vida. Descubra agora