Capítulo 8

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O SOL DA MANHÃ ENTRAVA PELO ÁTRIO DA VÍNICOLA STARLING, E O Noturno em Dó sustenido menor de Chopin flutuava como fumaça pelos corredores da casa.

Os olhos de William Reinhardt estavam fechados, os dedos movimentando-se com destreza sobre as teclas do piano de cauda. Ele estava no início do crescendo quando um toque irrompeu de seu bolso. Tocou mais um momento, querendo continuar a música por apenas mais alguns segundos, antes de parar com um suspiro. Enfiou a mão no bolso e retirou o telefone, olhando para o visor antes de atender a chamada.

-Senador Wells, a que devo a honra?

Reinhardt perguntou. Ela o encontrou disse Jacob Wells; uma cacofonia de vozes e passos ecoando em mármore diziam a Reinhardt que o senador estava provavelmente no edifício do

Capitólio do estado da Califórnia.

Excelente. - Reinhardt foi até a janela, olhando para as fileiras de uvas Malbec e Nebbiolo graúdas ainda brilhando com o orvalho. Mais uma vez, ela provou-se valiosa.

O tom de voz de Wells diminuiu um pouco.

-Eu ainda não confio nela.

Contrariado, Reinhardt sentiu as veias se dilatarem. Ele se concentrou nas uvas, forçando se a falar de maneira equilibrada.

-Pense em tudo o que ela fez. E sem pedir nada em troca. É exatamente isso que me preocupa - disse o senador.

Está tudo sob controle - disse Reinhardt para acalma-lo.

-Essa é a última peça do quebra-cabeça. Você vai estar aqui para o Baile de Gala Anual da

Vinícola Starling, no dia primeiro?

-É claro disse o senador, não parecendo muito entusiasmado.

-Bom disse Reinhardt. Então conversamos depois.

Ele desligou o telefone e voltou para o piano. Ajeitando-se no banco, retomou o clássico de Chopin. Fechou os olhos, deixando que a música penetrasse nele, levando-o de volta a um tempo que ele tentava, sem sucesso, esquecer. Foi sempre assim. Primeiro, a música: a única coisa, exceto a vinícola, que acalmava sua fúria. Mas nunca durava muito tempo, porque com a música vinham memórias que ele não queria enfrentar.

A raiva o corroía por dentro, revestia o interior de sua mente com tinta vermelha, até que isso fosse tudo o que ele podia enxergar. Abrindo os olhos, ele golpeou as teclas com o punho. As notas ressoaram assustadoramente pela sala envidraçada, fazendo com que os pintarroxos que fizeram casas nas árvores do lado de fora voassem apressados.

Ele se levantou, voltando para a janela aberta. Respirando fundo, observou as fileiras de vinhas e repousou o olhar nas várias outras vinícolas e nos vinhedos que se perdiam na distância. Reinhardt queria tudo. E nada o deteria em seu plano para conseguir isso.

O toque do telefone tirou-o de seu devaneio. Provavelmente o chorão do Wells novamente.

Mas quando ele olhou para o visor, viu que não era Wells, mas a mulher sobre a qual Wells havia falado.

-Ouvi dizer que você encontrou o elo que faltava para a minha cadeia inquebrável -disse ele, aproximando se do minibar ao lado do piano de calda para servir de um coquetel matinal.

-Gostaria de pensar que você não quer nada em troca, mas sei que a natureza humana não funciona assim.

-Chegaremos lá. - A voz do outro lado do telefone era macia e ligeiramente rouca. Ele sempre sentiu uma estranha excitação erótica ouvindo-a falar. - Por enquanto, só quero uma coisa.

Reinhardt serviu-se de uma dose generosa de Cabernet, girando o vinho na taça e segurando-o contra a luz.

-E o que seria?

Que você continue sendo o proprietário da Vinícola Starling.

Revenge Treinamento para Vingança - Jesse LaskyOnde histórias criam vida. Descubra agora