Capítulo 38

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REINHARDT MERGULHOU A MÃO NA FONTE DE MÁRMORE, deslizando-a pela superfície da água. O mármore era liso e branco, tão único quanto as nuvens que se alinhavam no horizonte na tarde de Napa. Retirou algumas das moedas que brilhavam no fundo da fonte e observou um raro dólar de prata entre as outras moedas. Alguém tinha um desejo muito ambicioso.

Algo chamou sua atenção na base da fonte, perto de uma pequena e sutil rachadura.

Inclinou-se, esfregando os dedos sobre algo gravado na pedra dura: R3.

Isso não significava nada para ele, mas logo abaixo estavam as palavras de Henry Wadsworth Longlellow: "Aquilo que a fonte dá retorna à fonte". Meditou sobre o significado e o contexto, enquanto observava outra inscrição.

"Para Sylvie..."

O nome trouxe consigo a lembrança da senhora elegante almoçando com a neta no clube.

Irônico que ela tenha sido imortalizada no que era agora propriedade de Reinhardt.

Seu reflexo na água o pegou desprevenido. As linhas sob os olhos estavam mais espessas,

os vincos na testa, mais profundos. Consolou se com o ditado de que com a idade vem a sabedoria, orgulhando-se da abundância desta última.

Na verdade, faria tudo de novo se tivesse a chance.

-De uma coisa tão suave, de tal fonte de todo prazer, nasceram todas as minhas dores.

Virou-se e viu Charlie andando em sua direção, vestido com um elegante smoking preto, a gravata frouxa no pescoço e um acessório cravejado de diamantes que atendia pelo nome de

Bo apoiado em seu braço.

-Palavras de Michelangelo, não minhas - disse Charlie. - Ainda assim, são estranhamente apropriadas, não acha?

Reinhardt ficou de pé.

-Nem um pouco. Não sinto nenhuma dor. E nem você deveria. E caso sinta, guarde-a para si. Isso não faz parte do nosso acordo. - Charlie olhou para a moeda na mão de Reinhardt.

-Se você precisar de alguns dólares é só falar - Charlie brincou. Reinhardt jogou a moeda de volta na fonte, o que provocou pequenos respingos.

-Só estava contemplando a inutilidade dessa fonte. Ela dá mais valor nas moedas atiradas

na água do que nos desejos tolos das pessoas. Essa coisa é uma monstruosidade. Talvez eu a remova daqui.

-Isso dá às pessoas esperança, não é? - Bo disse com um sotaque escandinavo pronunciado.

Ele nivelou seu olhar para ela.

-Esperança significa entregar as rédeas da vida de uma pessoa a um destino que não existe.

Charlie beijou a bochecha dela.

-Vá para dentro. Encontrarei você no átrio para uma bebida. - Reinhardt a viu sair, o vestido apertado de Bo abraçando cada uma de suas consideráveis curvas.

A fonte foi instalada para que Sylvie pudesse honrar seu trabalho na fundação R3: Repor,

Recuperar, Reconstruir - Charlie explicou.

-Como eu disse, uma monstruosidade, como a própria morcega velha - Richard disse.

Olhou para Charlie com um brilho malvado nos olhos. - Mas se você gosta dela, talvez eu remova você também, embora sua amiga, Bo, possa ficar.

-Ela não é seu tipo - Charlie disse. - Não paguei por ela.

-Qual é a vantagem aí? - perguntou Reinhardt. - Se não pagar, você nem sempre consegue o que quer.

-Nunca acontece de querer alguém apenas para lhe fazer companhia? - Charlie perguntou.

-Não - Reinhardt disse simplesmente. Ficaram lá no calor do final da tarde, se encarando.

Reinhardt não se lembrava de quando a camaradagem entre eles se transformara em animosidade. Quando se tornaram adversários em vez de aliados. Feria sido depois que

Reinhardt comprou a propriedade? Depois que a garota Winters deixou a cidade?

Provavelmente. Charlie sempre teve um fraco por ela, embora nunca admitisse isso naquela época.

-Havia um sujeito chamado conde Victor Eustig, Charlie. Você sabe quem foi ele? - perguntou Reinhardt.

-Um dos maiores vigaristas da história disse Charlie.

-Fingiu trabalhar para o governo francês e vendeu a torre Eiffel. Duas vezes. E ainda teve a ousadia de enganar Al Capone.

Reinhardt olhou Charlie nos olhos.

-Uma citação conhecida de Lustig, e perdoe meus erros, estou parafraseando, é a seguinte: "Tudo fica cinza quando não tenho pelo menos uma marca no horizonte. A vida então parece vazia e deprimente. Não consigo entender homens honestos. Eles levam uma vida desesperada e... "-"... cheia de tédio" - Charlie completou.

-Por que você ainda está aqui, Charles? - perguntou Reinhardt. - Você mostra claramente que possui sentimentos ambíguos com relação aos nossos roubos. Talvez esteja precisando de um novo alvo.

Charlie olhou para seu reflexo na água. Não acho que seja mais quem eu sou.

Reinhardt sabia que era mentira. Um homem não poderia negar sua verdadeira natureza.

Não mesmo.

Ele se levantou e bateu nas costas ele Charlie.

-Bobagem. Somos um e o mesmo. A diferença é que tenho coragem de ser honesto sobre isso.

Revenge Treinamento para Vingança - Jesse LaskyOnde histórias criam vida. Descubra agora