Capítulo 4

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Ao entrar na sala de degustação da Vinícola Starling, Ava é calorosamente recebida por frequentadores assíduos da região de Napa, vinicultores e uma infinidade de turistas que vieram experimentar o vinho do estabelecimento mais apreciado do país. A madeira reaproveitada do espaço de estilo colonial combinava perfeitamente com o balcão de bar cor de mostarda e com as mesas de café nas quais os clientes bebericavam e degustavam.

Ava serve uma generosa taça de Pinot Gris a um jovem casal sentado nos confortáveis bancos do bar.

-Starlings não são aquelas aves que defendem seus ninhos até a morte? - diz o jovem enquanto bebe seu vinho.

-Pare de flertar - a esposa avisa com uma risada.

Deixe-me em paz - diz ele. - Estou conversando com a herdeira do trono Starling.

Ava ri e oferece outra taça à senhora.

-Nossa! Até a morte? - diz um inglês sentado a poucos metros de distância. - Mas é apenas um ninho!

Ela olha para ele com serenidade.

-Bem, o ninho é a casa das aves. E a casa fica...

-Deixe-me adivinhar... onde está o coração? - ele brinca, o cabelo desgrenhado de menino contrastando com o queixo esculpido e com as maçãs salientes do rosto.

Ava acena com a cabeça, sentindo uma imediata atração física por ele. Ela pega um copo e pergunta se ele prefere tinto ou branco.

-Na verdade, prefiro saber qual é o seu nome - diz o homem.

-Ava Winters -- ela responde, escolhendo um bom tinto.

-Por que esse? - pergunta ele, inclinando a cabeça para a garrafa.

-O vinho tinto passa repetidamente por um processo de refinamento. Ele corrige seus defeitos. - Ava sorri sorrateiramente para ele. - Acredito que você, igualmente, poderia passar por algum tipo de refinamento.

-Touché - o homem ri e estende a mão. - Sou Charles. Charles Bay. Mas pode me chamar de Charlie.

Ele retira um folheto do bolso do paletó. Na capa, está a foto de Ava com uma mulher mais velha, as duas sentadas diante de uma grande fonte de mármore na frente da Vinícola Starling.

-Foto bacana - diz ele. Ava ri, sem graça.

-Então é verdade? - ele pergunta.

-O que é verdade?

Ele abre o braço e acena em volta.

-Que tudo isso vai ser seu um dia. Ava concorda.

-Suponho que sim.

Charlie sorve o Cabernet que lhe foi servido.

-Qual é sua parte favorita? Com relação a quê?

-Com relação a tudo isto: a região de Napa, a vinícola... Ava pensa sobre a questão enquanto alcança um pequeno balde.

De lá a garota tira um chaveiro suvenir com uma rolha de cortiça pendurada que traz as palavras VINÍCOLA

STARLING, NA PA VALLEY, CALIFÓRNIA escritas em tinta preta.

Ava entrega o chaveiro a ele e diz:

-As pequenas coisas.

Charlie a observa com um sorriso lento. Gostaria de beber algo comigo?

-Não posso - diz Ava, sentindo uma pontada de arrependimento. - Não com todos esses clientes aqui.

Então, depois que você terminar de trabalhar - diz ele insistentemente. - Há um bar aqui perto. O que você acha?

-Na verdade - diz ela, constrangida de novo -, vou completar 21 só daqui a seis meses.

Com um sorriso, ele mostra que entendeu. - Daqui a seis meses, então?

-Como sabe que ainda estará por aqui até lá? - ela pergunta. Charlie sorri. E ela também.

E de repente fica claro que ele estará lá.

AVA ESTAVA EM PÉ À BEIRA DO PRECIPÍCIO QUANDO OUVIU alguém se aproximar por trás. Virando-se em direção aos passos, ficou surpresa ao ver Jon.

-Não conseguiu dormir? - ele perguntou, parando ao lado dela. Puxando o roupão mais firmemente em torno do corpo, ela voltou o olhar para a água. Já passava da meia-noite, e o mar sem fim e escuro se descortinava sob um céu claro coberto de estrelas. Era desolado, selvagem. E muito, muito bonito.

-Sempre sonhei em conhecer o Japão. Ver essa parte do mundo - ela murmurou. -Mas não pensei que seria assim.

Eu sei o que você quer dizer - disse Jon ao lado dela. Ele pareceu hesitar. Por que ele faz isso? Takeda? O que ele ganha com isso?

Ela olhou para ele. Seus braços estavam cruzados na frente do peito, os bíceps protuberantes surgiam da manga da camiseta. Ele vestia shorts, tão despreparado para o frio quanto Ava.

-Você não se fez essa pergunta antes de vir para o treinamento? ela perguntou.

-Eu estava ocupado demais curtindo a ideia de punição.

Seu sorriso era irônico, mas Ava estremeceu quando ele disse a palavra. Punição. Justiça.

Vingança. Fosse qual fosse o nome, foi o que a impeliu a estar ali também.

-Não sei das razões de Takeda - disse ela -, e realmente não me importo. Estou aqui para me concentrar em mim mesma, em meu objetivo.

Jon acenou com a cabeça, voltando a olhar para a água.

-Provavelmente para o melhor. Ela suspirou.

-Olhe, sinto muito. Não quis parecer mal-humorada. Ele riu.

-Não se preocupe com isso. Você está aqui para trabalhar. Eu entendo. E você está certa, todos nós temos nossas razões para estar aqui. Takeda realmente não tem nada a ver com a gente.

-Quais são as suas razões? Ava perguntou, virando-se para ele. Isto é, se você não se importa que eu pergunte...

Ava... - ele começou. Percebendo a hesitação em sua voz e envergonhada pela intromissão, ela sorriu.

Quer saber? Sinto muito. - Ela deu um meio sorriso.

-Não sei o que eu estava pensando. Não é da minha conta por que está aqui. Acho que estou fora dos círculos sociais há muito tempo. Nem sei mais como falar com as pessoas. Ele balançou a cabeça. Não precisa se desculpar. Acho que ainda estou tentando digerir ludo o que aconteceu... tudo o que me trouxe até aqui. Podemos falar sobre isso outra hora.

Ela sorriu, concordando com a cabeça.

-Claro!

Ele sustentou seu olhar, uma corrente de calor se movia entre eles. Ava ainda estava presa naqueles olhos castanhos quando percebeu movimento em sua visão periférica. Alguém se movia das sombras em direção a eles. Quando a figura se aproximou, Ava viu que era uma mulher, alta e magra, o cabelo loiro brilhava sob a luz da lua. Ela deu um passo na direção deles, embora tenha mantido certa distância, e voltou a atenção para o mar.

-Este é o lugar onde eu costumava vir - disse ela.

-Quem é você? - perguntou Ava.

A mulher hesitou antes de voltar os impressionantes olhos castanhos para Ava.

- Meu nome é Emily Thorne.

Revenge Treinamento para Vingança - Jesse LaskyOnde histórias criam vida. Descubra agora