Capítulo 35

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ELES CHEGARAM A UMA PEQUENA ENSEADA ROCHOSA QUE CONSISTIA apenas do litoral arenoso do Pacífico e de um píer coberto de areia. Os olhos de Reena se detiveram em uma placa desgastada pelo tempo. BEM-VINDO A BODEGA BAY

Shay estacionou o carro de Marie e desligou o motor. Eles ficaram em silêncio, e o barulho da ventoinha do motor era a única coisa que se podia ouvir.

Reena olhou para baixo, querendo memorizar os traços fortes do rosto de Cruz, os lábios que a tinham beijado tão carinhosamente. Querendo tatuar isso na mente, assim como o círculo que tinha atrás do pescoço. Tocou as mãos dele, frias e secas. Mãos que haviam segurado as dela quando ficou sozinha no mundo.

Enfim, não podia adiar mais.

-Vou precisar de ajuda.

Shay saiu do carro e caminhou até o lado dela. Abriu a porta e tirou o corpo de Cruz do colo dela, levantando o outro homem nos braços como se fosse um filho adormecido.

-É aqui que Cruz e Simon vinham quando as coisas ficavam ruins em casa - ela explicou enquanto abriam caminho até a margem. Cruz me contou que chamavam suas viagens para cá de "aventuras".

Ava tocou o braço dela.

-Parece o lugar perfeito - disse baixinho.

Reena concordou. Era o único lugar em que pôde pensar. Um lugar de amor e esperança.

Um lugar onde Simon poderia vir para estar próximo do irmão, quando finalmente limpassem seu nome.

E iriam limpar seu nome. Por Cruz.

Ela aproximou-se de Shay, olhando atentamente para o rosto de Cruz.

-Não sei como vou viver sem você, mas eu vou, porque é assim que você ia querer - ela riu com delicadeza, lágrimas escorrendo pelo rosto. Quase posso ouvir você me dizendo agora para eu mexer minha bunda. Reena depositou um beijo carinhoso nos lábios dele. - Boa-noite, meu amor. Durma bem.

E então recuou, acenando para Shay, que entrou na arrebentação e colocou suavemente o corpo de Cruz nas águas encrespadas. A maré envolvente lambeu os pés dela como se tentasse confortá-la, enquanto a água recebia Cruz em seus braços, puxando-o para o mar aberto.

Ela ficou olhando para a água até ter certeza de que ele tinha ido embora.

Em seguida virou-se para os demais.

-Não posso deixá-lo morrer em vão. Ava sacudiu a cabeça.

-Não vamos deixar.

Shay olhou para a água, em cuja superfície a lua desenhava uma coluna de luz.

-O mais poderoso caçador do planeta não é o leão ou o tigre.

Nem sequer a chita, ou uma ave da rapina. - Ele olhou para Reena. Para todos. - É uma matilha de cães selvagens africanos. Ferozes, violentos, calculistas. Sozinhos não conseguem muito. Mas quando trabalham juntos, sua taxa de abatimento é incomparável.

Takeda tinha razão. As emoções interferem na vingança. Cruz estaria lá se não amasse Reena o suficiente para morrer por ela.

Reena não estaria sentindo que teve a vida sugada dela se não amasse Cruz.

E agora Reena entendia algo mais. A retaliação não era apenas a vontade de mandar as pessoas para o inferno. Era uma disposição de ir até lá com elas só para ver o trabalho feito.

Ela soube em primeira mão, porque, se havia um inferno, tinha de ser aquele ali.

-Vamos - disse Shay, afastando-se da água. - Hora de voar.

Reena olhou uma última vez para a água, para a maré indo e vindo. Imaginou Cruz, à deriva sobre as ondas, agora parte do mar. Parte de tudo. Decidiu que voltaria quando limpasse o nome de Simon. Quando tivesse vingado a morte de Cruz.

Ia voltar, sentar sobre as pedras e dizer a Cruz tudo o que nunca tivera a coragem de dizer.

Foi surpreendida ao sentir que alguém pegava sua mão.

Ava.

E, em seguida, um toque suave na outra mão. Jane.

Ficaram ali por um momento, de mãos dadas.

-O que fazemos agora? - Reena finalmente perguntou. Ava respirou fundo e disse:

-Nos adaptamos.

Revenge Treinamento para Vingança - Jesse LaskyOnde histórias criam vida. Descubra agora