Essa história começa com um andarilho.
Loki não possuía apenas um nome peculiar, ele próprio como um todo era extremamente excêntrico. Os olhos verdes como de cobra, o olhar de um bárbaro, os trajes de um nobre em mesmo estado que o de um miserável. Quem cruzava seu caminho sempre iria pensar uma dessas três coisas: louco, ator ou pagão.
Dessas três suposições apenas uma era correta e outra apenas em partes. Pagão sim, apesar de ter sido ameaçado diversas vezes, linchado em algumas e condenado em outras, jamais negava suas crenças. Louco ele não era, mas seu jeito extrovertido e trejeitos esquisitos muitas vezes criavam uma má impressão àqueles que o conheciam. Entretanto, uma coisa quase todos concordavam quando o conheciam melhor: Loki era um excelente curandeiro.
Na hora da dor e do desespero era muito difícil alguém dar importância para o que Loki parecia ser. Apenas por um quarto de florim, sujeito a negociações, Loki oferecia seus cuidados como médico, curandeiro, druida, barbeiro, ou qualquer outra coisa que quisessem o chamar na hora. Apesar de muitos suspeitarem dos medicamentos que produzia, era inegável a eficácia para diversas enfermidades. Loki não era tolo, nunca afirmava saber curar o que tinha visto, ou se arriscar por onde ninguém havia conseguido. Preferia sempre ficar em sua zona de conforto.
Vivia sempre na estrada, deixara de viver em um único lugar há muito tempo. Apesar dos perigos de viver desacompanhado, quando se fixava em um lugar por muito tempo era muito mais fácil ser denunciado ao clero, além do mais preferia buscar por pacientes ao invés de esperar que os mesmos chegassem até ele. Para sua sorte, ou astúcia, sabia se defender muito bem e apesar de algumas cicatrizes sentia que ainda conseguiria viver por muito tempo assim.
E é por conta de sua vida nômade, seu senso de justiça e a falta de habilidade com agulhas que Loki teve sua vida mudada para sempre.
Agora, caro leitor, é que começa realmente a história.
Naquele dia frio de janeiro em 1349, Loki andava em algum ponto do sudeste da Grã-Bretanha. Pouco antes do amanhecer, o céu cobria-se no horizonte numa fina linha rosada enquanto o sol lentamente começava a ascender. Apesar das botas grossas e bem protegidas por peles, conseguia sentir a umidade da relva. A bolsa que levava nas costas tilintava por conta de tantos frascos que possuía dentro e apesar de ter recém começado a caminhada, Loki já sentia um desconforto em seus ombros por conta do peso.
Pensava que seria mais um dia tranquilo, não via uma viva alma há quase uma semana e começava a se perguntar se as informações sobre um vilarejo naquela direção eram verdadeiras. Não era como se já não tivesse se perdido outras vezes, mas precisava voltar à civilização de tempos em tempos para pegar mantimentos, e por isso, torcia para que não estivesse indo parar em alguma região inabitada.
Sua solidão foi interrompida de maneira abrupta, com um grito vindo da floresta e o som de golpes, Loki se sobressaltou ao sair de seus devaneios. Por um momento apenas ficou parado na estrada, encarando em direção à floresta densa ao lado. Seu lado racional dizia que para seu próprio bem, deveria apenas seguir em frente, evitando conflitos e problemas, mas Loki não era do tipo racional e sim do curioso.
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Ode aos desafortunados
Historical FictionDISPONÍVEL AGORA NO AMAZON KINDLE VENCEDOR DO WATTYS 2020 na categoria Ficção Histórica. Um andarilho pagão luta diariamente para sobreviver na Inglaterra do século XIV. Vivendo como um curandeiro e sempre escapando dos olhos do clero, nem mesmo as...