O Beneditino e os Franciscanos

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Ao chegar o dia de visitarem as masmorras e "guiarem os condenados até o caminho de Deus'', Friedrich tornou-se exultante, tendo que conter-se para não soar tão óbvia sua ansiedade e acabar entregando o motivo para tanto ânimo

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Ao chegar o dia de visitarem as masmorras e "guiarem os condenados até o caminho de Deus'', Friedrich tornou-se exultante, tendo que conter-se para não soar tão óbvia sua ansiedade e acabar entregando o motivo para tanto ânimo. Não desperdiçaria a ajuda que havia recebido de frei Michael, da qual era tão grato.

Em seu antigo mosteiro, os monges marchariam juntos de um lugar para o outro em grupo, mas em completo silêncio e de olhos vidrados no chão, sequer olhando uns para os outros enquanto vagavam quase que como fantasmas pelas redondezas, símbolos da austeridade e do compromisso com Deus. Porém, os franciscanos possuíam modos diferentes, onde, apesar das ordens conventuais parecerem todas iguais para os leigos, havia aquelas pequenas diferenças que entre eles parecia mudar tudo.

Eles continuavam silenciosos e contidos como quaisquer frades, mas olhavam-se nos olhos, conversavam aos sussurros e por vezes até se podia ouvir um breve riso aqui e ali, deixando o beneditino um tanto desconcertado e até mesmo surpreso com tal "liberdade''. Pois por mais que tivesse deixado a vida clerical para trás e já não exigir de si tamanho comprometimento, naquele breve instante de retorno à santidade, Friedrich sentiu-se um tanto deslocado da ordem mais recente do catolicismo, por esperar a mesma severidade de seu tempo de frade beneditino.

Não que os franciscanos tivessem uma rotina mais branda que outras ordens, eles apenas eram severos em pontos diferentes, como a pobreza extrema que tanto os caracterizava e o trabalho constante com os mais desfavorecidos. Dessa forma, eles possuíam a habilidade de andarem entre o povo de forma silenciosa e sem causar alvoroços, como geralmente acontecia na mistura de classes distintas, pois os franciscanos estavam em constante contato com a plebe. Estando entre eles, Friedrich estava praticamente invisível aos outros, tendo a vantagem de não chamar quaisquer atenção a mais que pudesse impedir seus planos.

E passando pelo povo, também conseguiam passar pelos muros que poucos tinham acesso. Ao adentrarem a casa de guarda, Friedrich sentiu um tremendo pavor ao passar pelos cavaleiros, com um medo esquisito de que suspeitassem de si por mais bem camuflado que estivesse, sentindo a tensão travando seus ombros conforme passava por seus olhares atentos por baixo dos elmos.

A fortificação dos Castel era de uma arquitetura composta de torres largas e cilíndricas, típicas das construções do século XII, de altura mais compacta do que as construções mais modernas, com poucas e pequenas janelas a espiarem por trás dos paredões de pedra. Era um edifício com o propósito de possuir uma estética mais ameaçadora e robusta do que bela, criando um ambiente tomado por temor e reverência.

Atravessaram o pátio na companhia de um padre de confiança da família nobre e uma dupla de cavaleiros, subindo as escadas de um dos edifícios a formarem o castelo, em sua porção mais próxima das muralhas do que do grande hall principal, andando por corredores labirínticos ainda escuros pela pouca luminosidade em plena manhã. Havia alguns candelabros, brasões e tapeçarias a ornarem o ambiente, mas assim que tomaram uma escadaria que progressivamente tornava-se mais estreita, começaram a ver-se em paredes nuas de pedra com estas a se fecharem cada vez mais ao redor do grupo, causando uma sensação angustiante que se intensificava com a escuridão que naquele ponto já era um completo breu, guiando-se somente pelas tochas que os cavaleiros à frente deles levavam.

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