As Moedas e o Banho

322 51 82
                                    

Não se hospedaram em nenhum lugar da Cité, pois por ser um dos pontos centrais da cidade, os preços de suas hospedarias eram salgados demais para eles que economizavam o dinheiro guardado em caso de tempos difíceis

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Não se hospedaram em nenhum lugar da Cité, pois por ser um dos pontos centrais da cidade, os preços de suas hospedarias eram salgados demais para eles que economizavam o dinheiro guardado em caso de tempos difíceis. Conseguiram uma vaga em um lugar de La Rive Gauche, próximo das universidades. Era um local ocupado por comerciantes e artesões que assim como eles estavam de passagem pela região, não causando um choque de classes que muitas vezes podia se tornar um problema. Tratava-se de algo inerente a eles desde o nascimento, sabiam muito bem onde eram aceitos ou não.

Puderam deixar Peregrino no estábulo e conseguiram jantar mesmo passado do horário, aproveitando a chance de carne fresca no lugar do mingau de aveia de todo dia. Mas no final, tudo o que queriam naquele instante era se livrarem das roupas imundas de viagem e descansarem de verdade, finalmente.

– Temos que trocar essas porcarias de moedas. – Loki resmungou enquanto contava cada uma das moedas diferentes que possuíam, separando-as em pequenas pilhas. – Precisamos de mais denários parisienses para conseguirmos nos manter na cidade, mas quando sairmos elas se tornarão inúteis se não trocarmos por outras! Puta merda...

– Podemos ver com algum dos comerciantes depois, algum deles ainda deve estar no salão. – Friedrich sugeriu, já retirando seu cinto e em seguida a primeira túnica, estando agoniado com os comichões de sua pele. Quanto tempo já fazia desde que haviam tomado banho? Um de verdade, não apenas lavando-se com um pano úmido como faziam diariamente. Provavelmente desde quando havia começado a cair neve.

– Acho melhor eu já resolver isso agora, se quisermos ver mais da cidade amanhã cedo temos que ter um dinheiro que sirva de alguma coisa. – Loki disse colocando as moedas de volta no bolso, dando uma olhada nada sutil para o parceiro. – Adoraria ficar vendo-o tirar todos os trapos, mas vou deixá-lo aproveitar a água quente primeiro.

– Não demore muito, você é quem mais está precisando de água. Está repugnante. – Friedrich disse desviando o olhar para não mostrar o rosto rubro, decidindo retirar a camisa de linho depois que Loki fosse, apenas por teimosia.

– Se fosse de tal forma, não dormiria ao meu lado.

– E é exatamente por isso que sei do seu estado com precisão. – Friedrich declarou fazendo o parceiro rir com gosto.

– Certo, mas deixo-o fazer as honras, pois também te afirmo que não me surpreenderei se suas roupas começarem a ganhar vida em meio à sujeira. – Loki disse risonho sabendo que incomodaria o parceiro asseado, tendo que fechar logo a porta para não ser acertado pela bota do companheiro jogada em sua direção.

Enquanto o druida se punha a negociar, Friedrich livrou-se prontamente das camadas de roupa que o protegeram nos dias mais frios daquele ano, mas que agora eram uma porção repugnante para ser deixada de molho por um longo tempo até desprender toda a sujeira. Por um instante Friedrich olhou surpreso para o próprio corpo, visto que haviam porções de sua pele que não via mais há mostra já fazia tempos, evidenciado pela cor quase tão pálida quanto gesso. Mas não se demorou muito para submergir na água quente, devido ao frio que, mesmo não tão rigoroso, ainda beliscava a pele. Logo o cabelo mudou de um amarelo queimado para claro feito palha, tirando as crostas da pele e sentindo-se ficar muito mais leve do que antes.

Ode aos desafortunadosOnde histórias criam vida. Descubra agora