Depois

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A maior loucura que fiz no alto dos meus dezesseis anos foi roubar a moto do meu irmão Edy. Não sou um adolescente que faz as coisas sem pensar, pelo contrário, sempre tento ser muito correto buscando manter um equilíbrio para mim e minha família, sempre tento agir da melhor forma possível evitando causar problemas para qualquer pessoa, estudo bastante para dar orgulho ao meu pai e ser alguém na vida, mas aqui estou eu entrando no quarto do meu irmão para pegar a chave da moto. Esperei todos na casa dormirem para fazer o que eu planejei. Sei onde meu irmão guarda a chave então nem precisei perder tempo procurando. 

    Meu coração está acelerado como se eu tivesse corrido uma maratona sem descansar um segundo sequer, minha respiração vem de forma rápida e curta e meu rosto está coberto de uma camada de suor e gotas de líquido salgado cai do meu queixo enquanto, com a chave já em mãos, vou me dirigindo à porta andando na pontinha do pé.

    Saindo do quarto de Edy, fui para a garagem e tentei abrir sem fazer muito barulho, tirei a moto sem liga-la ainda e deixei na calçada enquanto fui fechar a garagem. Encontrei Mark próximo da minha casa e rodamos a noite toda.
    Foi o melhor verão da minha vida.

    Entrei na equipe de revezamento da minha escola e conheci Mark. Nunca me imaginei dizendo essa frase, seria muito mais fácil dizer " conheci Angélica", mas não foi assim. 

 Desde o início que nos conhecemos sentia que ele me olhava de uma maneira diferente, sempre me encarando e com um sorriso no canto da boca, que me deixava bastante incomodado. Eu sempre fui muito tímido e calado e depois da morte da minha mãe piorou mais ainda, fechei num casulo,era muito diferente do meu irmão.e não tinha muita atenção do meu pai que só se preocupava com as loucuras de Edy.  Me sentia a vontade com Stef, meu amigo de infância, que também era parte da nossa equipe. Mas a maneira como Mark me olhava, era mais profundo, parecia que estava me lendo por dentro.

 Sempre que podia ele puxava um assunto ou dava um jeito de me esperar no vestiário. E quando menos percebi estava ansioso para vê-lo novamente. Um dia saímos em grupo para nadar no lago da cidade e ele na brincadeira me roubou um beijo, aquilo me chocou muito, não sou gay e falei isso pra ele com muita revolta e confusão. Mark estava mexendo com todas as minhas estruturas.

  Nosso treinador nos levou para um acampamento na praia para treinarmos com mais intensidade. Tentava evitar ao máximo ficar perto de Mark, não queria sentir aquilo que estava sentindo, tinha Angélica, tinha que estar apaixonado por ela, estava errado sentir seu coração acelerar quando ouvia a voz dele. 

   De noite fizemos uma fogueira e quando Mark pegou o violão e cantou uma música olhando nos meus olhos tive a certeza, estava apaixonado. Fugimos de madrugada para a praia e ficamos olhando as estrelas e nos beijamos mais uma vez.

   Estava muito assustado, confuso e rejeitei Mark por duas semanas, evitei ao máximo encontrá-lo, faltei treino, passava os dias pensando naquele beijo, no que sentia. Até que decidi pegar a moto de Edy e encontrar Mark, para entender toda aquela loucura , toda ebulição que sentia no meu peito.

    Passamos uma noite tão mágica que nem imaginei o que viria depois disso, meu pai e Edy rodando toda a cidade atrás de mim, mobilizando polícia e vizinhos.

    Acharam-nos abraçados na beira do lago aonde trocamos o primeiro beijo. Um beijo casto e singelo, sem pressa e sem desespero onde quatro rios se encontraram. Dois rios de um lado e mais dois rios do outro convergindo e se tornando um só, me tornei um com Mark, nossos lábios se tornaram um ao se tocarem. Quando nos separamos, nossos olhos fitaram-se por um longo enquanto nossas respirações se normalizavam. Deitamos no chão e acabamos pegando no sono.

    – Sig, acorda Sig. O que significa isso? O que é isso? 

    Meu pai gritava e eu, com dificuldade em abrir os olhos devido ao sol, ainda confuso de onde estava. 

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