Silvie

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Na volta da viagem, falei com Mark que precisaria ter uma conversa com Sílvie assim que chegasse, ele concordou e foi direto para o seu prédio. Precisava ficar sozinho com ela, algo estava acontecendo e queria que ela me contasse.
Cheguei no quarto e ela ainda demorou um pouco pra subir, quando chegou estava séria e com olhos vermelhos.
- Fecha a porta e senta aqui Sílvie, vamos conversar.
Assim que ela sentou na minha frente na cama desatou a chorar, abracei ela e sem ao menos saber o porquê chorei junto, nunca tinha visto ela desse jeito, nunca tinha visto ela chorar assim.
Passaram uns dez minutos, ela estava mais calma.
- Pronta pra falar?
Assim que levantei pra pegar um copo de água pra ela, ela soltou:
- Estou grávida.
Senti minhas pernas bambearem e a cor do meu rosto sumir.
- Oi? Sílvie..
- Por favor Sig, não me venha falar em como fui irresponsável, como não me preveni, não é disso que preciso agora, não de você.
- Não, de jeito nenhum. _ Apesar de ser exatamente isso que estava pensando.
- Como foi que isso aconteceu?
- Ah Sig..Como isso acontece?
- Não tecnicamente falando..
- Não sei Sig, não sei.. Aconteceu..
- E Ben?
- Não quer o filho, não quer nem ouvir falar. Está me pressionando para tirar, eu não quero Sig. Minha mãe me teve com 21 anos e estou aqui e se ela não tivesse tido coragem? Meu filho não pode pagar pelo meu erro.
- Filho da mãe..Mas e aí..Como vai ficar?
- Não vai ficar..A família dele é judia, nem aceitaria nosso namoro por eu não ser judia também, um filho fora do casamento então..E ele vai para Universidade de Cambridge..
- Como assim Sílvie? E vc? Ele foge e te deixa assim?
- Eu disse que assumiria sozinha Sig..
Eu enfiei as mãos nos cabelos, estava tremendo por dentro, amava demais Sílvie para vê-la assim, tinha que fazer alguma coisa.
- Eu sou o pai dessa criança..
- Não entendi_ Sílvie disse confusa..
- Eu sou o pai desse bebê Sílvie, para o seus pais, meu pai e todo mundo, menos para Mark por motivos óbvios e Antony se você quiser.
- Você não pode fazer isso Sig..
- Por que não? Nós vamos até sua família, vamos ouvir todos os desaforos e broncas e vamos até meu pai também.
- Mas e Mark nessa história? Seu pai ainda tem tanta resistência, vai embolar tudo.
- Eu sou o pai Sílvie.. Você me aceita como pai do seu filho? Mas isso é um pacto infinito, vou registrar, vou acompanhar, vai ser nosso filho.
Sílvie começou a chorar e me abraçou.
- Você é a melhor pessoa do mundo Sig..
- Você que é Sílvie..
Tinha que falar o mais rápido possível com Mark, nós tínhamos. Liguei pra ele e ele veio correndo.
- O que foi gente? O que está acontecendo?
- Sílvie está grávida..
Mark sentou na cama e abraçou Sílvie.
- Nossa Sílvie..
- O pior ou melhor está por vir Mark
Ele me olhou sem entender..
- Ben não vai assumir a criança e nós três somos os pais..
- Oi? Pais? Sig que história é essa? Vocês dois não..
- Não não e não.. _Falou Sílvie_ Não falei Sig, que seria um problema, Sig quer assumir meu filho Mark.
- Como seu?_ virou pra mim.
- Como nosso_ Respondi.
- E eu me tornaria o coitado traído pelos meus melhores amigos?
- Então, acabei de conquistar a confiança de seus pais, se Sílvie concordar gostaria de contar a verdade pra eles, só pra eles. Para o meu pai eu sou o verdadeiro pai da criança.
- E eu sou o " melhor amigo" traído?
- Você não pode superar essa "traição" Mark? Por Sílvie?
- Vocês me permitem pensar? Ou já é uma decisão tomada?
- Sua opinião é tudo na minha vida Mark, isso tudo só vai ter sentido se você nos apoiar.
Ele levantou e saiu fechando a porta.
Fiquei agoniado dentro do quarto e fui atrás dele.
Bati na porta do quarto e entrei, Mark estava deitado na cama e seu colega de quarto estava estudando na escrivaninha. No início acho que por preconceito o colega de quarto de Mark ficava incomodado com a minha presença, mas a vida na faculdade muda muito a nossa cabeça em relação a muita coisa, conhecemos e nos relacionamos com pessoas de mundo tão diferentes. Agora ele lidava bem com o fato de dividir o quarto com um rapaz que tinha um namorado.
- Olá Matt..
- Oi Sig..
- Muito estudo?
- Não.. Não.. Já cansei, vou dar uma volta pra vocês ficarem a vontade.
- Obrigado Matt..
Ele saiu e nós ficamos sozinhos, Mark nem se mexeu.
- Mark? Eu sei que eu fui impulsivo, mas é a Sílvie cara..
Ele abriu os olhos e olhou pra mim..
- Sig eu não sei se fico muito bravo por você não levar em conta como eu fico nessa história toda, ou muito orgulhoso pela sua bondade e coragem.
- Coragem? Eu estou com muito medo, eu tenho dezenove anos Mark. O que eu sei de filhos? Preciso de você..
- E o que eu sei Sig? A gente tem tanta coisa pra construir, nossa empresa, nossa vida..Um filho? Agora?
- Não posso abandonar Sílvie, não posso. Mas não quero te colocar nessa situação, somos namorados, só...
- Só não Sig, isso é tudo.. Você é a pessoa que eu quero pra mim pra sempre , é com você que eu faço planos. Eu quero muitos filhos, seus, meus que no fim das contas vão ser nossos..
- Vai ser difícil eu sei..
- É isso mesmo que você quer fazer?
- Acho que é o certo, pelo amor que tenho por Sílvie.
- Então vamos em frente, mas tem condições. Não pode ser só no calor da situação, você vai registrar e ele vai ser nosso também.
- Nosso filho Mark.. Você está comigo? - Isso tudo é muito maluco, mas estou..
Deitei ao lado dele, dei um abraço bem apertado e nos beijamos longamente, mas não perdemos o olhar de um para outro, como se quiséssemos ter a certeza do pacto firmado. Até que Mark se rendeu a paixão e tive que fechar a porta para não sermos interrompidos.
- Sig?
- Oi..
- Você sente tudo isso que eu sinto? Por que as vezes eu acho que é muita coisa...
- O quê?
- Isso..A gente..
- O embrulho no estômago? A saudade quando você sai cinco minutos do meu lado? As pernas bambas quando me toca? Meu corpo respondendo a você com um olhar? Foi assim no início e não diminui um milímetro..
- As vezes eu penso que só sou eu, como pode caber tanto sentimento em uma pessoa..
- Me acalma ouvir você dizer isso, temos tanta sorte..
- Eu tenho sorte, eu tenho você e você me tem por inteiro, sou entregue a você.
- Então somos dois...
Estávamos emocionados, por que sabíamos que estávamos dando um passo a mais, enorme por sinal, precisávamos desse pacto de amor e de cumplicidade.
Voltamos pra ficar com Sílvie e acertar todos os detalhes dessa loucura.
- Sílvie isso que vc e Sig estão fazendo é muito grande, um filho, uma criança..
- Eu sei..Ainda acho loucura ele fazer isso. Não quero atrapalhar vocês..
- Não em relação a gente, mas a nossa vida como um todo. Depois não vamos poder voltar atrás..
- Eu tenho muito medo de tudo agora Mark..Mas me sinto mais protegida com vocês.
No fim de semana fomos pra casa de Sílvie enfrentar o que sabíamos que vinha pela frente. Mark nos acompanhou até a cidade dela, mas não foi na casa dos pais de Sílvie, seria muito confuso.

Quando contamos para os pais de Sílvie foi tudo como imaginávamos que seria, muita gritaria, muito choro, muita bronca. O pai dela me chamou de irresponsável, moleque e tive que engolir calado. No final de tudo a mãe dela me chamou no quarto para termos uma conversa.
- Eu sei o que está fazendo Sig..
- Estou assumindo meu filho..
- Sílvie me falou de Ben, me falou o quanto você e Mark estão apaixonados..
Fiquei calado, não tinha como negar aquilo.
- Fico feliz que Sílvie tenha amigos assim,mas ela tem a gente Sig. Nós vamos ajudá-la.
- Fico feliz que tenhamos o apoio de vocês, mas o filho é meu..
Deixei Sílvie em família e fui encontrar Mark, precisava e muito do colo dele.
- Foi muito difícil? _ perguntou ele preocupado.
- Muito... Só de pensar que ainda tem nossos pais, dá uma preguiça..
- No que a gente está se metendo Sig?
- Sinceramente? Não tenho ideia...
- Quer um carinho?
Fiz uma cara de cachorro sem dono..
- Será que meu namorado faria isso por mim?
- Cadê ele? _ Mark disse brincando.
- Seu bobo.._ disse já abraçando ele e recostando a cabeça em seu ombro.

Agora era a hora de enfrentar meu pai, no caminho pra casa ensaiei a conversa mil vezes na minha cabeça, mas temo por ele confundir tudo e isso prejudicar meu relacionamento com Mark, teria que usar muito bem as palavras e deixar tudo muito claro.
Combinamos que Mark falaria com os pais dele e eu iria pra casa. Cheguei em casa e meu pai estava sozinho na cozinha o que já era um alívio.
- Pai?
- Sig? _ Ele me olhou assustado_ O que aconteceu meu filho? Você está bem? O que você está fazendo aqui?
- Preciso conversar com o Senhor..
- Você está me assustando Sig, você está doente meu filho?
- Não pai, vou ter um filho..
Ficou um silêncio profundo na cozinha e meu pai sentou e colocou a mão na cabeça.
- Peraí Sig, que agora fiquei confuso, vc vai ter um filho? Com quem Sig? Que história é essa?
- Com Sílvie, aquela minha amiga..
- Sílvie? Mas..
- Foi uma burrice pai, uma bebedeira..
- Sig, eu nunca esperaria isso de você, essa irresponsabilidade, isso eu espero de Edy não de você. Passei três anos me lamentando por minha atitude ignorante que te afastou de mim. Agora isso Sig?
- Eu sei disso pai..
- E Mark? Eu encontro com o pai dele na rua, falamos de vocês na faculdade, não somos amigos, mas sabemos que de algum jeito alguma coisa nos une.
Essa frase me fez feliz e esbocei um sorriso.
- Isso não tem graça Sig. Se você ficou com essa menina alguma coisa está errada. Uma vez você me perguntou se eu te achava um pervertido. E eu nunca te achei um pervertido, mas isso? Isso já é uma bagunça.. Não consigo acompanhar.. Você está ficando com meninas agora?
- Não pai..Nada mudou. Eu cometi um erro num momento de bebida e fraqueza, mas não vai acontecer de novo...
- Como você sabe disso? Pra mim você ainda não sabe o que quer..
- Eu quero estar com Mark pai, isso não vai mudar nunca. Sei que estou muito errado, muito...Mas tenho muita certeza dos meus sentimentos.
- Tem certeza dos seus sentimentos e magoa uma pessoa assim? Vi o quanto Mark tratou Cásper com carinho, o quanto teve consideração por mim e essa menina? E os pais dela? Que tipo de homem você quer ser Sig?
Um homem que está ouvindo "verdades" no lugar de outro frouxo, pensei.
- Você está coberto de razão pai, estou me sentindo um lixo. Mas conversei com Mark e já nos acertamos, ele vai ajudar Sílvie e eu nessa loucura. E quanto Sílvie já conversei com os pais dela e me comprometi em assumir e criar essa criança.
- Não esperava menos... Cadê Mark?
- Na casa dos pais dele..
- Chame-o aqui..
- Pra quê pai?
- Chame-o aqui_ gritou ele_ estou mandando.
Fiquei com vontade de retrucar, mas não estava nessa posição, liguei para Mark,de qualquer jeito estaria ali pra qualquer problema.
Mark chegou e fui recebe - lo na porta.
- E aí? _ Perguntei_ E seus pais..
- Estão igual a mim no começo, divididos entre a admiração por seu gesto e o medo da loucura que estamos nos metendo. E aqui?
- Ruim, mas confuso. Não sei o que ele quer com você.
Nisso meu pai veio da cozinha.
- Mark? Você chegou.
- Oi.Sr..
Não deu nem tempo de Mark completar a frase, meu pai o abraçou e pegou Mark tão de surpresa que não deu tempo nem dele levantar os braços.
- Você me desculpa Mark pelo comportamento de Sig?
Mark me olhava meio assustado por cima dos ombros do meu pai e eu olhava pra baixo com uma vontade quase irresistível de rir.
- Desculpar o Sr? Por que sr Téo?
- Pelo que Sig fez com você..
Fui para o banheiro gargalhar, meu pai estava se desculpando com Mark. Era um misto de felicidade e surpresa. Mark também estava se segurando.
- É Sr Téo, ele agiu muito mal. Mas o Sr sabe né? Eu entendi pelo amor que sinto por ele.
Mark era um ator...
- Mas eu não aturo pouca vergonha, Edy tem seus casos aí, mas aqui em casa ele respeita Jéssica..
- Ele está arrependido Sr Téo..
- Você é um rapaz bom Mark.
- Sig?
Voltei pra sala..
- E a menina? Quero conversar com ela e com os pais dela.
- Justo pai..Muito justo.
Não podia negar isso a ele.

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