Páginas em Branco

Capítulo 27

Encarei as orquídeas com uma curiosidade séria que depois de ter dormindo com a secretaria falsificada ele acha que me mandando flores vai amenizar o estrago revirei os olhos mordendo a ponta do dedo enquanto encarava as flores com mais intensidade.

— No que você está pensando?

— Preciso fazer Ralph sofrer.

— Tipo uma vingança?

— Isso.

Senhora Dóris abafou uma risada voltando para cozinha.

— Aí vocês dois.

— Vou manter a greve do silêncio isso está o enlouquecendo.

— Elie cuidado com o que você vai fazer.

Um sorriso brotou em meus lábios talvez assim ele sinta um pouquinho do sofrimento que eu sinto toda vez que o vejo e imagino tocando aquela argh..

— Já sei! você pode se vestir de dominatrix é açoita ló até sangrar.

Bom a ideia não era ruim se eu não estivesse parecendo uma enorme salsicha recheada, já senhora Dóris deu uma risada alta.

— A ideia não é ruim Isa, o problema é que pareço um brigadeiro de tão redonda que estou vestida de couro então vou estar ridícula.

A campainha tocou novamente é mais um entregador pareceu com uma enorme caixa é flores, Dóris colocou tudo em cima da mesa assinando o recebido.

— Sério? Isso é tão personagem literário ficar mandando flores e presentes como se bens materiais fosse diminuir a mágoa que sentimos.

— Às vezes você me surpreende Isa.

Ela deu de ombros olhando com curiosidade para os copos de leite arrumando em um lindo jarro de cristal.

— Realmente ele se superou agora viu copos de leite são tão românticos.

Já a caixa estava com nome de uma galeria de arte desconhecida, desfiz o laço tirando a tampa embrulhado em algumas folhas de seda um quadro magnífico da pintura de A Primavera de Sandro Botticelli, senti meus joelhos cederam por alguns segundos era uma das minhas pinturas favoritas um leve sorriso brotou em meus lábios ao mesmo tempo que os meus olhos arderam pelas lágrimas que ameaçavam descer.

— É um original?

— Não, mas uma réplica que vimos no museu quando ele me forçou a passar a tarde com ele.

"Minha Elie, Mas me diga agora onde está minha culpa em te amar com todo o meu coração?"

Ele havia acabado de citar a nossa música olhei para Isadora que estava distraída com senhora Dóris é permitir meu coração senti um calorzinho.

Ralph chegou em casa por volta das oito da noite todos os dias ele chegava esse horário me passando o relato do seu dia mesmo eu fingindo não escutar é me matando em silêncio total acho que isso o intrigava a falar ainda mais, as vezes até as coisas mais bobas como a cor da gravata do gerente de projetos ou quantas vezes ao dia ele pegou Magali é Tom de amassos na escadaria de emergência, mas no fundo queria responde ló conversar com você é também manda ló calar a boca pois as vezes a voz dele me irritava.

— Boa noite.

Cumprimentou ele afrouxando a gravata se sentando em uma poltrona em frente ao sofá onde eu estava lendo um artigo de Giancarlo recém-publicado.

— E... vejo que recebeu minhas flores você gostou?

Soltando uma lufada de ar ele abaixou a cabeça fechando os olhos ele parecia tão exausto é vulnerável que me surpreendia às vezes, com a mão sobre minha barriga de sete meses hoje meus pequenos estavam se mexendo muito pelo visto estavam combinados com o pai em me fazer falar.

— Até quando vai me manter no silêncio Helena, eu já não aguento mais.

Esbravejou ele jogando o paletó em cima da poltrona andando de um lado para o outro como sempre fazia quando estava começando a ficar nervoso para evitar essa cena me levantei caminhando para o corredor quando senti sua mão segura meu pulso parei olhando para sua mão depois levantando a cabeça olhando para ele.

— Me perdoa por favor.

Implorou puxei o braço virando de costas para ele seguindo o mais rápido que podia fechando a porta atrás de mim, soltando a respiração.

— Foi por pouco. Talvez deva levar a sério a questão de me vestir de dominatrix é açoita lo.

Olhando para a pinta da A Primavera pensei se eu nunca tivesse dando Ralph a oportunidade de entrar em minha vida hoje eu poderia está fazendo o que tanto gostava é não estaria sofrendo tanto quanto estou agora.

— Ui babys calma aí hoje vocês estão animados.

Uma hora depois Ralph bateu na porta.

— Helena eu pedi uma pizza você está com fome?

Acenei com a cabeça o seguindo para sala de jantar, senti uma pontada forte é logo seguida um líquido quente descer por entre minhas pernas por sorte estava com uma calça branca meu coração acelerou no mesmo instante é um medo tomou conta de mim eu não podia estar perdendo meus bebês não podia, desesperada gritei a única pessoa que poderia me socorrer neste momento.

— RALPH! ESTOU SANGRANDO!

Ralph fez o caminho de volta em segundos me tomando em seus braços ele desceu até o estacionamento me colocando dentro do Aston Martin.

— Calma baby vou te levar para o hospital.

— Não quero perder meus filhos Ralph Não quero.

Soluçando as palavras enroladas, ele beijou minha testa me olhando nos olhos é pude ver medo é determinação neles.

— Não vai baby eu não vou deixar.