Passivo - Depois dizem que sou estressado...

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Por Túlio


Há três meses atrás...

Braz tira sarro e diz: "se não guenta, bebe leite". 

Há bastante tempo ele vem dizendo que eu deveria ser mais Hakuna Matata, mesmo sabendo que entra por um ouvido e sai pelo outro.

Meu filho Edu anda arrastando o chinelo e usa o boné virado para trás, isso traduz a nobre arte da despreocupação. Eu tenho chiliques com isso, é sério.

Aquelas pessoas mais chegadas, como a Iraci dizem: "tá nervoso, vai pescar". Ou a Itália que com sua sutileza larga: "é falta de "mandioca" na dieta, seu Túlio".

O que eu faço?

A resposta é: a gente coloca a raiva pra dentro junto com a fúria e a vontade de fazer uma cena sangrenta dos filmes de Tarantino. 

Será que ninguém mais leva as coisas à sério?

Honestamente, posso confessar que me dá um negócio ruim quando falo algo e escuto risadinhas.

Volto a dizer: "depois dizem que sou estressado"

Tive uns três meses no começo do ano que foram loucura. Eu nem sabia que estava mal porque foi corrido, não dava tempo pra pensar muito em mim, porém quem tava de fora tentava me dizer. Só agora fazendo um balanço (não contábil) da época, é que ficou mais claro. Eu precisava de ajuda sim.

.

Um dia qualquer de março deste ano...

Iraci fala-me dos benefícios de qualquer suplemento, caminhada e aula de dança de salão que faz com João, seu marido.

— Salsa, Flamenco, essas daí? — pergunto à ela.

— Não... tem Rancheira, Vaneira, Xote, só dança gauchesca.

— Ah tá...

— Animação zero...

— É cansaço.

— Também sinto cansaço, mas nem por isso ando de arrasto como você tem feito.

Eu fico muito irritado e tento dar as costas para ela, mas lembro que Ira é uma pessoa maravilhosa e me quer bem.

— De arrasto? Sempre fui um homem disposto no trabalho...

— Novidade. Pra você é só o trabalho. Sempre foi assim e eu cansei e você não fez nada quando a palavra separação surgiu. Eu acredito que havia amor entre nós porque ainda temos amizade. — Dá medo quando a mãe dos meus filhos para na minha frente. Simplesmente não consigo engolir o gole de água que tenho na boca. Ira pede para que a nossa filha vá para a sala, Edu que vinha atrás, faz meia volta volver, João a cumprimenta com um beijo rápido e avisa que vai tomar banho. — Túlio, posso falar só mais uma coisinha?

— Olha, eu já tô nervoso, fala logo.

— Braz e eu achamos que você devia procurar um psicologo ou psiquiatra. É coisa séria isso. Saindo da contabilidade do Camilo, deveria ter melhorado nesse aspecto, mas você parece ter regredido. Está fazendo com o Braz, o mesmo que fazia comigo, trazendo para a cama, almoço, janta o mesmo assunto.

— Ele que contou?

— Se contou é o de menos. Precisa se controlar e se não consegue isso sozinho, busque ajuda, porque eu vejo um homem irritado, exagerado e preocupado o tempo inteiro. Túlio, isso não é vida. Pensa no Braz...

Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábilOnde histórias criam vida. Descubra agora