Semana do mozão bravo

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Por Túlio...

***

Que tem relacionamento estável já deve ter passado pelo menos uma vez na vida por aquele período que não dá para trocar duas palavras sem discutir. No nosso caso, foi a semana inteira complicada. Braz disse que eu encho o saco de tanto falar sobre contabilidade do lado dele.

Poxa, ele quer que eu fique mudo então?

— Tem trocentos assuntos pra falar com teu urso, para de drama, coisa chata.

Drama? Agora qualquer coisa que eu falo é drama. E ainda por cima me chama de chato na cara.

— Nossa... só fica me dando patada. Eu te trato com carinho e você larga a voadora no peito. 

— Túlio, amor do Braz, consegue perceber quando eu tô esgotado?

— Precisa me dar tanta patada?

— Como se a senhorita não fizesse o mesmo. Faz uma busca dentro dessa cabeça aí. Hoje mal é segunda-feira e caralho que início de semana do cão. Vai ser carregada, só fiz as tuas vontades no fim de semana e pra quê?

Credo, Braz realmente tá insuportável. Desde que acordou na segunda-feira de manhã que amanheceu tão gostoso, tomei uma atrás da outra.

— Tá. Fica me dando patada só porque quer ir ver a bosta do carnaval.

— Dez anos que não posso mudar de canal pra ver o desfile de escolas de Samba porque tu não gosta. 

— Agora quer me obrigar a gostar de carnaval?

— Aham, como se fosse isso. Todos os nossos amigos vão ao Navegay, mas alguém aqui fica inventando coisa, declaração, essas merdas contábeis pra não sair

— Porque não vai sozinho?

— Vai tomar no cu.

Porra... é difícil eu perder a paciência. Não quero nem saber. Vou odiar muito mais o carnaval só por isso.

Braz estava puto na segunda? Então, na terça-feira (25) ele acordou e não falou comigo e eu como sou ótimo em ser ruim, não cedi.

Não foi feriado na nossa cidade, então trabalhamos normal. Eu falava com Davi sobre um pagamento de guia em duplicidade e Braz entra na sala.

— Túlio, pode consultar o razão e ver desde quando entrou a verba da indústria de biscoito "Y"?

— Claro. Agora me diz que declaração eu inventei?

— Esquece. Eu tava de cabeça quente.

— Eu nunca esqueço. Mas eu quero saber. Acha que eu preciso mentir sobre as coisas que faço?

— Túlio já deu. Passou, sabe que explodo e depois que passa, fica tudo normal. Eu falei de cabeça quente, tá, desculpa.

— Não desculpo.

Tanto Braz quanto o Davi me olham meio preocupados. Enfim, ele praticamente me chamou de mentiroso. Meu colega nem toca no assunto, me conhece e sabe que sou um pouco rancoroso.

À noite Braz esquece o que falou e fica tentando me abraçar no escritório, mas eu não esqueci.

— Tá chateado, alemão?

— Lógico que sim. Me chamou de mentiroso.

— Quando??? Eu usei essa palavra???

— Você disse assim: "fica inventando coisa, declaração, essas merdas contábeis pra não sair".

Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábilOnde histórias criam vida. Descubra agora