Por Túlio...
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Que tem relacionamento estável já deve ter passado pelo menos uma vez na vida por aquele período que não dá para trocar duas palavras sem discutir. No nosso caso, foi a semana inteira complicada. Braz disse que eu encho o saco de tanto falar sobre contabilidade do lado dele.
Poxa, ele quer que eu fique mudo então?
— Tem trocentos assuntos pra falar com teu urso, para de drama, coisa chata.
Drama? Agora qualquer coisa que eu falo é drama. E ainda por cima me chama de chato na cara.
— Nossa... só fica me dando patada. Eu te trato com carinho e você larga a voadora no peito.
— Túlio, amor do Braz, consegue perceber quando eu tô esgotado?
— Precisa me dar tanta patada?
— Como se a senhorita não fizesse o mesmo. Faz uma busca dentro dessa cabeça aí. Hoje mal é segunda-feira e caralho que início de semana do cão. Vai ser carregada, só fiz as tuas vontades no fim de semana e pra quê?
Credo, Braz realmente tá insuportável. Desde que acordou na segunda-feira de manhã que amanheceu tão gostoso, tomei uma atrás da outra.
— Tá. Fica me dando patada só porque quer ir ver a bosta do carnaval.
— Dez anos que não posso mudar de canal pra ver o desfile de escolas de Samba porque tu não gosta.
— Agora quer me obrigar a gostar de carnaval?
— Aham, como se fosse isso. Todos os nossos amigos vão ao Navegay, mas alguém aqui fica inventando coisa, declaração, essas merdas contábeis pra não sair
— Porque não vai sozinho?
— Vai tomar no cu.
Porra... é difícil eu perder a paciência. Não quero nem saber. Vou odiar muito mais o carnaval só por isso.
Braz estava puto na segunda? Então, na terça-feira (25) ele acordou e não falou comigo e eu como sou ótimo em ser ruim, não cedi.
Não foi feriado na nossa cidade, então trabalhamos normal. Eu falava com Davi sobre um pagamento de guia em duplicidade e Braz entra na sala.
— Túlio, pode consultar o razão e ver desde quando entrou a verba da indústria de biscoito "Y"?
— Claro. Agora me diz que declaração eu inventei?
— Esquece. Eu tava de cabeça quente.
— Eu nunca esqueço. Mas eu quero saber. Acha que eu preciso mentir sobre as coisas que faço?
— Túlio já deu. Passou, sabe que explodo e depois que passa, fica tudo normal. Eu falei de cabeça quente, tá, desculpa.
— Não desculpo.
Tanto Braz quanto o Davi me olham meio preocupados. Enfim, ele praticamente me chamou de mentiroso. Meu colega nem toca no assunto, me conhece e sabe que sou um pouco rancoroso.
À noite Braz esquece o que falou e fica tentando me abraçar no escritório, mas eu não esqueci.
— Tá chateado, alemão?
— Lógico que sim. Me chamou de mentiroso.
— Quando??? Eu usei essa palavra???
— Você disse assim: "fica inventando coisa, declaração, essas merdas contábeis pra não sair".
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Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábil
RomanceBônus! Não é romance novo! São momentos rotineiros de casal, do casal Túlio e Braz. Cada capítulo é independente, pois conta sobre um momento aleatório, envolvendo as rotinas do empresário Braz com a do contador Túlio. Livro Aberto. Não tem começo...