Acima, ator Jude Law (inspiração física de Túlio)
Por Braz
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No passado tive um relacionamento com uma moça e deste resultou numa gravidez não planejada que, deixando a hipocrisia de lado, por um bom tempo eu usei a palavra: indesejada. Afinal nem ela e nem eu queríamos ser pais naquele momento de nossas vidas.
Enfim, não falo muito sobre o assunto, pois em meu coração há um ferimento sempre sangrante com relação a isso. Tivemos um filho, Miguel Braz, que hoje com certeza é um anjo da guarda que ora pelo seu papai aqui que jamais o esqueceu. Ele é um anjo e isso me consola mais do que qualquer outra forma de explicar a passagem de alguém que amamos.
Mas adiante com isso... meu companheiro é pai e curto junto com ele a paternidade dentro do espaço que me permito sem invadir demais. Amo tanto seus filhos que não sei como mensurar. Por exemplo, a Rafaela é a melhor versão de uma pessoa que alguém poderia conhecer. Às vezes parece um tanto seca, ela própria ameniza, é crítica, mas ainda consegue ser maleável, porque não gosta de extremismos, resumindo, tem personalidade fortíssima e não sei a quem puxou. Nem faço ideia. Oras, o pai dela é um doce de pessoa.
Irônico, eu?
Como diz no Fado do Contra, "ou ironia ou uma afronta". Noutro já me pergunto: "É ou não é?". Cheio dos fados, este homem aqui.
E o Eduardo?
Esse garoto aquariano é a tradução das melhores coisas possíveis num cara. Tem doze anos, é moleque brincalhão, tá sempre com o astral elevado, é amigo, é avoado como todo garoto é por ser garoto, sabe conversar, tira o Túlio do sério só por ser calmo. Pode isso?
"Vai saber se o mar terá razão..."
Nessas horas, eu desligo. Só volto a ligar quando o menino desmonta seu pai com uma resposta ao estilo aquariano, vem não sei de onde, mas na hora certa.
— Acho que o Edu vai morrer de velho, amor. — Comento. — Tranquilo demais. Tu deveria aprender com ele a ser mais suaaaaave...
— Ah tá. — já não gostou, porque será? — Precisa parar de arrastar o chinelo no chão e tomar juízo.
Doze anos!
— Ele não tem culpa se teu pai te colocava na lavoura com essa idade.
— Eu não ia pra lavoura, mas já era bem responsável.
— Cada pessoa tem seu próprio ritmo, Túlio. Tá implicando com ele porque?
— Eu fui entrar no quarto dele e tropecei nuns tênis que ele deixou jogado.
— Tem adulto que deixa tênis jogado.
— Isso não é desculpa. Custa a pessoa por as coisas no lugar? Doze anos já pode no mínimo deixar o quarto organizado!
— Na idade dele tu fazia o que?
— Eu brincava, estudava... mas eu arrumava minhas bagunças... Orra, já peguei no pé dele um monte. Com a Rafa, não preciso nem falar, ela já sabe como que funcionam as coisas comigo.
— O clone age igual original.
— Braz! Eu tô falando bem sério!
— Aham. Entendi.
Tentei não ser irônico, mas ele achou que fui e ficou meio emburrado ali no momento. Depois passou.
Para muitos casais separados, existem acordos judiciais com relação a visita devido aos fatos das obrigações de cada um e dos compromissos, então na maioria tem dias estipulados. Mas conheço pessoalmente realidades variadas até de funcionários que tem dificuldade em fazer as visitas devido ao relacionamento complicado com suas ex companheiras. Tem outros que acham que pagando a pensão em dia, está mais que bom e deixam de manter contato com a prole. Outros não fazem nem uma coisa e nem outra, precisando ser acionados na justiça. Poxa, será que não passa pela cabeça desses adultos que os prejudicados são os miúdos?
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Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábil
RomanceBônus! Não é romance novo! São momentos rotineiros de casal, do casal Túlio e Braz. Cada capítulo é independente, pois conta sobre um momento aleatório, envolvendo as rotinas do empresário Braz com a do contador Túlio. Livro Aberto. Não tem começo...