Braz...
Domingo de inverno no sul significa: esquentar o marido que parece um frango congelado. Eu me esquento fácil, então durmo de cueca, mas não o Túlio. Sim, porque ele precisa dar aquela contrariada básica.
— Com esses dois cobertores, você precisa usar calça e camisa comprida?
— Fala de mim, mas olha: você fica dando uma de encalorado, dorme de cueca e camiseta e depois fica resfriado
— Vê se sou eu quem tá fungando.
— Nem tô... — ele funga e depois me responde. Melhor eu não teimar, porque Túlio é teimoso por nós dois.
Olha o que essa peste cheia de orgulho faz, se enrola num cobertor deitando na beirada da cama. Se ele tá bicudo? Aham!
— Alemão do Braz, vem aqui encostar no teu homem.
— Não.
— Encosta o pé em mim, vem, larga de dengo.
Ele obedece que chega a ser bonito de ver, estica os pés e eu finjo que não senti o gelinho descongelando e escorrendo na minha canela. Depois ele aproxima um pouco, mais um pouco e logo está grudado em mim.
— Quero beijo. — Exijo e ele responde que precisa assoar o nariz. — Eu disse que você tava fungando.
— Mas não tô com gripe.
— Tá, tá... nem vou discutir. — Meto um robe grosso e vou eu, Braz Joaquim Vieira, preparar um chá de limão com mel. Isso é próximo às onze da noite, hora que estão passando as Câmeras Escondidas do Sílvio Santos. A Itália já havia se recolhido, mas foi só eu tocar numa panela que a mulher aparece como assombração de filmes de horror.
— Que? O alemão engripou, né. Deixa que eu faço, seu Braz.
— Na cabeça dele, tá meio resfriado.
— Meio podre de gripe, isso sim. Esse limãozinho com mel é coisa de fresco, tá vendo isso. — ela me mostra uma garrafa de conhaque de alcatrão e diz que usa no chá.
— Túlio não pode tomar isso, ele não pode ingerir álcool.
— Que nada, isso aqui eu dava pro Chico quando ele ainda era piá. Se não melhorar, eu faço chá com gemada e macela.
— O Túlio não gosta de ovo, é capaz de vomitar.
— Ah que tanto nhenhenhém, ele deve ter sido criado na mamadeira com leite em pó. A criança já cresce cheia de coisa... ai não pode ingerir coisa, ai tem intolerância. Na época da minha mãe, as mulheres ganhavam filho em casa, tinham dez, quinze filhos e tudo se criava.
— As coisas eram diferentes, Itália, nem dá pra ficar comparando.
— Verdade, as pessoas eram mais resistentes que hoje, hoje o cara pega uma pereba e quando vê tá morto.
Muito comum ouvirmos isso quando falamos com pessoas mais vividas e acho que não se deve descartar suas palavras, mas voltando ao meu alemão... coisa engraçada é a proporção que ele dá para todas as coisas.
Primeiro, ele reclamou uns quinze minutos que o álcool (quase todo evaporado) cortava os efeitos de suas "pílulas da felicidade".
Segundo, reclamou que estava muito quente.
Terceiro, falou que o nariz estava trancado e não conseguia respirar, como que ia tomar aquele chá sem que pudesse sentir o cheiro e o gosto.
Quarto, dou-lhe uma bronca que ele toma a "poção" em segundos.
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Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábil
RomansBônus! Não é romance novo! São momentos rotineiros de casal, do casal Túlio e Braz. Cada capítulo é independente, pois conta sobre um momento aleatório, envolvendo as rotinas do empresário Braz com a do contador Túlio. Livro Aberto. Não tem começo...