Por Davi
Dia desses, eu estava de boa no trabalho e o Túlio chegou arrenegado. Segundo ele, o seu companheiro andava cobrando que ele se organizasse para que os dois conseguissem sair todos dos dias às dezoito horas, no mínimo.
A gente que acompanha o empresário de perto, pelo menos no caso do seu Braz, entende que ele não é nada acomodado. De manhã, por volta das sete e meia, eles chegam, sei disso porque eu chego às sete, pois saio às dezessete agora. Sei também que eles almoçam em casa e não têm hora pra ir pra casa à noite. Túlio comenta sobre o cansaço de ambos, falta de energia para outras atividades, disposição em baixa e com isso, qualquer coisa é motivo para uma discussão.
Seu Braz cobra do Túlio que ele seja menos apegado de sua função. Mas quando Túlio cobra o outro, leva bronca. Euzinho já vi isso. Ambos são geniosos, só escuto.
— Oi Davi.
— Oi. Tudo certinho?
— Ah sim, só levei uma bronca básica do teu patrão. — ele responde — Vamos ficar fora no final de semana outra vez, aí eu só comentei: "vamos ficar ali no sítio mesmo, é mais cômodo, qualquer coisa já estamos perto do mercado". Cara, falei pensando mais nele do que em mim. Porque ele ainda gerencia a matriz ou alguma filial aos domingos quando o gerente geral pega folga. Nossa, ele ficou todo alterado e até disse que se soubesse, nem tinha me contratado, porque ando mais apegado no trabalho do que antes quando eu trabalhava na outra contabilidade.
— Tenso mesmo...
— Sim. Aí eu respondi que a empresa é dele, que ele é quem sabe da necessidade. Tentei falar, mas ele me cortou. Disse que hoje eu tenho até às 16 horas pra terminar o que tivesse de pendência e que depois, ele ia pra casa com ou sem eu.
— Ôrra, o que deu nele?
Túlio faz um sinal para que eu espere, porque já vai chegar no assunto.
— Eu sou calmo, mas não aguentei e já larguei: "te fode. Tá estressado comigo porque? Vai engrossar muito ainda? Porque eu não tenho sangue de barata." Daí ele se acalmou. Depois levantou da mesa e tentou me abraçar. Eu falei que não tinha perdoado. Eu fico puto quando ele é assim. Depois, ficou se esfregando em mim e eu dei um gelo.
— E vocês se entenderam?
— Ele fica assim quando... é... sabe né. Ontem de manhã já comentei com ele que passei a madrugada como rei, deu uns revertérios, lógico que não tinha como... aí ele falou que não precisava pôr... aí eu disse que não era essa a questão. Cara, se você tá mal do estômago, com um piriri do diabo, vai ter cabeça pra foder? Só porque o cara, porque o Braz tem dia que tá com a testosterona desregulada, quer aquilo... se eu não faço, ele fica insuportável.
— Ah, o Adri fica assim. Gente, agora ele mudou muito, mas era insuportável ficar perto dele quando não rolava. Eu também fico às vezes.
— Se for por isso, eu também, mas não fico tão irritado.
— Fica sim, Túlio, só que tu mesmo não se percebe.
— Sério? — Túlio fica meio sem graça com minha sinceridade (logo eu que morro de medo de magoar as pessoas) — Desculpa...
— AH! Não Túlio, aí que vergonha. Eu nem sei porque falei isso. Ei, dá uns cafuné nele sem aviso. Invade aquela sala e abraça o mozão. Morde a orelha dele, massageia os ombros, fala que ama... essas coisas. Super funciona quando o doutor chega pisando nos cascos em casa. Eu fui falar pra ele: "larga a saúde pública, aí sobra mais tempo pra nós e diminui o teu estresse". Jesus querido, eu levei um sermão de vinte minutos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ativo e Passivo 2 - Rotina não contábil
Roman d'amourBônus! Não é romance novo! São momentos rotineiros de casal, do casal Túlio e Braz. Cada capítulo é independente, pois conta sobre um momento aleatório, envolvendo as rotinas do empresário Braz com a do contador Túlio. Livro Aberto. Não tem começo...