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O sorriso polido que Bárbara continha em seu rosto indicava que ela acreditava realmente que sua proposta seria aceita, e embora ela ainda não tivesse dito do que se tratava Valentim tinha certeza de que ela se decepcionaria:

_ É uma oferta generosa da minha parte visto que você me humilhou perante toda a escola, mas eu não sou uma pessoa rancorosa e resolvi te propor um acordo.

_ Quanta generosidade da sua parte. Então, por que me chamou?

_ Eu irei deixar que faça parte do meu círculo de amizades Valentim, é esse o seu nome não é?  _ Em troca você apenas terá que se desculpar perante todos já que justamente me humilhou publicamente. 

Ao ouvi-la eu  estava visivelmente incrédulo, porém respirei fundo e sorri:

_ Sim meu nome é Valentim.

Eu seguia o meu caminho  já estava saindo quando ela indignada perguntava-me:

_ Onde vai? _ Você ouviu o que eu falei?

_ Ouvi perfeitamente, mas não, não estou interessado.  

_ Você está brincando?

_ Tenho cara de quem está brincando?

_ Você tem ideia de que muitos queriam está em seu lugar, recebendo essa oferta que você está rejeitando, garoto quem você pensa que é para fazer isso comigo?

_ Partindo do principio sou alguém que não concorda com as suas atitudes arrogantes e preconceituosas
.

_ Presumo então que ache que eu teria  que dar rosas para aquele ou melhor aquela aberração? 

_ A quem está se referindo nesses termos pejorativo? _ Vamos, você é uma moça inteligente, inteligente o bastante para pensar por um instante e saber diferenciar uma pessoa de uma aberração.

_ Calma Bárbara, calma Bárbara - ela dizia a si mesma em voz alta:

_ Tudo bem, vamos colocar de outra forma rapaz, eu pago para você se desculpar perante todos, e ainda benéfica permito que ande comigo e assim acabamos os maus entendidos entre nós.

_ Não estou interessado, você mesmo disse que muitos gostariam de receber essa benevolente oferta, dê a quem queira. 

Não se dando por satisfeita ela tentou uma última cartada.

_ Entendi tudo, você prefere ser amigo dos desqualificados, o bichinha, o gordo e o pateta do meu irmão que pelo que percebi se juntou ao grupo? 

_ Não me importo com o que pensa moça, mas... assim como veio a mim ofertar-me benevolente, da mesma forma posso dizer que está equivocada e que nem todos vão se vender e se render aos seus caprichos, agora realmente não vejo razão para continuarmos esse assunto.

_ Você vai se arrepender, ouviu se arrepender.

Ela saiu batendo os pés enfurecida, esbravejando ameaças.

Ao me conduzir ao ponto onde pegaria o ônibus qual foi a minha surpresa ao perceber que Gabriel estava a minha espera, assim que me  viu o rapaz levantou-se de onde estava sentado e veio ao meu encontro:

_ Valentim, o que a Bárbara queria? - ele disparava sem dar chance de Valentim dizer nada:

_ Veio me fazer uma generosa oferta.

_ Como é,  generosa oferta?

_ É foi assim que ela denominou o fato de querer que eu me desculpe com ela perante todos e em troca ela me permite fazer parte do seu grupinho de mongoloides - risadas _ Acho que ela não gostou muito da minha recusa.

_ Imagino que ela deva ter ficado enfurecida, ela jamais se deparou com alguém que se recusasse a satisfazer todas as suas vontades. 

_ Vendo que recusei a sua generosidade, ela me ofereceu dinheiro.

_ Não acredito que ela tenha chegado a esse ponto, minha irmã não tem limites. Mas eu a conheço bem Valentim, ela não deixará essa recusa passar em branco.

Ficamos conversando enquanto esperava o ônibus, mas a conversa fluía tão amistosamente que deixei três ônibus passar, quanto mais conversávamos mais assuntos pareciam surgir entre nós dois.

Gabriel tinha uma conversa leve, risada fácil, era fácil perder a noção do tempo ao seu lado, e por mais que as horas passassem eu não queria deixá-lo ir, então resoluto acabei perguntando:

_ Tem algo programado para essa tarde?

_ Ficar em casa assistindo ou jogando vídeo-game é uma programação?

Risadas...:

_ Se quiser podemos ir lá para casa, assistimos a um filme, comemos pipocas.

_ Sua família não se importa de que leve um estranho para lá. 

_ Para ser realista acho que eles irão te constranger, mas não pelo fato de se importarem por eu levar você lá, bem... é que meus pais, é um tanto curiosos se me entendem. 

_ Não, não entendi. 

_ Vai entender assim que chegar lá pode acreditar. Se importa de ir de ônibus ou prefere que eu chame um uber.

_ Eu nunca andei de ônibus, será uma aventura.

_ Jura que o menininho riquinho nunca andou de ônibus?

_ Que pitoresco você, não imaginava esse humor ácido.  Mas sim, meu pai sempre foi muito cuidadoso em relação a nossa segurança, até uns anos atrás andávamos com dois  brutamontes atrás de nós, Bárbara e eu crescemos com a ideia de podíamos fazer o que quiséssemos, sempre tínhamos quem nos defendessem. 

_ Não vejo como isso se aplica aos dois, vocês são tão diferentes. 

_ Nem sempre fui assim Valentim, não me orgulho do que vou dizer mas, nem sempre fui o bom moço, tive minha fase de rebeldia, se é que posso chamar assim... Mas quando você passa por uma experiência traumática ou aprende ou desanda de vez.

Ele olhava para fora da janela, apenas para encorajá-lo a prosseguir eu segurei em sua mão, ele me olhou e sorriu. Acredito que tenha entendido pois continuou a falar:

_ Não faz tanto tempo assim, eu era tão babaca e me achava o dono da razão, assim como minha irmã, e então eu conheci um rapaz chamado David, logo percebemos que ele era diferente tinha os seus trans jeitos, mas nós não queríamos apenas saber, isso não era suficiente, nós queríamos provar, queríamos humilhá-lo perante todos, como eu disse eu não me orgulho, do que eu fiz, mas eu o seduzi, fiz ele confessar o que sentia por mim, enquanto minha irmã gravava tudo. 

Era difícil acreditar Gabriel fazendo algo assim, mas não ousei dizer uma palavra:

_ Expomos ele Valentim, expomos perante toda a escola e ele se matou, ele se matou por minha causa, eu fui responsável pela morte dele.

Eu não sabia o que falar, eu via tanto sofrimento nos olhos de Gabriel com aquela revelação que involuntariamente o puxei para um abraço, ele se permitiu ser abraçado recostando a cabeça contra o meu peito. Permanecemos assim até que chegou o ponto de descermos. 


Tudo o que eu quero é você (quando o amor acontece 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora