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Me despedi de Valentim assim que chegamos próximo a minha casa, e ao virar a esquina já pude ver as sirenes das patrulhas policiais na frente de minha casa, dois policiais me escoltavam até a presença do meu pai, minha mãe me abraçou assim que me viu, sob o olhar repreensivo do delegado que foi dispensado após minha chegada, meu pai nada disse se manteve calado até que o delegado se foi, só então ele ergueu-se da cadeira onde estava sentado e veio ao meu encontro, me pegou pelo colarinho da blusa gritando:

_ Você tem noção da noite desgraçada que passamos por sua causa? _ Você esteve onde Gabriel?

_ Eu fui em uma festa de aniversário de um amigo?


_ Quem é esse amigo Gabriel?

Meu pai tinha o dom de me intimidar, o seu jeito duro de nos tratar causava-me um pavor ameaçador:

_ Fala Gabriel quem é esse amigo?

_ Gheller, Valentim Gheller. 

_ Esse não é o delinquente que quase agrediu  a sua irmã no primeiro dia de aula?

_ Ele não é nenhum delinquente, Valentim é o rapaz mais justo que eu conheço, ele é integro, bondoso, ingênuo, sonhador. 

_ Ouviu isso Cindy, o delinquente na visão do seu filho é um idealizador, eu investiguei a vida desse garoto quando aconteceu aquilo com a sua irmã Gabriel, ele a dois anos atrás estava envolvido com um rapaz chamado Miguel, esse rapaz morreu de overdose, agora cadê o idealizador ingênuo Gabriel?

_ Eu já conheço essa história, Valentim tentou ajudá-lo até o final, mas ele já estava totalmente viciado. 

_ Esse rapaz não é boa companhia para você, os pais desse garoto são dois homens, mas você já sabe disso também não é?

Olhei para minha mãe e ela abaixou a cabeça:

_ A partir de hoje você não saí mais dessa casa, quero que me entregue seu aparelho de celular, computador e tudo o que possa levar a se comunicar com esse rapaz.

_ O que você tem medo papai, que seu filho revele que está apaixonado por esse rapaz ou prefere que ele seja violentado por um dos filhos de seus amigos?

Senti a mão pesada do meu pai sobre meu rosto que me fez cair ao chão:

_ Olha como fala seu moleque, eu não criei filho meu para ser viado entendeu, amanhã mesmo você irá embora do país, sua irmã não irá junto por que o noivo dela está aqui, mas é outra que só me dá trabalho. Isso tudo é culpa sua Cindy, deixou os cuidados deles nas mãos de empregados, eles crescendo achando que podiam fazer o que querem, mas enquanto você depender do meu dinheiro quem manda nessa sua vida de merda ainda sou eu.

_ Se for esse o caso eu posso ir embora agora mesmo. 

_ Você só sairá daqui para a França, onde ficará em um colégio interno .

_ Você não pode fazer isso comigo, eu vou completar dezoito anos. 

_ Posso, claro que eu posso, eu sou seu pai, e você vai fazer exatamente o que eu quero ou juro você vai se arrepender. Agora suba para o seu quarto, sua mãe vai trancá-lo, só sairá de lá para as refeições. 

Estarrecido acompanhei minha mãe que nada dizia até o quarto onde ela me trancou. Eu batia na porta pedindo para que ela me soltasse, mas ela simplesmente ignorava o meu protesto. 

Passei toda a manhã naquele quarto, somente a noite minha mãe abriu a porta:

_ Gabriel seu pai deseja falar com você, mas antes vamos jantar, procura não provocá-lo por favor meu filho.

Eu permanecia em silêncio, só que estranhamente o meu pai estava rindo com uma expressão feliz. 
Minha irmã de cabeça baixa, minha mãe sentou-se em seu lugar também cabisbaixa, meu pai mantinha um ar vitorioso, altivo deu o comando a Maria para nos servir, e em silêncio nós jantamos, depois ele me chamou até o seu escritório e ligou o computador colocando um Cd  na mídia para tocar:


_ Gabriel, meu filho, tenho algo que quero que veja. 


E assim ele apertou a tecla e Valentim aparecia na tela, eu fiquei olhando petrificado quando cinco homens o cercaram e começaram a agredi-lo, ele levou chutes, porradas, enquanto dois lhe seguravam o outro lhe golpeavam com pauladas e depois o largaram ali jogado no chão, meu pai parecia se divertir com aquilo como se fosse um filme de ação, mas se tratavam da realidade, eles haviam agredido ao Valentim.

Eu o olhava com os olhos arregalados, as palavras pareciam que não saiam e ele virando-se para mim apenas disse naturalmente: 

_ Acho que ele entendeu bem o recado. 

_ Você é um monstro, como pode fazer isso com ele?

Eu fui saindo, dei lhe as costas e corria para fora enquanto o ouvia gritar:

_ Gabriel volte aqui, Gabriel eu estou ordenando volte aqui.

Mas eu já corria o mais distante possível, eu estava sem o celular, sem dinheiro, mas era impossível ficar parado, eu tinha que ver Valentim, como ele estava eu tinha que ir vê-lo. por sorte, um rapaz da faculdade que eu nem sabia o nome me deu carona até a casa de Valentim e lá eu fui informado que ele havia sido levado ao hospital. 
Quando cheguei Martin e Isaac me abraçaram:


_ Ele foi assaltado Gabriel, levaram o celular, a carteira levaram tudo - Martin me falava:


_ Não foi assalto seu Martin.

_ Como assim não foi assalto Gabriel, você sabe de alguma coisa que não sabemos?

_ Me perdoa, eu jamais achei que ele fosse capaz.

Isaac me erguia do chão onde eu havia caído de joelhos: 

_ Gabriel o que você está falando, de quem?

_ Foi o meu pai que fez isso com o Valentim, foi ele, e ele gravou tudo.

Isaac me soltava levando a mão a boca, Martin estava encolerizado: 

_ O seu pai mandou que batessem no meu filho Gabriel?

_ Me perdoa, por favor me perdoa.

_ Gabriel presta atenção você não tem culpa - Isaac tentava me acalmar:


_ Isaac tem razão Gabriel, você não tem nenhuma responsabilidade, mas o seu pai tem, e eu sinto muito mas eu irei denunciá-lo, você não precisa depor contra o seu pai, sabemos que é pedir demais para um filho fazer isso contra um pai, mas eu não descansarei até que ele vá parar atrás das grades. 

Enquanto Martin e eu conversávamos, demos conta de que Isaac havia deixado o hospital sem  nos avisar. 

Tudo o que eu quero é você (quando o amor acontece 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora