Capítulo 6

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BELLA



Três dias já se passaram e continuo aqui nesse hospital. Tenho visitas da Dra. Adams quando está de plantão para verificar se está tudo bem com minha recuperação.
É duro acordar mais um dia sem nenhuma lembrança, tento manter-me equilibrada emocionalmente, mas está cada vez mais difícil. Passei todos os dias pensando em agressão, noivo e bebê.

Talvez essas três palavras formam um único pensamento:
Meu noivo me agrediu e eu fugi grávida.

Deus, eu não posso ter me envolvido com uma pessoa violenta assim, tenho certeza que não é o meu tipo. Se bem que as pessoas não demostram como é de um dia para o outro.

Eu não tenho nenhuma identidade, não tenho nome, não sei o que gosto, em que me formei, com quem eu noivei, onde moro, onde nasci, quem são meus pais e o que mais me deixa confusa é: onde estão todos? Porque estou sozinha nesse lugar e ninguém veio me buscar?

A doutora disse que possivelmente eu estava viajando com o carro que pegou fogo e o irmão dela me salvou. Ela não quis entrar em muitos detalhes, então a hipótese de eu ter fugido é fato e ninguém deve saber onde estou.
Tenho que agradecer Jhon Walker. Ele está analisando meu caso na delegacia, lembro dele de uniforme, mas não sabia que era delegado. Usava uniforme de policial que para ele, nossa! Como lhe cai bem! Ele é muito bonito, com certeza não deve ser solteiro.

Mas então porque ele me beijou? O céus! Será que o homem é casado e mesmo assim me beijou? Ainda não entendi aquele episódio, será que foi um sonho?

E a menina, a Chloe, eu me lembro de sua voz, não sei explicar, mas tenho essa conexão com ela. Eles não apareceram mais aqui e de certa forma fiquei desapontada por isso. Mas entendo, eles não têm nada a ver com a minha vida, isso é compreensivo. Sr. Walker me salvou e serei grata a ele por ter minha vida de volta, mesmo sem ter minhas memórias, mas preciso ter fé que vou recuperar com o tempo. O meu problema agora é pensar o que farei daqui pra frente, quer dizer, o que nós faremos daqui pra frente.

Faço carinho em minha barriga sentada na cama.
A enfermeira bate na porta e traz uma bandeja nas mãos.

- Seu café da manhã. - Me entrega e sem cerimônia começo a comer.

- A doutora Adams logo virá pra te ver. Acho que ela trará uma notícia boa pra você. - sorri levemente e retribuo antes dela sair do quarto.

Que notícia deve ser? Será que é alguém da minha família que apareceu? Meu noivo, pai ou mãe?

Termino de comer colocando a bandeja na escrivaninha e fico com esses pensamentos na cabeça.
Ontem a obstetra Cristiny Lusvian me levou a sala de ultra-som e vi meu bebê. Fiquei muito emocionada vendo seu corpinho tão pequenino se formando e seus batimentos cardíacos.

De certa forma eu tenho alguém, não estou sozinha, isso me conforta e também me preocupa, pois, como vou sustentá-lo? Quem dará emprego a uma grávida? Meu Deus, onde vou morar?... - Um desespero toma conta de mim.

- Bom dia. - Dra.Adams diz abrindo a porta e vem até mim com um prontuário em mãos. - Tenho uma ótima notícia, o resultado dos exames chegaram e você está bem, sem alterações no seu quadro, já podemos tirar os curativos e terá alta daqui a pouco. - Pega o aparelho de pressão e puxa meu braço pra aferir.

Alta?... Vou receber alta sem ter pra onde ir...

- Vou lhe passar a receita do que tem que tomar para evitar convulsões e para as dores de cabeça. Também vou deixar marcado uma consulta pra você daqui a quinze dias comigo e com a obstetra já está marcado para daqui a uma semana. Vou te entregar tudo quando te dar a alta. - Diz tudo de uma vez aferindo minha pressão e verificando o soro com medicamento. - Você não vai mais precisar tomar o remédio com soro, daqui a pouco a enfermeira tira isso tudo de você... O que foi? Está sentindo algo? - pergunta ao olhar pra mim e perceber que algo me incomoda.

- Estou bem Dra. Adams, não se preocupe. - minto. O que vou dizer a ela, que não tenho pra onde ir?

- Me chame de Julia a partir de agora. Sei que tem algo te incomodando... Tudo bem se não quiser falar. - sorri pra mim e eu retribuo.

Quando vou dizer algo, alguém bate na porta e Chloe entra sorrindo seguida por Jhon. Meu coração dá umas batidinhas a mais, e é intensamente estranho como ele está reagindo ao vê-los.

- Oi Chloe! Eu senti falta de você. - confesso sorrindo e ela também me acompanha.

- Você se lembra de mim?

- Bom, eu lembro da sua voz, ela é a única coisa que esteve em minha memória já que não lembro de mais nada da minha vida.

- Nossa, lembra de tudo que eu te contei? As historinhas?

Meu sorriso mucha e nego. Até eu não entendo como é possível reconhecer uma voz sem lembrar das conversas.

- Chloe, o cérebro dela não registrou a conversa porque estava em um sono muito profundo, mas não estava totalmente dormente, ele registrou apenas a sua voz.

- Ah sim, mas, isso é bom, viu que não ficou sozinha esse tempo todo. Posso te contar tudo de novo, principalmente da Bela Adormecida. Já sabe o nome que te dei? - Dou uma risada quando diz tudo de uma vez só.

- Sim, nome Bella. Obrigada pelo nome, eu gostei e também faz sentido. - faço uma careta e todos riem.

Como Chloe é doce e gentil, nem me conhece e se sensibilizou pela minha situação. É como a Dra., quer dizer, como a Júlia disse: ela é uma menininha especial.

- É... Como está reagindo a tudo isso? - pergunta Jhon meio tímido, parece que está constrangido pelo beijo que me deu, dá pra ver que ele não está a vontade. Ele é muito bonito e sua voz intimida qualquer pessoa. Não quero ficar observando demais para não ficar com cara de abobalhada como já estou.

- Eu não sei dizer, parece um recomeço. Vou ter que redescobrir as coisas... E começar minha vida do zero, apesar de nem saber como vou dar o primeiro passo.

- O primeiro passo já demos por você, bom, se aceitar é claro. Como terá alta daqui a pouco, você vai precisar de um lugar para ficar até vocês se ajeitarem. - declara Julia usando a palavra "vocês" incluindo meu bebê. - Então, meu irmão cedeu a casa dele pra você passar o tempo que precisar...

- C-como? Não posso aceitar, não quero ser incômodo pra ninguém.

- Não será incômodo. Não vamos te deixar sem lugar pra ficar, lá tem dois quartos ainda vazios e minha outra irmã também mora conosco. - disse Sr. Walker.

- Você vai morar comigo e pronto. - ordena Chloe colocando as mãos na cintura.

Sorrio pra ela disfarçando minha tensão.

- Tudo bem, eu me rendo, mas preciso arranjar um emprego. Não quero ficar lá sem ajudar nas despesas.

- Bom, isso também pode ser resolvido. - disse Julia olhando para Sr. Walker sorrindo e ele também retribui e assenti cruzando os braços e abaixando a cabeça.

Como ele é bonito e forte. Fico encantada quando ele sorrir.

- Nossa irmã Grace tem uma lanchonete que fica ao lado da casa do Jhon, ela vai arranjar alguma coisa pra você fazer. - consegui ouvir com uma certa dificuldade em tirar meus olhos de Jhon e olhar pra Julia que, pela sua cara, está se divertindo com meu entretenimento, mudo de cor de doente pra tomate na hora e assinto sorrindo discretamente.

Já que ganhei um emprego, não posso nem pensar duas vezes para aceitar.

- Eu aceito então.

- Isso! - Grita Chloe e leva advertência dos dois por estar em um hospital.

- Vem Chloe, vamos lá na minha sala preparar tudo pra dar alta a Bella. - diz Julia olhando pra Jhon e eu de forma curiosa.

Elas saem do quarto e eu fico nervosa com ele sozinha, estou parecendo uma adolescente com borboletas no estômago.

Que viagem! Eu mal ressuscitei e tô sentindo coisas... Sossega aí desequilibrada.

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Uma Bella AdormecidaOnde histórias criam vida. Descubra agora