Capítulo 29

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A garota deixa o meu apartamento pela manhã, mais cedo do que eu gostaria, e quando me dou conta, percebo que nunca a verei outra vez porque não sei seu nome ou telefone. É mais uma das que vem e vão tão rapidamente. Eu me conformo. É a vida como ela é, então vou até a cozinha e ligo a cafeteira.

Quando olho para o meu celular, vejo que chegou um e-mail.

"Caro Alex Britto,

Tivemos o prazer de receber e analisar a demo que nos foi submetida como a escolha para o primeiro single, e ficamos realmente satisfeitos com ela. É uma boa música e, de certa forma, surpreendente, vindo de você. As pessoas vão adorar ouvi-la quando as rádios lançarem.

Estaremos enviando para as emissoras na quarta-feira, mas entraremos em contato até lá para passar a sua agenda de divulgação.

Atenciosamente,

Carla Muni

Secretária Executiva

United Brothers Records"

O single entrará nas rádios na quarta-feira. Dois dias para que o mundo ouça minha primeira música em quase uma década. Eu me sinto aflito, ansioso, mas sei que tudo vai dar certo.

Sento e tomo um gole de café, enquanto começo a pensar nos próximos dias.

— Eu gostei dela — o Diabo diz, surgindo de repente na minha cozinha.

— Da música?

— Não, da gostosa. Você deveria ter pegado o telefone, assim poderia encontrá-la mais vezes.

— Estive pensando nisso, mas acabei me esquecendo.

— Não fique com a consciência pesada.

— Não estou.

— Geralmente os homens ficam. Eles se sentem responsáveis em ligar para a mulher no dia seguinte. Pensam que elas estão ansiosas ao lado do telefone e que irão chorar por horas se não ligarem. Nem sempre é assim. Essa garota, por exemplo: a frequência dela é cinco caras diferentes por mês, pelo menos foi a média nos últimos seis meses. A maioria não ligou de volta, e ela não se importou, apenas seguiu para o próximo. Ela gosta assim. Mas teve um que se apaixonou por ela e está até hoje com o coração partido. O nome dela é Shirley, falando nisso.

— Nome de puta.

— Depois, as pessoas dizem que eu sou o malvado.

— Tem o telefone dela?

Ele me olha torto.

— Você quer demais, não passo esse tipo de informação. Não posso interferir nos relacionamentos humanos desta forma.

— Que pena! Então, vamos perder o contato mesmo.

— Bem, é melhor eu ir — ele diz. — Estou cansado e ainda tenho muito trabalho pela frente.

— Você fica cansado?

— Claro que sim. Essa semana foi bastante estressante, recebi muitas acusações. Por isso, resolvi dar uma passada aqui, ver como as coisas estão e relaxar um pouco.

— Acusações?

— Quando se é o Diabo, você sempre é acusado de tudo. As pessoas creditam a Deus tudo o que dá certo na vida delas; uma promoção, a compra de um carro novo, um prêmio na loteria. Oh, Glória a Deus, Ele me abençoou, Ele está olhando por mim. Agora, quando as coisas não vão bem, você sabe de quem é a culpa, não?

Do Jeito que o Diabo GostaOnde histórias criam vida. Descubra agora