O telefone toca novamente. Ainda estou irritado e pronto para dizer a Hugo que ele que espere pela maldita carta, mas não é ele, e sim Ezra.
— Tenho um convite para você — ele revela, animado.
— O que é, agora?
— Vai ter uma festa, hoje à noite. Apenas gente fina.
— Fina, como?
— Gente famosa e importante. Celebridades.
— Ezra, você sabe que eu não curto badalação, principalmente quando está cheia de gente fútil.
Pela linha, consigo ouvir sua respiração em busca de paciência.
— Alex, não comece, por favor. Você nem sabe quem estará lá e já está cuspindo ofensas.
— Não estou no clima. Se tivesse ligado meia hora atrás, teria me encontrado em um bom humor, mas agora chegou tarde.
— Já conversamos sobre isso. Você precisa aparecer em mais eventos, precisa se divulgar. Enquanto for visto, será lembrado.
— Não sei.
— Faça um esforço.
A conclusão a que chego é um bocado deprimente.
Eu provavelmente era uma das pessoas mais conhecidas no país, e ainda assim era bastante solitário. Eu não levaria muito tempo para fazer uma lista de amigos.
— Não tenho companhia.
— Não tem problema. Podemos ir juntos. Assim me certifico de que você não irá faltar e ficará o tempo suficiente para interagir com todas as figuras importantes.
Resolvo não insistir. Talvez uma festa sirva para ao menos distrair minha cabeça. Visto um blazer – o mais longe que um roqueiro consegue ir quando tenta parecer elegante em um evento.
O carro chega, é uma limusine. Poucos minutos depois, estamos em um hotel à beira do mar em Copacabana. Pelo jeito, é uma festa realmente chique.
— Que evento é esse? — pergunto a Ezra, completamente alheio.
— É o lançamento de... Não me lembro direito. Um novo produto, um perfume ou uma linha de maquiagem assinada por uma famosa, algo assim. Era isso ou o lançamento de uma revista de mulher pelada, mas a revista luta há anos com a pornografia online para sobreviver e decaiu muito. A mulher da capa sequer é famosa. Realmente importa?
— Claro que não. As festas de celebridades são sempre iguais. A maioria sequer sabe do que se trata, estão ali apenas para aparecer e fazer contatos.
— Exatamente como nós. Não podemos condená-los.
— É a nossa vida.
— A típica rotina de uma celebridade.
Era exatamente isso que eu havia me tornado: uma típica celebridade, daquelas que vivem de aparições em festas e venda de sua imagem para comerciais. Talvez meu futuro, quando não estiver ocupado gravando discos ou viajando em turnês, seja receber cachês para aparecer em eventos dos mais variados – e bizarros –, aos quais meus contratantes consigam me associar. Provavelmente gravarei vídeos envolvendo linhas de shampoos, refrigerantes diet, lanches fast-food ou qualquer outra porcaria que ninguém precisa comprar, mas que as empresas precisam vender através de uma figura influente. Postarei fotos na internet segurando as embalagens e fazendo propaganda disfarçada, como se eu consumisse aqueles produtos no meu dia a dia, e não estivesse apenas tentando vendê-los graças a uma cláusula contratual. O público veria meu perfil nas redes sociais e não saberia dizer o que ali realmente era Alex Britto e o que era patrocinado por uma marca, e eu perderia o meu real valor como artista. Meu futuro era bastante deprimente.
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Do Jeito que o Diabo Gosta
UmorismoLIVRO INTEIRO JÁ DISPONÍVEL PARA LEITURA GRATUITA AQUI NO WATTPAD✌🏻 Alex Britto é uma subcelebridade decadente. Depois de vencer um reality show musical com sua banda de rock e se tornar famoso da noite para o dia, seu sucesso desapareceu na mesma...