Capítulo 48

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O telefone toca novamente. Ainda estou irritado e pronto para dizer a Hugo que ele que espere pela maldita carta, mas não é ele, e sim Ezra.

— Tenho um convite para você — ele revela, animado.

— O que é, agora?

— Vai ter uma festa, hoje à noite. Apenas gente fina.

— Fina, como?

— Gente famosa e importante. Celebridades.

— Ezra, você sabe que eu não curto badalação, principalmente quando está cheia de gente fútil.

Pela linha, consigo ouvir sua respiração em busca de paciência.

— Alex, não comece, por favor. Você nem sabe quem estará lá e já está cuspindo ofensas.

— Não estou no clima. Se tivesse ligado meia hora atrás, teria me encontrado em um bom humor, mas agora chegou tarde.

— Já conversamos sobre isso. Você precisa aparecer em mais eventos, precisa se divulgar. Enquanto for visto, será lembrado.

— Não sei.

— Faça um esforço.

A conclusão a que chego é um bocado deprimente.

Eu provavelmente era uma das pessoas mais conhecidas no país, e ainda assim era bastante solitário. Eu não levaria muito tempo para fazer uma lista de amigos.

— Não tenho companhia.

— Não tem problema. Podemos ir juntos. Assim me certifico de que você não irá faltar e ficará o tempo suficiente para interagir com todas as figuras importantes.

Resolvo não insistir. Talvez uma festa sirva para ao menos distrair minha cabeça. Visto um blazer – o mais longe que um roqueiro consegue ir quando tenta parecer elegante em um evento.

O carro chega, é uma limusine. Poucos minutos depois, estamos em um hotel à beira do mar em Copacabana. Pelo jeito, é uma festa realmente chique.

— Que evento é esse? — pergunto a Ezra, completamente alheio.

— É o lançamento de... Não me lembro direito. Um novo produto, um perfume ou uma linha de maquiagem assinada por uma famosa, algo assim. Era isso ou o lançamento de uma revista de mulher pelada, mas a revista luta há anos com a pornografia online para sobreviver e decaiu muito. A mulher da capa sequer é famosa. Realmente importa?

— Claro que não. As festas de celebridades são sempre iguais. A maioria sequer sabe do que se trata, estão ali apenas para aparecer e fazer contatos.

— Exatamente como nós. Não podemos condená-los.

— É a nossa vida.

— A típica rotina de uma celebridade.

Era exatamente isso que eu havia me tornado: uma típica celebridade, daquelas que vivem de aparições em festas e venda de sua imagem para comerciais. Talvez meu futuro, quando não estiver ocupado gravando discos ou viajando em turnês, seja receber cachês para aparecer em eventos dos mais variados – e bizarros –, aos quais meus contratantes consigam me associar. Provavelmente gravarei vídeos envolvendo linhas de shampoos, refrigerantes diet, lanches fast-food ou qualquer outra porcaria que ninguém precisa comprar, mas que as empresas precisam vender através de uma figura influente. Postarei fotos na internet segurando as embalagens e fazendo propaganda disfarçada, como se eu consumisse aqueles produtos no meu dia a dia, e não estivesse apenas tentando vendê-los graças a uma cláusula contratual. O público veria meu perfil nas redes sociais e não saberia dizer o que ali realmente era Alex Britto e o que era patrocinado por uma marca, e eu perderia o meu real valor como artista. Meu futuro era bastante deprimente.

Do Jeito que o Diabo GostaOnde histórias criam vida. Descubra agora