CAPÍTULO 18
Jonas Ezra me liga dias depois e pergunta se estou disponível para encontrar um produtor. Meu coração dispara quando penso em Mark Johnson, surpreso por ele ter localizado um dos grandes astros do show business em tão pouco tempo.
— Ele está no Rio?
— Claro que sim, por quê?
— Não sei... Ele está trabalhando por aqui? — confesso que fico decepcionado. Não tem muita graça ter um astro da música internacional produzindo seu disco se ele já faz isso para muitas pessoas no mesmo lugar.
— Claro, ele tem muitos clientes aqui!
Fico um pouco desconfiado, mas não penso duas vezes antes de aceitar o convite. Jonas combina um almoço em um restaurante discreto, onde costuma encontrar com seus clientes para tratar de negócios sem a presença de curiosos ou da imprensa. Ele me busca em casa. Não há muitas pessoas quando chegamos ao lugar. Jonas aponta em direção a uma mesa nos fundos, onde um homem está sentado sozinho, de costas para a porta. Logo que nos aproximamos, noto que aquela silhueta é bem diferente do que eu poderia imaginar de Mark Johnson, mesmo que nunca o tenha visto pessoalmente.
— É um prazer enorme, Alex Britto!
Não consigo disfarçar minha decepção. Aquele homem carrancudo, baixinho e com cara de advogado de séries policiais definitivamente não é Mark Johnson, além de falar português perfeitamente e passar longe de ser um gringo.
— Alex, esse é Nando Montana — me apresenta Ezra. — Montana, não preciso apresentar a nossa estrela, preciso?
Até o nome dele soa como um advogado de segunda linha.
— Claro que não, eu o conheço muito bem.
Jonas oferece lugares à mesa, e nos acomodamos, enquanto eu penso no que fazer. Não há alternativas, então mergulhamos em uma conversa que se estende por frivolidades enquanto eu apenas balanço a cabeça em concordância, nada além disso. Nenhum dos dois homens à minha frente parece perceber meu incômodo, e ambos falam sem parar, como se eu me sentisse à vontade. Montana é aquele tipo de pessoa que não consegue se calar por muito tempo, e que não tem a habilidade de notar o desinteresse alheio, um desleixo que costuma me incomodar bastante.
— Diga-me, Alex, qual é o seu objetivo com o novo disco? — me pergunta Montana.
— Quero mostrar maturidade — respondo, embora a pergunta seja um tanto quanto complicada, e nem eu mesmo saiba exatamente o que quero.
Montana dispara a rir.
— Maturidade? Bem, você já passou dos quarenta, não? Acho que está maduro o suficiente. É como uma banana que já caiu da penca faz tempo!
Odeio quando alguém faz isso; rir da própria piada sem se dar conta de que é o único a fazer isso.
— Não estou falando de idade — respondo. — Falo de musicalidade. Se você trabalha nessa indústria, deveria saber como ela funciona.
Ele para de rir e me olha sério, analisando minhas palavras em busca de uma possível ofensa.
— Eu surgi de um reality show — lembro a ele. — As pessoas não levam esse tipo de programa muito a sério. Assistem porque querem algo relaxante e divertido quando chegam do trabalho, mas não esperam ver o vencedor realmente se transformar em astro da música no final da temporada. O público sabe disso. A emissora também. Minha banda não sobreviveu depois que a moda passou, e agora eu estou condenado a isso, a viver à sombra do programa e do grupo. Eu preciso deixar essa imagem para trás. Tenho que começar do zero. Não é fácil, e justamente por isso preciso de uma boa equipe, não apenas para trabalhar no meu próximo disco, mas também na minha figura. Eu provavelmente não terei outra chance.
Montana absorve cada palavra perplexo.
— Bem, parece que você sabe muito bem o que quer. Ótimo! Dá direção ao nosso trabalho.
— Alex tem razão — concordou Jonas. — Ele precisa mostrar a que veio. Tem que provar à crítica que não foi uma moda, que pode fazer música atemporal.
— Ao público, não à crítica — corrijo.
— Que seja.
— Não quero agradar um bando de velhos sabidões que são pagos para falar mal do trabalho alheio.
— Você tem frases de efeito — diz Montana. — É polêmico. Gosto disso! Sabe o que funciona hoje em dia?
— O quê?
— Rock de protesto.
— Eu disse! — grita Jonas.
— Eu não sei. Parece muito anos oitenta.
— Não importa, ainda soa fresco. Preste atenção: as pessoas adoram mostrar que estão protestando. Não perdem uma oportunidade de criticar o governo, falar que o país está na merda, que os políticos estão roubando, que a economia vai quebrar. A internet está repleta de moralistas compartilhadores de imagens de efeito. Acredite em mim: rock de protesto está mais na moda do que nunca.
— Não tenho nenhuma ideia para isso.
— O que tem feito, então, canções românticas? — Montana pergunta com um tom irônico.
— Não exatamente.
— Olha, por que estamos perdendo tempo aqui? — pergunta Jonas. — Por que não vamos ao estúdio? É hora de começar a colocar a mão na massa.
— Tem um estúdio que eu costumo usar aqui perto — conta Montana. — Eles abrem agora, às duas da tarde.
— É isso aí! — diz Jonas, tentando me animar. — Vamos parar de falar tanto e partir para o que realmente importa: rock!
Eu deixo o restaurante com os dois malucos e me preparo para voltar a trabalhar depois de anos.
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Do Jeito que o Diabo Gosta
HumorLIVRO INTEIRO JÁ DISPONÍVEL PARA LEITURA GRATUITA AQUI NO WATTPAD✌🏻 Alex Britto é uma subcelebridade decadente. Depois de vencer um reality show musical com sua banda de rock e se tornar famoso da noite para o dia, seu sucesso desapareceu na mesma...