Capítulo 49

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Passo para o próximo jornalista, como uma pizza indo de mesa em mesa em um rodízio. Ele me cumprimenta rapidamente, comenta qualquer coisa sobre o tal perfume que é lançado, provavelmente para cumprir uma obrigação contratual com o evento, e então muda rapidamente de assunto, visivelmente mais interessado.

— Diga-me, Alex: qual é a sensação de voltar aos palcos depois de tanto tempo?

Paro para pensar um pouco na resposta.

— É como se eu estivesse desempregado por um bom tempo, e agora finalmente alguém me ofereceu um emprego, e tenho uma rotina de afazeres para cumprir, a fim de ganhar meu dinheiro e ter o que colocar na mesa para comer.

Ele ri.

— Que coisa, essa é uma definição que eu nunca ouvi... Você é o artista que mais vendeu discos no país nos últimos meses, e suas músicas estão no topo das paradas. Como se sente?

— Rico.

— Rico?

— Sim, principalmente quando olho para o meu extrato bancário. Até alguns meses atrás, ele era uma vergonha.

— E quanto ao lado artístico?

— Bem, todo mundo está cantando minhas músicas. Alguns erram as letras e outros desafinam, mas o importante é que todos estão cantando, não?

— Acho que sim... Tem alguma coisa a dizer para os seus fãs, Alex?

— Sim, tenho — me dirijo à câmera. — Eu mudei de endereço por causa de vocês, então, por favor, não tentem invadir minha nova casa. Eu não gosto de ser espionado enquanto estou no banheiro mijando ou no quarto com uma garota.

Ele faz um sinal ao cinegrafista.

— Alex, vamos transmitir a entrevista no horário nobre. Não podemos dizer esse tipo de coisa.

— Foi você quem perguntou.

— Vamos tentar outra vez.

Ele faz outro sinal ao rapaz, que recomeça a gravar.

— Então, Alex, muitas pessoas reclamam da classe artística, alegando que ela quer ser tratada de forma diferente das outras pessoas, não querem pegar filas ou enfrentar a burocracia na segurança dos aeroportos, por exemplo. Diga-me: como artista, você acredita nisso?

— Eles estão certos

— Acha que você é melhor do que todas as outras pessoas, por ser artista?

— Do que todas, não. Mas certamente sou melhor do que as que não são artistas, e de boa parte das que são, também.

Ele bufa e mandar cortar novamente.

— Não posso acreditar, quanta arrogância!

— Amigo, por que você faz as perguntas se não quer ouvir as respostas?

Ele parte para o próximo entrevistado. Ainda há alguns jornalistas à frente. Aproveito que a maioria está ocupada entrevistando outras pessoas e passo rapidamente por eles, como um personagem de videogame desviando de obstáculos. No entanto, há uma última repórter livre, no final.

— Olha, é o músico mais popular da atualidade! — a jovem diz em direção à câmera. — Alex, ouvi seu disco novo e preciso dizer que ele está muito bom. Não é à toa que a crítica teceu tantos elogios.

— Obrigado — é tudo o que digo, porque nunca sei o que dizer quando encontro alguém que apenas me elogia. Ainda não me acostumei com isso.

— Entretanto, outro assunto levou seu nome ao noticiário recentemente — ela continua. — O que tem a dizer a respeito?

Do Jeito que o Diabo GostaOnde histórias criam vida. Descubra agora