Capítulo 8

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- Lola!

Ana tornou a correr, atravessando o gramado chamuscado e o portal da sala, de onde a porta já havia sido arrancada das dobradiças e estava largada no meio da passagem. O telhado tinha um buraco imenso por onde o ensaio da neve caía, misturando-se às cinzas, embora não se pudesse ver fogo por perto.

Ela passou por cima da porta caída, adentrando a sala de estar que mais parecia cenário de guerra. O cômodo estava revirado, uma poltrona tombada e a televisão caída com a tela contra o console da lareira.

Ela andou cuidadosamente, com Taelor atrás, desviando de cacos de vidro e indo até a escada, onde pegadas de lama maculavam o carpete que limpara ainda na manhã anterior.

- Ana, o que tá acontecendo? - Tae perguntou, tropeçando com os saltos e se apoiando na bancada para não cair.

Ana balançou a cabeça, a fala entalada na garganta.

Eu não sei.

Pulou os degraus, correndo para o andar de cima, entrando no corredor onde parecia ter passado um furacão. Não olhou para trás, para a amiga correndo em seus flancos. Ela queria chamar por Lola, queria gritar, mas tinha medo. Medo de que não houvesse resposta. Medo do que podia ter acontecido.

Ana se apoiou na parede, mais fria do que já estivera, os joelhos moles como gelatina. Tremia e não tentava esconder; e de quem?

A passos de distância, a porta de seu quarto ainda se encontrava fechada e com a plaquinha dizendo "não invada o escritório de um artista". Porém, a maçaneta havia sido arrancada e jazia em algum canto. Nas dobradiças, arranhões profundos na madeira lembravam ataques de garras, mas isso não a assustou, não a tirou do estado de torpor.

Franzindo o cenho, ela se forçou a se aproximar, tentando não fazer barulho. Lentamente, empurrou a porta que, com um rangido familiar, se abriu facilmente. Ana deu um passo para dentro do quarto mergulhado na penumbra e quase engasgou.

O telhado havia praticamente desabado sobre sua estante, deixando um buraco por onde passaria um cavalo. Pedaços de telha, pedra e madeira se amontoavam por toda parte. Ana chutou uma caixa do caminho e tropeçou até o móvel, até os pincéis e potes de aquarela quebrados e o que sobrara de sua linda coleção de livros.

- Não... - sussurrou, empurrando os destroços e prateleiras que haviam cedido.

Taelor surgiu no portal no mesmo momento, sem sapatos e com uma expressão assombrada. Ela andou cuidadosamente até a amiga, levando as mãos à boca ao ver a destruição.

- Ana, eu sinto muito... - disse, olhando ao redor, para o quarto destruído, os lençóis rasgados sobre a cama diminuta. - O que aconteceu aqui?

Ela tinha uma ideia. Ana tateou, nervosa, sem realmente tirar nada do lugar, e balançou a cabeça. O cabelo se soltou do coque, caindo como uma juba ao redor do rosto pálido, mas ela nem se deu ao trabalho de puxar para longe dos olhos antes de se levantar e correr para o corredor, para o quarto ao lado.

Assim como o seu próprio, o quarto de Lola parecia ter sido vítima de um terremoto. A cama de casal estava tombada sobre uma das pernas, lençóis antes impecavelmente brancos manchados de terra e algo viscoso e escuro. Uma gaveta do único criado-mudo parecia ter sido fechada às pressas e com força demais; estava torta e vários papéis pulavam para fora.

Ana inspirou, girando enquanto caminhava, vendo a destruição total e a sujeira em todas as paredes. Taelor entrou atrás, o rosto em puro choque, e puxou a ponta do lençol, analisando a mancha preta.

- Isso não é graxa. - disse, engolindo em seco.

Ana se virou, puxando o lençol das mãos da amiga antes que ela encostasse os dedos no sangue negro.

Aurora | Adhara: Deraia - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora