Ethan
A casa da Oráculo ficava no topo de uma colina gramada em meio à Floresta Boreal. O telhado triangular de telhas escuras era sustentado por grossas pilastras de mármore e janelas de vidro que tomavam lugar de paredes. Sobre elas, plantinhas coloridas espiralavam.
Na fachada do templo, uma pequena escadaria ladeada por corrimões cobertos de trepadeiras dava acesso à porta alta de madeira entalhada; imagens de contos antigos, pégasos e lobos gigantes as ornavam, as maçanetas formando o nó simbólico do reino de Deraia.
Tudo cheirava a mato molhado e chá de erva-rosa extremamente doce, servido por Cora sempre que previa a chegada de visitas. E, como era Ethan a visitá-la, o aroma dos biscoitos preenchia o ambiente, piorando o calor, mas delicioso demais para qualquer reclamação.
- Pequeno príncipe, recebeu meu chamado. - a feérica de cabelos grisalhos disse, com a voz grave e doce, surgindo no portal.
- Oi, Cora. - Ethan respondeu, sorrindo levemente e se curvando para beijar a testa da anciã. - Você sabe como se usa um celular.
Ela o observou com os olhos azuis quase brancos, parecendo querer ler sua alma. Deu de ombros e então estendeu a mão enrugada e com um único anel de rubi, ajeitando a lapela de sua camisa.
- Sim, filho. Entre. - gesticulou apressadamente, adentrando as sombras da casa aconchegante, iluminada pela lareira de chamas pálidas e frias.
As pequenas sidhe escondidas nos botões de flores pendentes colocaram as cabecinhas para fora das pétalas com curiosidade maliciosa, mas não ousaram se aproximar. Ao contrário da maioria da espécie, aquelas minúsculas fadas coexistiam com Cora pacificamente, fosse por afinidade ou apenas medo do repelente fortíssimo da anciã.
O que importava é que, após tanto tempo de costume, as criaturinhas agora se revezavam em atividades como meter orvalho na cara umas das outras e até ajudar Cora com folhinhas de chá. Porém, Ethan sabia que não deveria subestimar os dentinhos afiados e raiva transbordante.
- O que ta acontecendo? - perguntou, ao ver a anciã e a prima se jogarem no grande tapete persa defronte à lareira.
Cora puxou uma bandeja até o centro do tapete, um bule fumegante de chá e delicadas xícaras pintadas a mão sobre ela. Lenta e despreocupadamente, ela começou a servir a bebida igualmente entre os recipientes.
Ethan ergueu a sobrancelha, impaciente, quando Cora passou a comparar as xícaras, verificando se estavam exatamente iguais. O príncipe encarou Havel, que lhe dirigiu um olhar de descrença, mas não comentou nada. Ethan ia abrindo a boca para reclamar quando...
- Paciência, pequeno príncipe. - a anciã riu, apoiando o chá no chão e gesticulando para que ele se sentasse. - Ainda não estou tão senil.
- Não era isso que eu queria...
- Era sim! - Havel interrompeu, provocando-o. Ethan revirou os olhos, finalmente se sentando.
- Cora, você viu que...
- Calma! Irei responder o que precisa ser respondido. Porém, preciso que vocês dois acalmem os nervos e peguem uma xícara.
A contragosto, o príncipe respirou fundo, apanhando um pouco do chá de um rosa extremamente saturado. Uma sidhe passou voando ao seu lado, pronta para depositar cubinhos de açúcar na bebida.
- Não, obrigado. - Ele disse, ao que a fadinha lhe mostrou a língua.
Havel riu baixinho, aceitando o açúcar que o primo recusou. A sidhe saiu, pomposa, lhe dirigindo um último olhar altivo.
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Aurora | Adhara: Deraia - Livro I
Fantasy🏅#1 no concurso Aventuras Literárias 🏅#1 em Capa no concurso Raposa de Ouro Uma história sobre sonhos, reinos mágicos e autoconhecimento. Para Ana Foster, cujo horizonte não se limita à antiga cidade onde vive, todos temos nosso legado. Nossa hist...