De volta à luta

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O dia passou quase arrastando–se. Naquela parte da floresta, perto da cidade de Lorelai, a igreja erguia–se com muita imponência, típico do senso de grandeza dos habitantes, com construções que mais pareciam monumentos ao ego. Sendo uma cidade comercial, o intuito de a transformarem também em uma cidade de turismo era um sentimento forte.

Dizem as más línguas que também se tornou um paraíso fiscal, mas os mais velhos dizem que é intriga da oposição, provavelmente da cidade vizinha, Sade.

De qualquer forma, era uma igreja abandonada. A mais frequentada ficava, na verdade, dentro da cidade, cercada por outros edifícios recentemente construídos ou reformados, pois assim era mais fácil protegê–la dos saqueadores que pouco se importavam com a devoção dos habitantes. Foi por esse motivo que os lorelaianos (como eram chamados zombeteiramente pelas pequenas fadas que circundavam a cidade – o apelido acabou pegando), cansados de estarem repondo peças e aparatos roubados, preferiram mudar a igreja de local. Optaram por construir outra no centro e como a antiga já era quase um marco histórico, decidiram preservá–la. Contudo, com o passar do tempo, heras cresceram por toda parte; a vegetação invadiu o templo que acabou sendo habitado pelos mais diferentes tipos de pessoas, brevemente terminando nas mãos dos clérigos que ficavam por lá para ressuscitar mortos e ajudar os doentes... por uma pequena taxa, é claro!

Com um grande esforço, o bardo sentou na cama. Todo o corpo doía, obviamente, depois de estar morto por tantas horas. Respirou com dificuldade, como se o ar estivesse voltando pouco a pouco às suas narinas. Quando conseguiu oxigênio suficiente para falar, foi interrompido pela guerreira, que ficou de pé na cama.

– O que houve, cacete? Ei, Hiro! – disse ela, voltando–se ao bardo, visivelmente transtornada e confusa – O que aconteceu lá atrás? A gente... tava morto, né?

– Eu não sei, Blaze. A gente... – respondeu o bardo, ainda recuperando o fôlego – tentou salvar uma moça, não foi? E meu Deus, mulher, que disposição é essa?? Desce dessa cama!

– Aaah, acordaram, né? – irrompeu uma voz debochada do fundo do aposento.

Uma moça jovem, com um rosto quase como de uma criança, embora tivesse mais idade do que aparentava, entrou no quarto, com expressão zangada, e parou na porta. Tinha o cabelo castanho escuro muito curto e calças mais ainda – shorts, na verdade – com um pedaço preto de tecido amarrado no peito agindo como top e uma tira na cabeça deixando livres apenas alguns fios rebeldes. Possuía, também, uma faixa vermelha desfiada e larga, envolvendo sua cintura e botas com cadarços até a altura dos joelhos. Era muito magra e com pernas finas, típica dos ninjas de sua classe.

– Mizuki!! – gritou Hiro, quase se atirando aos pés da amiga.

O mago verde precipitou–se ao escutar o grito.

– Dios mio! Que esta guria armou desta viez?

– Eu aprontei? – retrucou Mizuki, irritada – Vocês fazem idéia do quanto é a taxa de ressurreição? Se metem em cada uma quando eu não estou por perto...

Blaze levantou uma das sombrancelhas e falou pelo canto da boca.

– Não foi ela que sugeriu pegarmos aquele atalho?

– Grunf!– bufou o bárbaro, que acabara de levantar e coçava a cabeça bagunçando ainda mais o cabelo loiro.

– Mizuki, amore! Vou compôr uma canção só pra você! – disse o bardo, correndo para pegar o violão e começar a cantar o nome dela de forma melodiosa – Vou batizar de 'ode à minha salvadora' e vai ser cantado por menestréis de todo o país!

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