De heróis a ladrões

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Tráfego intenso, como toda boa cidade comercial.

Lorelai exibia–se imensa e, por ser também uma cidade portuária, o vaivém de pessoas, animais e todas as espécies variadas de mercadorias de troca e produtos de fino trato era de circulação interminável.

Blaze já estava acostumada, mas Hiro torceu o nariz. Todo aquele alvoroço era, no mínimo, incômodo aos seus delicados ouvidos de bardo. Na verdade, a única coisa que ele tinha de delicado.

A guerreira assumiu a frente, pois sabia onde queria chegar. Guiando o grupo por entre vielas pouco movimentadas e ruídos já não tão insuportáveis, volta e meia quebrado (ou aumentado) por um cacarejo de galinha ou grunhido de porco, em poucos minutos estavam diante de uma ponte de pedras onde restava um ou outro comerciante de passagem, já abandonando o local. O cheiro de peixe que empestava o lugar fez alguns dos companheiros dar um gemido sufocado. Blaze, contudo, não diminuiu o passo e Mizuki até teve que correr para alcançá–la.

Instantes depois, estavam diante de uma porta de cedro grossa e antiga, que ficava em uma velha estalagem de paredes de pedras escuras. Em uma placa mal pendurada perto do umbral da porta, lia–se: ' Macaco corcunda'.

A ruiva empertigou–se, limpou a garganta e deu três fortes e sequenciais batidas na porta. Uma portinhola de ferro incrustada abriu–se em seguida, onde dois olhos escuros, apertados e curiosos surgiram, sendo acompanhados por uma voz estridente e ameaçadora.

– O que querem?

– Queremos entrar para a guilda de ladrões. – disse a guerreira com voz imponente.

Hiro cutucou–a e sussurrou.

– Ei, nós não queremos entrar para lugar nenhum. Só queremos um favor deles.

– O que faz você pensar que ladrões iriam querer ajudar a gente, idiota? – sussurrou ela de volta, torcendo o nariz por ter sido interrompida.

– Qual é a senha? – perguntou a voz novamente, interrompendo o diálogo de forma brusca.

Subitamente, Blaze desferiu um golpe de punho fechado através da portinhola, acertando em cheio o dono dos olhos por trás da porta. O grupo gritou o nome dela de modo uníssono. Ela deu de ombros.

– Que foi, gente? Essa era a senha.

A porta abriu–se com um rangido alto, onde um homenzinho de nariz grande e cara amarrada esfregava o olho machucado. Resmungou um 'pode entrar' e correu para trás do bar. Hiro ficou impressionado.

– Uau, Blaze! Como você descobriu isso?

– Já faz tempo... na verdade, foi por acaso – disse ela, tentando esconder em vão um sorriso discretamente cínico.

O bar cheirava a álcool, mas misturado com todo tipo de essência, provavelmente provocado pelos diferentes tipos de seres que o frequentavam. Desde homens feios de má–índole até elfos de porte aristocrático. Era comum, em algumas partes de cidades, outros seres frequentarem lugares humanos, mas isso não era bem visto pela maioria dos habitantes, de nenhuma das classes. Nesse caso, podia notar–se que aquele bar não inspirava muita confiança.

O grupo tentou ser discreto, embora todos os olhares já estivessem voltados para eles. Foram um a um encaminhando–se para o bar, onde o homenzinho que levou o murro da guerreira esfregava um copo de vidro com uma toalha de aspecto incrivelmente sujo. Hiro, discretamente, embora não apreciasse a bebida forte, pediu um dos coquetéis da casa. Os olhares que estavam fixos nele desviaram–se, sendo seguidos por uma ou outra risada de sarro. Blaze deu um soco na mesa e pediu por leite, sendo que nenhum dos frequentadores do lugar ousou sequer esboçar um sorriso.

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