– Saco!! – gritou Blaze, quando afundou o pé no lamaçal formado na trilha de Sherazan – Já faz dias que estamos andando e a ração já está no fim! E nem chegamos na floresta ainda!
– Seu otimismo me comove, Blaze – zombou o bardo, ainda resfolegando da caminhada de dias – mas a floresta está bem ali. Só precisamos entrar... acredito que os elfos vão nos achar; não seremos bem vindos vagando a esmo ali por dentro.
– Agora você que está me assustando, Hiro! – reclamou Mizuki – Precisamos de comida e abrigo, não de mais problemas! Já não basta os salteadores pelo caminho!
– Olha o lado bom... eles ficaram com pena da gente e nos deram algum trocado!
– Que o clérigo já levou, né? – completou Hiro – E eu ainda fico pensando o que ele fez com aquele cogumelo de anos que era suposto ser fresco...
– Deve ter tido uma baita dor de barriga! – completou Blaze, rindo – E ficou sufocado na própria fumaça. Deve ser por isso que sumiu por um tempo.
– Mejor non falar no nome dele mas... vai que apariece! – lembrou Tzu.
– Sim... já sei! Vamos dizer "aquele–que–não–deve–ser–nomeado"! Que acham? – sugeriu a ninja, alegre.
– Muito grande. E depois, acho que já ouvi isso em algum lugar...
Prosseguiram em meio a comentários maldosos e risadas até estar bem perto da floresta Lunier, quando silenciaram. Estendia–se imperiosa, tão grande quanto cheia de mistérios. O cheiro do ar úmido já manifestava–se da entrada, e o farfalhar das folhas sendo gentilmente acariciadas pelo vento não lhes trouxe muita paz. Na verdade, tudo parecia uma grande e aterradora armadilha.
Se realmente fossem bem recepcionados pelos elfos, poderiam dar de cara com a mulher que os matou. Se ela passou pela aldeia, esta poderia nem estar mais lá; então só deveriam existir resquícios do que algum dia já fora uma civilização élfica. As árvores em si já não pareciam dar boas vindas, todas de aspecto escuro e retorcidas, como se tivessem sido torturadas por séculos. O ar quente e úmido não facilitava a respiração, que já tornava–se pesada.
Preferiram entrar por ali de qualquer forma, mesmo sabendo do enorme descampado que havia mais alguns quilômetros para a frente. Ele simplesmente traria péssimas recordações da época em que foram mortos por Sephira, apesar dos protestos motivados pela curiosidade insistente de Mizuki que gostaria de saber onde seus amigos foram brutalmente assassinados.
Curiosidade mórbida, melhor dizendo.
Pisavam na relva quase como se estivessem descalços andando por cacos de vidro, com medo de algum alarme marcado pelos elfos. Os animais revoaram em bandos assim que adentraram as árvores; era claro que isso já devia ser sinal suficiente. Com as mãos nas bainhas das armas e profundo silêncio, caminharam por longas e intermináveis horas pelo que parecia uma trilha, com mato um pouco mais rareado, embora ainda fosse de vegetação densa. Já devia ser por volta do meio–dia e não havia nem sequer barulho de aves ou de estalos de madeira. De súbito, Mizuki deu um grito.
Voltaram–se para ela com olhos arregalados, mas não moveram–se. Setas estavam apontadas por todos os lados. Não viam os donos dos arcos, mas nem era preciso; estavam cercados. Como já era de hábito, Hiro pôs as mãos em uma árvore, abriu as pernas e disse.
– A gente se rende!
Foram levados amarrados por cipós por muitos minutos ainda por elfos de porte altivo e belo.
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Quem Precisa de Heróis?
Fantasy"Sephira é uma jovem donzela que está fugindo, sendo perseguida por dois encapuzados. Para a sorte da moça, quatro heróis estilosos surgem para salvá-la. Azar o deles se morrem pelas mãos da mesma. São ressuscitados por um clérigo e têm que pagar um...