Sedução

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Assim que havia passado correndo pela porta em direção ao jardim da igreja, Sephira tropeçou pelo caminho e caiu no gramado. Explodindo de raiva e revolta, as lágrimas não demoraram a surgir embaçando sua vista. Não poderia, contudo, deixá–las cair. Não queria destruir aquele lugar que, de alguma forma, trazia–lhe segurança.

Secou os olhos com as costas das mãos e soluçou. Não sabia que sentimento passava por seu coração e Djin não estava por perto para explicá–lo.

Djin... onde estaria? Por que não a encontrava? Apertou fortemente a grama e esmagou pequenos torrões de terra entre os dedos. Só não destruía tudo agora porque...

– Por quê? Por que não destruo tudo agora? É por que Djin, Fal e Tiamat ainda estão no mundo? Ei, você! – gritou, olhando para cima – Não quero o dom que me deu! Toma ele de volta!

Esperou alguns segundos. Ao não obter resposta, sentiu–se frustrada e uma pequena gota caiu dos seus olhos em direção à terra. Tentou impedi–la, mas escapou antes que pudesse segurar. Contudo, ao incindir na grama, não foi um dilúvio que se sucedeu. Ao invés disso, uma bela rosa surgiu instantaneamente e desabrochou diante de seus olhos. Piscou admirada e sorriu.

Talvez, apesar de tudo, Ele podia realmente querer que ela confiasse mais e reclamasse menos. Sentiu que uma força poderosa a envolvia – além da habitual – e já não chorou mais. Em seguida, lembrou–se da caixinha que recebera da ninja, presente de Zophar, e procurou–a no meio de suas roupas. Segurou–a delicadamente entre os dedos e puxou a fita azul que a envolvia. Ao olhar seu conteúdo, havia apenas uma pequena folha de papel enrolada em um barbante onde se lia: "Tudo passa. O que sente agora vai passar. Lembre–se apenas de que tudo vai dar certo no final"*38

– Eu só encontro malucos...

– Considera–me um também?

O coração da jovem chegou a dar um pulo ao ouvir aquela voz familiar, mas não levantou–se. Ergueu os olhos com uma das sombrancelhas arqueadas, parecendo uma raposa. Reconheceu–o instantaneamente.

– Angeal?

O homem à sua frente estava vestido com uma túnica branca e faixas azuis laterais. Possuía uma capa clara de seda leve caindo por sobre os ombros até a cintura, presa por um medalhão de ouro e usava luvas brancas; bem diferente da primeira vez em que o vira, usando um sobretudo escuro contrastando com os longos cabelos prateados que agora estavam presos em um rabo de cavalo nas costas com mechas soltas dos lados da cabeça. Agora que o via mais de perto, percebeu que também possuía olhos verdes, mas não tão intensos quanto os seus. Aliás, pareciam ser ainda mais sombrios.

Ele sorriu amavelmente e ela sentiu–se mais tranquila.

– Oh, você se lembra de mim! E então? Ainda com a promessa de não falar comigo? E onde está Djin? – perguntou, dissimuladamente.

Ela abaixou a cabeça, embora ainda permanecesse sentada na grama, e pegou uma das pedrinhas. Ficou desenhando na terra, parecendo uma criança perdida.

– Eu não sei. Eu caí de Tiamat... depois disso não me lembro de mais nada.

– Oh, que desagradável. Deve estar cansada e com fome. Já faz muito tempo?

A jovem engoliu em seco com um nó na garganta, mas não respondeu. Ele aproximou–se e ajoelhou–se ao seu lado, fitando–a diretamente nos olhos. Ela ergueu o rosto timidamente.

– Sephira, você se perdeu dos seus amigos, não é? Não tenha medo... Vamos procurá–los juntos, assim você perde a má impressão que Djin lançou a meu respeito e também eu farei com que seu amigo confie em mim.

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