Mizuki entrou lentamente para descobrir que a floresta, na realidade, nem era tão grande assim. Abria logo para um grande descampado e uma pequena vila situava–se cerca de cem metros para frente. Correu para lá, mas seus passos foram diminuindo instintivamente tão logo aproximava–se.
Reconheceu ser sua pequena vila, onde ficava a famosa tribo dos Shaolindos. Mas como poderia estar ali? Ficava do outro lado do reino e há muito fora abandonada.
De repente, tudo acontecia como uma visão. O passado retornara e parecia incrivelmente real. Sentia o cheiro da madeira queimada e gritos vindo de toda parte; fossem de ataque ou pedidos de ajuda. Viu pessoas correndo e sangue jorrando; estava de volta à cena mais aterradora de sua vida.
Cerca de dez anos atrás a vila havia sido invadida por uma ordem do rei de Larfael, e os ninjas, por mais que lutassem bravamente, não puderam contra o exército. Também o feiticeiro Angeal estava lá, mas não entendia porquê, embora quando tal ataque acontecera ela tinha apenas nove anos e não lembrava de muita coisa... mas então... Angeal já aparecera em sua vida?
Viu–se pequena, correndo ao encontro dele e tacando–lhe uma pedra. Sorriu. Parecia que era mais corajosa quando era menor. Ele simplesmente pegou a pedra no ar com uma das mãos e esmagou–a. A pequena Mizuki deu–lhe a língua e escondeu–se em um barril. Certo, talvez ela não fosse tão corajosa quando pequena, mas já era alguma coisa.
Mas enquanto estava escondida, a pequena ninja não vira o que a grande estava vendo agora. Viu um a um de seus amigos ninjas serem mortos, o fogo lançado por Angeal destruindo tudo o que tocava. Quando algum dos ninjas esboçava alguma reação, o feiticeiro sorria e o matava instantaneamente, como se sugasse a alma da pessoa para fora. Mizuki estava paralizada observando a cena. Não sabia se era uma volta ao passado, ou se era apenas uma visão, mas suas pernas tremiam.
De súbito, tomou coragem e gritou ao feiticeiro que parasse. Ele esboçou um sorriso em sua direção e ergueu uma das mãos para ela. Mizuki encolheu–se tapando os ouvidos e gritou com toda a força, temendo o pior. Repentinamente, avistou Hiro e seus outros amigos colocando–se à frente dela.
O feiticeiro riu e desapareceu em uma nuvem de fumaça mas, quando olharam em volta, soldados os cercavam. Flechas foram disparadas e seus amigos começaram a cair um a um sem que que a ninja pudesse fazer nada. Ela gritou, mandou–os abaixarem, correrem, mas nada. Morreram todos aos seus pés. Viu um clérigo ao longe e correu até ele, pedindo que ressuscitasse seus amigos, mas ele negou–se. Disse que era culpa dela eles terem morrido; que ela mesma os salvasse.
Mizuki jogou–se no chão com as mãos sobre o rosto e gritando, até que tudo parou. Não havia mais som, espadas chocando–se, nada. Apenas um mortal silêncio. Ergueu os olhos lentamente e viu que já não havia mais nada, nem ninguém. Só cinzas. Percebeu que tinha contido a respiração por um bom tempo e voltou a respirar, arfando ruidosamente.
Ao virar–se, notou duas figuras familiares olhando para ela, como se não estivessem entendendo o que a ninja fazia ali. Familiares, literalmente falando. Eram seu pai e sua mãe.
– Filha, o que faz aí? – perguntou o pai, curioso – Não arrumou suas coisas?
– Pai?
– Minha filha, escute seu pai – disse a mãe por sua vez – Está na hora de irmos.
– Irmos?
– Vai ficar que nem uma boba repetindo o que a gente fala, Mizuki? Vamos, a aldeia está destruída, foram todos mortos. Vamos embora.
O pai de Mizuki trajava uma roupa de médico, com jaleco branco, e a mãe, um grande avental de bolinhas amarrado nas costas com um laço e um coque na cabeça demonstrando um alto teor de dona–de–casa. Carregavam malas e apesar de todo aquele ataque violento que fora desferido contra a aldeia, estavam perfeitamente bem e ainda por cima... limpos!
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Quem Precisa de Heróis?
Fantasy"Sephira é uma jovem donzela que está fugindo, sendo perseguida por dois encapuzados. Para a sorte da moça, quatro heróis estilosos surgem para salvá-la. Azar o deles se morrem pelas mãos da mesma. São ressuscitados por um clérigo e têm que pagar um...