Amigos

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Quando Sephira abriu os olhos, as árvores estavam passando lentamente por cima de sua cabeça. Piscou duas vezes e, quando ergueu um pouco mais a cabeça, deparou–se com a de Djin, sorrindo alegre para ela.

– Olá! Está se sentindo melhor?

Ao perceber que estava sendo carregada no colo tomou um susto, mas não deixou transparecer. Não recordava–se do que acontecera.

– O... o que houve? – perguntou, relutante.

– Você desmaiou algum tempo atrás. Não está acostumada a andar muito, não é? – respondeu Djin, com um sorriso cativante. – Mas não se preocupe, eu levo você até a aldeia se preciso.

– N–não... Já estou melhor. Ponha–me no chão.

Delicadamente, Djin inclinou–a até seus pés alcançarem a grama verde e ergueu–a.

– Por quê? Por que fez isso? – disse ela, sem entender toda essa atenção do elfo. – Você me disse que não era nenhum herói.

– Por que faz tantas perguntas? – respondeu ele, desconcertado – Não é preciso ser herói para fazer o bem para alguém.

– Não? Você ajuda os outros sem motivo aparente e não é um herói?

– Você tem alguma tara por heróis ou coisa do tipo? – riu ele, com deboche – Dependendo do momento, a gente se torna um, certo? Ou talvez o oposto.

– Eu... eu posso me tornar um herói? – estranhou ela, de súbito.

– Heroína – corrigiu ele – Mas claro que pode. Tudo depende, né?

– Eu não gosto de heróis. Eu não vou me tornar um e para sua sorte, espero que nem você.

O elfo coçou a cabeça. Realmente era uma moça muito estranha. Não sabia se já confiava nele, então tomou coragem para perguntar.

– Sephira... por que você estava presa?

Ela não respondeu. Apenas olhou para baixo, deixando que o cabelo negro cobrisse parte de seu rosto. Arrependido da curiosidade, ele tentou consertar.

– Er... não se sinta pressionada. Eu só quero ajudar; quando estiver precisando desabafar, pode contar comigo! – fez um gesto alegre levando o polegar ao peito.

– E por que quer me ajudar? – ela parou de repente.

Djin olhou para ela confuso. A jovem possuía sombrancelhas escuras arqueadas e, agora que uma delas estava levemente levantada, demonstrando desconfiança, ele pensou nela como uma raposa. Tentando não rir de sua súbita comparação, respondeu, levantando os braços, como se sua resposta fosse mais do que óbvia.

– Ora... porque somos amigos!

A expressão de Sephira relaxou e pareceu mais calma. O elfo deu um suspiro aliviado; com certeza ela era o tipo de pessoa que seria arriscado irritar.

Intuição élfica é uma coisa fora de série.

Puxou a mão dela para perto de si outra vez, e levemente forçou–a a continuar o passo. Esta obedeceu em silêncio e não trocaram palavra alguma até chegarem na aldeia.

Esta era imponente. Foi desenvolvida em uma enorme clareira e árvores extremamente frondosas envolviam o povoado. As casas eram de cedro, bem conservadas, construídas em vários pontos nas árvores sendo que os pontos mais acima eram destinados aos elfos mais nobres. Todas foram feitas ligadas por meio de escadas e pontes de madeira, algumas de modo pênsil, e em cada uma pendia um lampião de porte grande. As árvores gigantes deixavam passar poucos raios de luz, mas a claridade era satisfatória, tendo em vista as inúmeras fadas de luzes próprias que ali habitavam. Uma casa de porte nobre e bastante ampla figurava–se no ponto mais elevado, da maior árvore; era onde habitava a realeza.

Quem Precisa de Heróis?Onde histórias criam vida. Descubra agora