Primeiro Contato

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Os olhos de Sephira quase não piscavam, admirados com tudo o que via. Djin sorria alegremente, como se fosse o guia de uma ilha em Cancun a uma pessoa que nunca havia saído da roça. Fal apenas passeava por entre as flores; parecia que eram apenas bons amigos curtindo as férias. Ignorar o futuro era algo quase espontâneo. Mesmo porque, quem iria atrás deles, afinal?

A jovem corria atrás das borboletas e Djin quase achou aquilo uma cena muito meiga – quase porque Sephira as esmagava quando as alcançava. Fal tremia por dentro pondo–se no lugar dos insetos coloridos. O jovem elfo então chamou a amiga alegre e explicou a importância que cada ser tem no planeta. Ao contrário do que imaginava, Sephira ficou amuada e levou algum tempo para Djin convencê–la a falar. Achou que foi porque havia interrompido sua diversão, mas percebeu que foi algo mais profundo do que esperava.

– Que importância cada vida tem no planeta? Pessoas se matam o tempo todo! Leia nas histórias, os heróis saem por aí matando quem eles acham que não deve viver!

– Bem... não devemos ser como os outros, certo? Pense naquela borboleta! Imagine que ela tinha muitos filhinhos esperando por ela em casa e ficando tristes porque o papai está custando a chegar...

Tanto Sephira quanto Fal olharam para ele como se fosse um retardado.

– Uh, tá, não foi a melhor comparação. Bem, vejamos assim...Você gosta de mim, Sephira?

– Hum? Gosto – disse ela, sem hesitar.

– Certo... vamos dizer então que alguém me matasse. O que aconteceria?

Fal ia dizer alguma coisa, mas Djin fez um sinal para que se calasse.

– Eu mataria o assassino.

– Mas que diferença faria isso? Eu ia voltar a viver? No seu ponto de vista, então eu não faria falta para o mundo, certo? Já que existem tantos elfos...

– Mas é importante para mim! – gritou ela, abalada.

Djin sorriu, contente de ter despertado esse sentimento na amiga. E ao mesmo tempo sentiu–se querido. Já Fal não gostou muito.

– Eu ficaria... – acrescentou ela, pensativa – qual é a palavra?

– Triste? – ajudou Fal.

– Sim...

– Então eu sou importante para alguém... você!

– E pra mim! – acrescentou Fal, sendo ignorada logo em seguida como criança quando se mete em conversa de adulto.

– Vê? Matar não ia me trazer de volta!

– E o que traria você de volta?

– Nada, Sephira... nada. *19

Ela arregalou os olhos e calou–se. O elfo aproximou–se dela ao perceber lágrimas em sua face.

– Ei, ei, que isso! – antecipou–se, visivelmente alarmado por medo de outro evento inoportuno – Já me matou? Eu só dei uma suposição...

De repente, antes mesmo de Sephira pronunciar–se, teve um lampejo súbito.

– Seph... É por isso que você não gosta de heróis? Você se considera... uma ameaça?

Ela reagiu com surpresa; Djin acertara na mosca.

Demorou, hein?

Vai ganhar um docinho!

– Você não entende!

– Claro que entendo! Eu também teria medo!

Transtornada, a jovem de cabelos negros deu–lhe as costas. Não queria tocar no assunto.

Quem Precisa de Heróis?Onde histórias criam vida. Descubra agora