Sephira acordou sentindo–se um pouco dolorida. Não estava acostumada a dormir sobre a relva úmida. Apesar do cativeiro, não podia negar que era bem tratada. Suas colchas e lençóis eram sempre limpos e bordados de uma forma lindamente trabalhada, encontrados nas tendas mais caras da cidade de Lorelai que, diziam, vinham de ainda mais longe, do sul das montanhas de Frescor. Seu colchão era de penas de ganso e até as cortinas eram de fabricação longínqua.
Frescura, você acha?
Calma, ainda tem mais.
Os talheres e seus cálices eram sempre de ouro com detalhes em prata, mas para Sephira isso não fazia diferença. Não sabia que ouro era um metal precioso, tampouco sabia quanto custava ou quão longe se distanciava uma cidade da outra para terem acesso a esses artigos. Seu quarto sempre exalava um perfume puro e agradável e sempre estava fresco, com temperatura amena. Era apenas reclamar de frio, que logo lhe eram trazidos cobertores ou, se era calor, logo providenciavam amas para abaná–la.
Tudo bem, mas pense. Se você tivesse a responsabilidade de ter que cuidar da pessoa mais poderosa do mundo que poderia destruí–lo por se aborrecer com algo, como seria a prisão em que a colocaria?
Pois é isso mesmo.
Mas dispense o rosa. Sephira não é muito chegada em rosa.
Mas ela nunca reclamava, normalmente o que sentia era percebido pelos feiticeiros. Pareciam querer evitar apenas que ela se aborrecesse, o que agora é de fácil compreensão. Contudo, embora levasse uma vida de rainha, faltava–lhe algo que para ela era essencial: a liberdade. E agora que a conquistara, não sentia falta de coisa alguma. Era ela e ela somente, sem ninguém para dizer o que fazer ou a paparicar.
Era essa a vida de rainha que tanto sonhara.
Seus olhos ainda não estavam habituados a estarem diretamente sob a luz solar, embora já fossem sensíveis por natureza. Procurou mantê–los longe dos raios, escondendo–se nos arbustos.
Levantou–se da relva onde passara a noite, exausta por correr tanto. Mas sabia que por hora não precisava se preocupar. Ninguém teria coragem de procurar por ela por enquanto, depois de todo aquele sangrento episódio; provavelmente iriam confabular uma tática para capturá–la.
Cheirou o orvalho que havia escorrido sobre a pele – que aliás, não tinha cheiro algum – e alisou o cabelo e o vestido. Era vaidosa, como toda mulher, e arrumou o cabelo como podia, passando o dedo por entre eles. Um pássaro pousou levemente em seu ombro, dando–lhe um enorme susto, ao que ele reagiu, fugindo depressa. Estranhou o fato de ele não sentir medo dela, e até aproximar–se.
– Oi! Eu sou nova por aqui! Vocês não têm medo de mim?
Sephira desconhecia o fato dos animais não entenderem a língua dos humanos mas, apesar disso, estranhamente eles reagiram às suas palavras. *10
Era uma Mary Sue, pelo amor de Deus.
Até travestis apaixonariam–se por ela.
Se aliens descessem à Terra, Sephira seria a primeira pessoa à qual eles iriam se dirigir.
Cada um deles aproximou–se dela lentamente, à sua maneira. Esquilos, pássaros, cervos, pequenos roedores, havia algo em Sephira que encantava. Não havia nela nada de extraordinário, sua aparência assemelhava–se às das mocinhas bem vestidas – no caso Sephira estava meio suja e desarrumada, mas não esqueça do argumento de Mary Sue – que volta e meia entravam na floresta acompanhadas de homens bem trajados ou dentro de carruagens pomposas e que davam gritinhos de excitação quando viam um ou outro animal felpudo ou pequeno.
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Quem Precisa de Heróis?
Fantasy"Sephira é uma jovem donzela que está fugindo, sendo perseguida por dois encapuzados. Para a sorte da moça, quatro heróis estilosos surgem para salvá-la. Azar o deles se morrem pelas mãos da mesma. São ressuscitados por um clérigo e têm que pagar um...