Capítulo CXV - TIÃO

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Depois de fazer o teste, o Tião ainda não sabe se conseguiu ou não a tal bolsa.

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Já tinha se passado vários dias desde o meu último encontro com a Inês, então resolvi que era hora de ir até lá e descobrir de uma vez por todas se meu futuro estava na música ou em roubar comida para sempre. E eu desejava do fundo do meu coração que fosse a primeira opção.

Segui caminhando até o prédio e só quando eu estava em frente a escadaria me dei conta que eu estava todo sujo e maltrapilho. Da última vez que eu estivera ali, eu também não estava limpo e arrumado. O problema é que da outra vez, não precisei necessariamente entrar no prédio e, desta vez, eu teria que entrar.

Dando de ombros, deixei essa besteira de lado e entrei, ignorando os olhares maldosos sobre mim. Segui até o mural e procurei a lista dos aprovados. Havia diversos nomes lá, mas o meu não. Primeiro eu me senti muito burro por acreditar que aquela ideia descabida poderia funcionar. Depois, senti muita raiva da Inês, por ter me dado falsas esperanças. Enquanto eu olhava aquela maldita lista, eu só conseguia pensar em como criar expectativas era uma coisa ruim e em como minha vida continuaria sendo a mesma droga de sempre.

– Com licença – pediu a moça que me atendeu na recepção naquele dia. – Eu preciso usar o mural.

Dei um passo para o lado, enquanto ela colava mais uma lista no mural, esta muito mais curta do que a outra. Para a minha surpresa, meu nome estava nessa.

– Que lista é essa? – perguntei à moça.

– Essa é a lista dos bolsistas integrais – sorriu para mim.

A Inês tinha conseguido. Eu não conseguia acreditar que ela realmente tinha conseguido! Eu precisava encontrá-la para agradecer e para saber quando eu começava. Saí correndo feito louco e entrei na porta que ficava ao lado da recepção, sem ter muita certeza de onde ela me levaria.

Após rodar por alguns minutos, vi-me perdido naquele prédio imenso.

– O que você pensa que está fazendo? – indagou-me uma voz conhecida.

Era a garota que eu conheci no dia da audiência. Como era mesmo o seu nome? Tônia, Tênia...

– Tina – disse, feliz por lembrar do nome dela. – Seu nome é Tina, né?

– Isso mesmo. E o seu é Tião, né? - Sorriu. – Soube que você passou na audiência para bolsista integral. Você deve ser um gênio!

– Que nada... Só tive muita sorte – tornei, enquanto sentia minhas orelhas pegando fogo. – Você sabe onde eu posso encontrar a Inês? Preciso conversar com ela.

– Ela fica naquela sala ali – explicou, apontando.

Sem demora, segui até a sala e bati na porta. Após pedir permissão, entrei.

– Oi, Sebastião – cumprimentou-me com um sorriso. – Parabéns pela conquista.

Ela estava sentada à sua mesa, mas não quis sentar na cadeira em frente à ela. Eu estava sujo e não queria mais esse constrangimento na minha vida.

– Você sabe que eu não teria conseguido sem a sua ajuda – comecei, sem graça. – Então eu vim até aqui para agradecer.

– Já disse que você não precisa agradecer. Basta dar o seu melhor.

– Eu vou dar o meu melhor, com certeza. - Sorri. – A propósito, quando eu posso me mudar pra cá?

– Como assim? – tornou, confusa.

– Os estudantes ganham alojamento, não ganham?

Levantando-se da sua cadeira ela caminhou até mim.

– Na verdade, ganhavam. Desde o início do ano esse benefício foi cortado e os alojamentos foram transformados em salas de aula – explicou.

– Ah – suspirei, tentando internar a minha frustração. – Tudo bem.

– Não está tudo bem, não é? – insistiu, percebendo que algo estava errado.

Respirei fundo antes de começar a minha explicação.

– Eu não quero parecer ingrato, Inês. Essa é a última coisa que eu quero nesse momento, depois de tudo o que você fez por mim. O problema é que eu não tenho casa, não tenho roupas e não tenho um chuveiro. Quem vai querer ter aulas com um colega sujo e fedorento?

Ela voltou a se sentar na sua cadeira e me convidou a sentar na cadeira a sua frente.

Muito sem graça, tentei sentar bem na beiradinha da cadeira, para sujar o mínimo possível daquela cadeira acolchoada. Ela me encarou por alguns instantes e por fim disse:

– Os alojamentos foram desativados, mas os banheiros não. Eles ainda têm chuveiros e tudo o que você precisar. Vou deixar uma bolsa com roupas limpas, toalhas e sabonetes aqui pra você. E nem pense em negar – advertiu-me, antes que eu tivesse chance de dizer não. – Você é talentoso demais para se deixar levar por esse tipo de orgulho bobo.

Sem saber o que dizer, apenas concordei com um aceno de cabeça.

– As aulas começam amanhã, às sete e meia. Não se atrase.

Com um sorriso bobo, deixei o prédio e corri para casa. Eu precisava contar para a Sara o mais rápido possível!

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Tião conseguiu! \o/

Hoje é meu aniversário e, para comemorar, vou postar três capítulos <3 <3

Beijinhos e até depois :D

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora