Capítulo CXXV - MALU

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Depois da reunião, Malu quer entender quem é Vera e porque ela a odeia.

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 Aproveitei o momento em que todos estavam indo embora e fiz o que eu já estava querendo há tempo: coloquei aquele médico maluco contra a parede.

– Você não me falou porque aquela mulher me odeia – disse, puxando-o pelo braço para o quintal da casa, onde não tinha ninguém.

Ele respirou fundo e então ficou me olhando com uma expressão esquisita, como se estivesse medindo as palavras.

– Não minta pra mim, porque não vai ser nada difícil descobrir – ameacei, sem paciência.

– A Vera é sua tia – disse, de uma vez. – Ela é irmã da sua mãe.

Fiquei confusa com a sua confissão. Se ela era irmã da minha mãe, ela não deveria me odiar, né? Não é assim que uma família deve agir. Se bem que o meu próprio pai me manteve presa e sem comida por meses, então, no fim das contas, isso nem era tão surpreendente assim.

– Isso não explica o porquê de tanto ódio.

– Ela odiava a sua mãe. Sempre odiou e morreu de inveja dela. E para a sua desgraça, você é a cara da sua mãe. É impossível olhar pra você e não se lembrar da Beth. Foi por isso que eu não consegui levar o plano adiante. Não com você, pelo menos. – Ele segurou a minha mão e me encarou. – Eu só te deixei sem comida porque foi a única forma de te livrar do experimento.

Admito que fiquei em choque com o que ele acabara de dizer. Isso não fazia o menor sentido. Ele me odiava, assim como eu odiava ele.

– Sua mãe foi a única mulher que eu consegui amar de verdade. Ela... – Ele parou por um instante, como se falar sobre isso o machucasse. Como se ele tivesse um coração. – Ela foi a mulher mais forte que eu conheci.

Aquilo que eu estava ouvindo era tão inusitado que não me senti culpada em invadir sua mente para verificar se o que ele estava falando era realmente verdade. E para a minha total perplexidade, ele não estava mentindo.

– E o Bruno? – indaguei, com raiva. – Por que você não livrou ele daquele inferno? Por que ele teve que se sentir culpado por acreditar que eu estava sem receber as minhas refeições por causa dele? Por que você fez ele sofrer por tanto tempo? Por que tanta diferença?

– Aquele pivete insolente? – resmungou. – Ele não merece a sua bondade. Ele é tão estragado quanto eu. Ele não tem salvação.

– Ele é seu filho! – exclamei, enojada.

– Nem tudo é do jeito que a gente quer.

Puxei minha mão, que ainda estava entre as suas, com muita raiva. Raiva não. Ódio. Eu estava morrendo de ódio.

– Malu? Onde você está? – ouvi o Zeca me chamando ao longe.

– O Bruno é o melhor irmão que eu poderia ter. Ele cuidou de mim e me amou quando todos me viraram as costas. Não ouse falar mais nenhuma palavra sobre ele, senão eu juro que você vai se arrepender – grunhi, com os olhos cerrados.

Girei nos calcanhares sentindo algumas lágrimas embaçarem a minha vista. Eram lágrimas de ódio. Ódio dele e principalmente de mim, por ter acreditado que eu poderia ouvir alguma coisa boa vinda daquele canalha.

– O que aconteceu? – perguntou o Zeca, ao me encontrar, já na rua. – Você está tremendo.

Apesar de não ter notado que estava tremendo, não me admirei com essa constatação. Eu estava furiosa e continuei caminhando, sem dar bola para o que Zeca falava do meu lado.

– Malu! O que aconteceu? – indagou, segurando o meu ombro.

Então eu desabei. Abracei o Zeca e chorei, tentando colocar para fora toda a angústia que aquela conversa me proporcionou. Eu sempre pensei que aquele monstro não tivesse coração, que ele fosse vazio e desalmado. Mas ele mesmo me dissera que ele se importava comigo – mesmo que sua maneira de se importar fosse muito esquisita – e que amou a minha mãe. Isso só deixava tudo pior, porque ele sabia o que era amar uma pessoa e mesmo assim odiava o Bruno, seu próprio filho.

Tentei explicar para o Zeca o que estava acontecendo, porque o coitado estava meio desesperado, sem entender nada, mas ao invés de palavras, só saíam soluços e resmungos da minha boca.

– Calma, está tudo bem – disse ele, tentando me acalmar. – Vamos pra casa.

Ainda sem conseguir responder, confirmei com um movimento de cabeça e seguimos caminhando. Eu já não chorava mais tão compulsivamente quanto antes, mas estava longe de ficar calma. Como alguém conseguia odiar o Bruno? Tudo bem que eu não fui com a cara dele da primeira vez que nos vimos, mas foi só conhecê-lo de verdade para perceber que ele era uma pessoa maravilhosa.

Envolta nesses pensamentos, não demoramos para chegar em casa e fui direto para o banho. Talvez uma chuveirada quente ajudasse a me acalmar. Saí do banheiro ainda cabisbaixa, mas um pouco melhor do que quando entrei.

– Agora me conta o que aconteceu – pediu, com preocupação na voz.

– Eu queria entender porque aquela Vera me odiava, então chamei aquele nojento para uma conversa, mas ela não saiu exatamente como eu imaginava – disse, encarando o chão.

– Ele te ameaçou de novo? - tornou, zangado.

Contei-lhe sobre a nossa conversa, desde a descoberta de que a tal Vera era minha tia, até o jeito como ele se referiu ao Bruno. O Zeca ficou em silêncio, olhando para um ponto fixo. Eu sabia que ele estava pensando em alguma coisa. Pela sua cara, não era nada muito bom.

– É isso! – exclamou, com raiva. – Eu estava tentando entender o que aquele cara ganharia nos ajudando e você acabou de me dar a resposta, Malu.

– Eu? Que resposta? Do que você está falando?

– Ele não quer vingança coisa nenhuma. Ele só quer que a gente faça o serviço sujo e deixe o caminho livre para que ele conclua o plano doentio dele – explicou.

Parei por alguns instantes, tentando absorver o que ele dissera. Ele tinha razão.

– Como eu sou burra! – exclamei, frustrada. – Eu devia ter lido a mente dele para conseguir alguma informação útil sobre isso, mas eu me descontrolei.

– Ele sabia que você se descontrolaria. Ele é muito mais baixo do que a gente imaginou – concluiu.

– Eu não vou deixar ele encostar no Bruno, entendeu? - disse, com ódio.

Travei uma luta ferrenha contra as lágrimas, mas saí derrotada. Eu não conseguia entender como alguém poderia querer fazer mal para o Bruno. Sendo o próprio pai dele, isso não fazia o menor sentido.

O Zeca me abraçou com força, enquanto eu me desmanchava em lágrimas no seu ombro.

– Nós vamos tirar ele de lá – sussurrou no meu ouvido. – Eu prometo.

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Quem quer dar um chute no saco desse médico bizarrão bota o dedo aqui 👉✋

Não esqueçam do voto e dos comentários (e xinguem bastante essa cruza de capeta com cruz credo).

Beijinhos ;*

As Últimas Cobaias - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora