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CAPÍTULO 03
JENNIFER

Se o dia estava bonito? Nem de longe, a chuva torrencial me fez ficar trancada o dia inteiro dentro do enorme apartamento de Kabir, para piorar ele mandou eu limpar cada cômodo. Suspiro cansada e me jogo no sofá, olho pela janela e vejo o tempo fechado, o céu acinzentado e sinto uma imensa vontade de ir de encontro com a chuva.

Me assusto ao ouvir o barulho da porta de entrada sendo desbloqueada. Me levanto do sofá em um pulo e pego a vassoura que eu havia jogado no chão.

Vejo então Dona Zeina, mãe de Kabir, entrar no apartamento cheia de sacolas e com toda sua postura majestosa. Ela se assusta ao me ver parada no meio da sala a encarando e sua feição passa de assustada para horrorizada.

- O que está fazendo aqui, garota? – Não preciso dizer que ela me odeia né? Reviro os olhos.

- É um prazer rever a senhora também, Zeina. – Zombo e caminho em direção a dispensa largando a vassoura e o avental por lá.

Volto para sala e vejo Zeina no celular gritando naquela língua que eu não entendia nada. Vejo ela olhar para o celular desacreditada e depois seu olhar passa para mim e vejo puro ódio nele.

- O que uma garota como você faz no apartamento do meu filho? – Ela pergunta irada.

- Não percebe? Vim limpar tudinho para o mimado que a senhora criou. – Bufo.

- Quero você fora desse apartamento agora! – Ela aponta para a porta furiosa.

- Zeina, me poupe de todo seu drama... – Suspiro cansada.

- Não é drama! – Ela levanta as mãos irritada. – Não sei como funciona no país onde você mora, mas aqui prezamos a nossa imagem, prezamos nossa história, nossos nomes e nossas castas. Nenhuma mãe quer uma prostituta na casa de seu filho.

Eu estava tão cansada de ser julgada o tempo todo nesse lugar, eu estava a ponto de explodir. Eu aprendi a não ligar para os que as pessoas diziam de mim, mas no fundo eu sabia que cada palavra gravava sua mensagem de ódio em mim e isso me desgastava.

- É isso né, é só isso que eu sou... – Rio sem humor. – Aqui eu sempre vou ser a prostituta que quer domar todos os homes.

- Aqui? Você foi expulsa da Itália exatamente por ser a vagabunda que é! Não sou obrigada a te aceitar na casa do meu filho.

- Você não sabe nada sobre minha história, Zeina. Eu sou mais do que todos vocês julgam, disso eu tenho certeza.

Pego minha bolsa e saio dali sem olhar para trás, eu tinha ordens diretas de Kabir para ficar no apartamento até que ele retornasse, mas eu não sou obrigada a ouvir as palavras de ódio de sua mãe.

Assim que chego na rua sinto a chuva forte bater contra meu corpo, um aperto no peito me pega desprevenida, corro para mais longe daquele prédio e parecia que cada vez mais a dor no peito se intensificava.

Avisto um parque de longe e me sento no banco não me importando com a chuva que caia sobre mim. A água escorria pelo meu corpo, junto dela toda a mágoa e dor que eu estava sentindo. Eu queria tanto voltar para Itália, eu queria saber que tinha alguém para quem voltar, mas eu só tinha a mim mesmo.

Meu choro estridente era escondido pelo barulho da chuva. Eu estava tão destruída, todos se esforçaram tanto para acabar comigo, que eu não consigo me lembrar de um dia que eu fui inteira.

O tempo passa e com ele o choro que parecia estar preso a muito tempo dentro de mim. A chuva se torna mais fraca e vejo o céu escurecendo. Me levanto e caminho pelo parque tentando tranquilizar minha mente que trabalha a mil.

Cattiveria I Spin Off - Série ObscurosOnde histórias criam vida. Descubra agora