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CAPÍTULO 02
JENNIFER

O cheiro do tabaco junto com whisky me lembrava tudo o que eu passei na Itália, me lembra de tudo o que fiz para não ser massacrada dentro da Camurro. Olho para Verne que está sentado à minha frente me encarando a uns cinco minutos. Acho que nem mesmo ele sabe o que quer comigo, nunca fomos ligados e eu odiava olha-lo e saber que foi por ele que fui trocada.

- Vai ficar me encarando? – Mexo no cabelo entediada.

Verne ri de lado, sua aparência denuncia seu cansaço. Não que eu me importe, mas ele estava parecendo que tinha sido atropelado por um trator.

- Papai me disse que ligou para ele. – Ouço com atenção, eu não sabia aonde ele queria chegar tocando nesse assunto.

- Hmmm. – Resmungo. – Aquele velho babaca. – Resmungo só para mim.

- Vejo que está melhor do que eu imaginava.

- Não tenho culpa se você quer me ver morta a qualquer instante. – Sorrio cínica.

- Pare de falar besteiras, Jennifer. Eu nunca quis te ver morta, você na verdade nunca interferiu na minha vida em nada. – Verne suspira.

- Fala logo o que quer comigo. – Reclamo.

Eu não sabia o motivo de Verne ter solicitado minha presença nessa sala, nunca tivemos nada para falar um com o outro e eu não vejo motivo para isso acontecer agora.

- Estamos nos emancipando da Camurro. – Ele diz mexendo o gelo no copo já vazio. – Ainda teremos ligações com a Camurro, mas agora somos independentes no norte da Itália.

- E eu com isso? – Eu não queria falar da Itália e muito menos da Camurro.

- Vim afirmar olhando em seus olhos que quando você voltar terá seu lugar reservado em nossa máfia. – Verne afirma olhando confiante em meus olhos.

- Se eu voltar... – Repito rindo desacreditada. – Creio que você não conte com isso.

Verne se levanta e coloca o copo na mesa e sorri para mim e me deixa sozinha naquela sala escura. Sinto que posso respirar melhor sem sua presença, Verne sempre foi muito intenso e misterioso e isso as vezes me deixava sem jeito.

A festa foi um tédio, Kabir passou a festa todo me evitando e eu passei a festa toda fugindo de Raj. Sem me preocupar com o que Kabir ia achar eu me retirei e fui direto para meu quarto, eu estava cansada e sabia que Kabir já tinha minha tortura preparado para o dia seguinte.

Tiro o vestido grudado em meu corpo e coloco um blusão largo. Abro o pequeno armário colado ao lado da minha cama pela falta de espaço no quarto e pego um salgadinho. Meus pensamentos voam longe.

Me levam para os dias que eu ficava na boate da Camurro ajudando a Keyla a servir as mesas, eu odiava servir as mesas, mas adorava ficar com Keyla. Keyla era uma mulher sábia, casada com um soldado da equipe de Giacomo, ela sempre soube me auxiliar em tudo o que eu fazia, mesmo que eu sempre fizesse o oposto do que ela me dizia.

Lembro-me dela me dizendo que meu esporte favorito era contrariar o que quer que fosse, que o importante era eu saber que estava me opondo de alguma forma a tudo.

Eu sentia falta dela, a única coisa que eu sentia falta naquele lugar. Keyla soube ser luz para mim quando eu acreditei que minha vida seria só escuridão. Seu marido odiava que ela andasse comigo ou até mesmo falasse comigo.

Afinal, quem iria gostar de saber que sua esposa era amiga de uma das mulheres mais taxadas como puta naquela máfia. Eu fiz da minha juventude uma aventura e isso enlouqueceu meu pai de todas as formas. Como oferecer uma filha como pretendente se todos na máfia já tiverem uma noite ao seu lado?

Cattiveria I Spin Off - Série ObscurosOnde histórias criam vida. Descubra agora