Dias escuros

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"Like nobody could do, you took my heart, gave it a home. But now I start to wonder as we grow older, are we together alone?" (m. Is This Still Love? – Danny Jones)

Gotas de água escorriam pelos vidros escuros da velha picape de Killian, atrapalhando sua visão enquanto dirigia.

Eles já estavam na estrada há mais de seis horas e o moreno não se surpreendia com a sensação de esvaziamento em seu peito. Fizeram curvas, andaram em linhas retas, encararam trechos com céu limpo e sol radiante, mas também encontraram algumas chuvas torrenciais como aquela, mas a cada quilômetro longe de Nova York, se sentia melhor.

Com os acontecimentos recentes, ele sabia que aquela era a decisão correta – e devia toda coragem e ânimo às suas irmãs e o noivo da mais nova. Sem Zelena, Regina e Robin, ele, provavelmente, ainda estaria em casa chorando, colecionando lamúrias e solidão.

Era aquele exemplo que Killian queria dar ao filho?

Ele não podia evitar a recordação de todos os momentos com a mãe do garoto, especialmente com todas aquelas músicas tocando nas rádios das cidades que passava. Aquilo estava o matando aos poucos.

Jones sabia que seria cansativo viajar de carro com uma criança pequena por mais de três mil quilômetros, mas não podia arcar com o preço das passagens aéreas e da mudança – era muito mais que seu pouco salário poderia cobrir e ele, definitivamente, não pediria ajuda de sua família.

Pelo menos, não depois do que disseram. Bom, não todos eles, é claro.

Daqueles que ainda poderia confiar, não atrapalharia os planos do casal recém-casado porque o seu próprio matrimônio fora destruído. Não era justo. E, com Zelena morando em outro continente, qualquer ajuda da ruiva seria inviável.

Liam, Cora e Brennan estavam fora de cogitação.

O percurso seria feito em quatro dias, cada um com doze horas de muita estrada e paradas, para que o pequeno Danny não se irritasse em demasia. E, até lá, ele teria que engolir todo o choro e amargura das recordações que as canções traziam.

Por outro lado, porém, lembrar poderia ser bom.

Pensar nos últimos meses poderia apagar a dor que seu peito sentia, mostrando-o a transformação daquela que dizia amar e a aniquilação do que acreditava ser um lar. Era necessário distinguir passado glorioso do presente fragmentado.

— Meu nome é Killian Jones, tenho trinta anos e estou ferrado. – ele murmurava sozinho.

Ele precisava lembrar.

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Estava ficando insuportável.

Todo dia era uma discussão nova que, no final das contas, poderia ser totalmente evitada com um pouco mais de disposição para esclarecimentos. Em outras palavras, aquilo que Milah mais odiava: diálogo.

Contudo, para a morena, um item esquecido da lista de compras e pronto, o mundo estava prestes a implodir. "Eu volto lá para comprar o que faltou" não era sequer uma opção a ser dita. Ele havia tentado! Mas, aparentemente, não era a mesma coisa... E ele ainda não entendia a razão.

Killian sofria com as mudanças constantes de humor da esposa e nunca conseguia prever se ela queria mata-lo ou seduzi-lo. Jones ainda era bobo, ingênuo diante de todo cenário e sempre conseguia encontrar algum ponto positivo, usando-o de justificativa para toda cena armada.

Outro tom de azulOnde histórias criam vida. Descubra agora