Respire Fundo

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"You've taken lots of chances before, but I'm not gonna give anymore. Don't ask me, that's how it goes. [...] Don't leave false illusions behind. Don't cry, I ain't changing my mind, so find another fool like before." (m. Eye of the sky – Alan Parsons Project)


Um dia havia se passado desde a confusão com Milah e as vizinhas. Desde que Killian assumira a necessidade de definir, de uma vez por todas, o rumo que a vida dos dois seguiria.

Um dia inteiro que seu coração pulsava mais forte.

Respire fundo, vai passar.

Ele estava nervoso e não conseguia ignorar tal sensação, mesmo se tentasse. O formigamento nas mãos e inquietação estomacal lhe provocava o tempo inteiro e, ainda mais, a cada passo dado em direção ao seu apartamento.

Jones não sabia se agradecia ou amaldiçoava os membros da banda por cancelarem outra sessão, o liberando mais cedo do serviço e, com isso, antecipando seu confronto com a esposa.

Em parte, ele já poderia sentir o que estaria para ser resolvido, mas Killian ainda alimentava aquela pontinha insistente e incômoda de esperança que estava fixada em seu peito. Como ele poderia evitar?! Suas irmãs estavam pra lá de corretas, ele era um romântico incorrigível e, por esse mesmo motivo, insistiria até o fim.

Killian optou por seguir o trajeto a pé, respirando fundo e recolhendo suas energias para conversar civilizadamente com Milah. Aproveitava, também, para observar as pessoas e, por vezes, até mesmo se questionava se alguém naquela multidão estava tão infeliz quanto ele.

O moreno parou alguns instantes para observar o céu e tirar dali alguma previsão para o dia, corroborando ou excluindo hipóteses elaboradas por sua mente fértil. Entretanto, lá estava o azul mais distinto que tinha visto em Nova York: um misto da tela acinzentada que lhe era de costume para o meio da tarde, mas, também, trechos pontuais de um azul intenso e vivo.

Ora, se nem mesmo os céus poderiam lhe dizer o que estava por vir, por que ainda tentava?

Ignorando contato visual com alguns possíveis conhecidos e duas ou três mensagens recebidas no celular, seguiu seu caminho para casa. Aquele era seu momento de solidão, seus minutos de paz antes da tormenta.

Ninguém iria atrapalhá-lo.

Ao chegar no andar de seu apartamento, já sentindo os pulmões trabalharem com certa dificuldade, teve uma espécie de retorno à cena do dia anterior. A porta de sua casa estava aberta de maneira escancarada, algo que jamais acontecia, e tudo o que ele pensava era: Milah saiu mais uma vez, Danny ficou sozinho, Ariel veio salvar.

Respire fundo.

Seria abuso pedir um chá de camomila para dona Aurora?

Vai passar.

E, dando passos largos até seu destino final, repetiu como um mantra: "Ariel está aqui. Ariel veio salvar. Ariel está aqui. Ariel veio salvar."

A sala de estar, jantar e cozinha eram completamente integradas, o que permitia uma visão ampla e clara do cômodo inteiro apenas da porta de entrada, e foi assim, sem muito esforço, que ele a encontrou.

Stewart estava de pé, perto da ilha da cozinha, beijando um outro homem. As mãos do indivíduo seguravam a cintura da morena de maneira possessiva, o que denunciava não ser um evento novo para nenhum dos dois, e ela estava mais que entregue ao carinho de seu amante.

Killian não sabia o que fazer, a voz lhe faltou e sequer xingamentos saíam de sua garganta, deixando-o apenas com o olhar assustado, observando até que a cena chegasse no final. Espectador silencioso de sua própria dor.

Outro tom de azulOnde histórias criam vida. Descubra agora