14. Solar Superstorm

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Olars, espero que esse capitulo também incomode vocês....

Boa leitura!

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"A tecnologia só é tecnologia para quem nasceu antes dela ter sido inventada." -

Alan Kay

A visita aos meus pais foi um tanto quanto estranha. Eu queria contar sobre Lauren, mas achei que era cedo e.... Ah, quem eu tô querendo enganar? Na verdade, eu tive medo de que eles reagissem como da última vez em que a mencionei.

Sua tecnologia era excelente para assuntos que lhes foram comuns em vida e até mencionar Lauren eu não havia adicionado nada novo às nossas conversas, então não sabia que essa limitação levaria à uma conversa esquisita.

Fui e voltei da visita pensando sobre o quão estranho estava sendo pra mim ultimamente. Visitá-los era como falar com quadros de museus, como reviver um momento. Não era mais como antes. Não era um momento com a minha família, mas sim com robôs que fingiam ser eles e que, quando se tratava de conversas sobre a minha versão atual, se saíam ainda piores que Ally.

O jantar todo foi um martelar constante na minha cabeça, sobre como eles não sabiam nada do que estava acontecendo na minha vida. Sobre como sua visão dos cybers os faria rejeitar minha amizade com Machine e o pior.... De acordo com o que li nos manuais era possível programá-los para mudar e aceitar até mesmo conhecer o Machine sem problemas, mas na minha perspectiva isso era como fazer meus pais de brinquedo. Vivos, eles nunca aprovariam algo assim, quem era eu pra "editá-los" pós morte e fazer de suas memórias algo que não foram em vida? E pior, se eu alterasse isso, quem eles seriam? Ainda seriam eles?

Por outro lado, por quanto tempo eu conseguiria conviver com versões cada vez mais atrasadas e desatualizadas dos meus pais sobre a minha vida? No manual havia um exemplo que me deixou chocada, eu não imaginava que pudesse ser tão conflituoso conviver com Dopplers.

Quer dizer, eu vivera com eles três anos e não tivera problemas, mas talvez isso se devesse ao fato de que nada acontecera na minha vida durante esse tempo. O exemplo dizia que se eu tivesse uma filha pouco antes deles morrerem, por exemplo, eu poderia encontra-los dali trinta anos com essa filha já adulta e eles me perguntariam "Como está o bebê? Já está andando? ".

Eu nunca me dera ao trabalho de ler aquele manual. Nunca fora necessário e apesar de me interessar por leitura, manuais não são muito meu tipo. Qual é? Ninguém fica lendo manuais e dicionários hoje em dia, ainda mais quando se tem um Personal que possa ler pra você e responder suas dúvidas. Na real, acho que as pessoas nunca foram muito de ler manuais e dicionários, por isso colocaram essas funções nos Dopplers.

Mas hoje eu tirara o dia pra isso. Logo após enviar o texto para o meu chefe eu resolvi que decidiria o que meus pais saberiam sobre a minha vida atual, mas ao ver todas essas questões éticas eu comecei a cogitar não vê-los com tanta frequência. Era difícil não falar pra eles sobre coisas tão importantes pra mim, mas ao mesmo tempo era muito pior pensar que eu precisaria fazer modificações artificiais no HD deles pra que eles reagissem à isso de uma maneira menos esquisita.

Minha cabeça estava a ponto de explodir quando eu terminei de ler aquele arquivo gigante, mas eu ainda não chegara a uma conclusão do que seria melhor a fazer. Machine poderia me aconselhar com aquilo, mas eu não achava que esse era o tipo de decisão que eu deveria terceirizar. Não, eu decidiria sozinha dessa vez, era algo delicado e pessoal demais. Só aceitei que eu não decidiria hoje, meu cérebro ainda precisava processar todas aquelas informações, eu pensaria nisso o quanto antes possível, mas gradualmente.

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