28. VIP

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"A vida é uma viagem imprevisível que pode ser resumida em dois momentos: o choro na chegada e o silêncio na despedida." -Nelson Barh


Depois de longas 8 horas de viagem finalmente o expresso parou. Meu coração pareceu quase pular do peito assim que notou o fato. Chegamos! Nós chegamos!

Rapidamente coloquei o respirador na ponte do nariz e encarei o loiro que se movia em sua cama.

— Bom dia, Talsville! - Machine disse com animação e levantou da cama com a cara um tanto inchada.

Notei pela rapidez de seus movimentos que ele talvez estivesse acordado há algum tempo ouvindo nossa conversa.

Ele encaixou o braço de plástico no lugar com a experiência de quem havia feito aquilo a vida toda e passou a mão boa pelo rosto bagunçando os cabelos em seguida e se aproximando para abraçar a cabeça da prima, que estava sentada em sua própria cama.

— Já é boa tarde, velho. - Dinah riu da referência ao clássico desenho animado de quase 80 anos.

— Mila! - falou falsamente surpreso. - Não saltou do expresso em movimento enquanto eu dormia! - disse erguendo a mão pra eu bater e o fiz.

— Vontade não faltou. - respondi irônica enquanto ele dava um beijo na testa de Casie que já estava de pé e colocava sua mochila nas costas.

— Só não conseguiu porque é impossível saltar de um expresso em movimento. - sua prima acrescentou entrando na brincadeira.

— Temos uma vitória! - ele continuou ignorando nós duas, entrelaçando os dedos nos meus e chacoalhando meu braço como um boneco de pano.

— Peguem as bolsas e vamos, ainda temos que chegar ao evento. - Dinah falou jogando a própria bolsa nas costas e marchando decidida para a plataforma.

Nós três trocamos um olhar ansioso e seguimos a loira que já andava apressada alguns passos a frente, olhando para trás constantemente para verificar se a seguíamos.

Eu parecia andar em nuvens, ou talvez em um chão de gelatina. A cada passo era como se meu corpo todo precisasse fazer um esforço enorme para se manter de pé. Estava evitando pensar onde eu estava e para onde estava indo, aquilo só pioraria as coisas.

Machine caminhava ao meu lado e eu sentia seu olhar em mim de cinco em cinco segundos. Dinah liderava o grupo, seguida por uma Casie que parecia andar despreocupada em meio a toda aquela gente.

— Mila, pode respirar por favor? - pediu com um riso nervoso.

— Claro. - murmurei me dando conta de que estava praticamente prendendo a respiração.

Eu tinha consciência que isso não tinha nada a ver com a minha fobia de lugares abertos que, diga-se de passagem, estava bem mais controlada agora. Era ansiedade pura e simplesmente por vê-la.

— Eu pareço bem? - perguntei nervosa.

— Com certeza! Bem...travada. - ele disse risonho.

— Mané. - murmurei.

— Tão bem quanto alguém que passou a viagem acordada em um expresso morrendo de ansiedade e ouvindo uma palestra sobre algo que você não consegue entender. - Dinah falou rapidamente quase brotando ao meu lado.

— Acho que você não tá ajudando. - Casie murmurou não contendo um riso nervoso.

— Ela deve ter razão. - falei tensa.

— "Ela" tem. - Dinah falou segura. - Mas se a garota te ama ela vai te amar mesmo com olheiras cansadas no primeiro encontro... - falou gesticulando, andávamos mais rápido agora, depois de pegar no tranco.

AwayOnde histórias criam vida. Descubra agora