Capítulo 26

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Estaciono a bicicleta ao lado de uma caminhonete vermelha. Sorrio com os meus pensamentos.
  Tiro o capacete e o coloco pendurado. Respiro fundo, será o primeiro dia de muitos até eu melhorar. Não vai me exigir tanto, ainda assim, é pesado demais pra lidar sozinha.

---- Trouxe algo pra você comer. Sei que você não tomou café. Achei importante trazer algo pra você comer depois de fazer os outros exames. - Rosa estende uma sacola da padaria e outra sacola com um copo  cuidadosamente lacrado, com suco.

Tiro cuidadosamente de suas mãos. Então a abraço. Forte, bem forte. Agradeço tanto por ela estar aqui comigo.

---- Desculpe ter brigado com você. Eu só fiquei com medo.

---- Tá tudo bem! Obrigada por ter vindo.

---- Falei pro meu pai que eu estava com alguns problemas ginecológicos. E que faria um mini tratamento, sendo necessário que "eu", viesse ao hospital algumas vezes de manhã.

---- Não queria ter que te fazer mentir.

---- Tá tudo bem. Mas por favor, faz o que tiver que fazer pra que isso não se prolongue, se não meu pai vai achar que estou com um câncer maligno e vai querer saber mais.

Pego em sua mão. Concordo com a cabeça e a asseguro que farei o possível.




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Minha manhã não foi nenhuma das melhores. Fiz mais exames e peguei uma lista sobre minha nova alimentação. Nada de alimentos que tenham ácidos e álcool. Rio nessa parte. Bebi poucas vezes na vida e agora não posso beber nunca mais.

---- Minha família vai perceber. - digo ao ver Rosa se aproximando.

---- É uma nova dieta, claro que eles vão perceber.

---- Você me faz parecer um estúpida por ter falado isso. - levanto a sombrancelha esquerda.

---- O tratamento é de pouquíssimo tempo, não precisa esconder tudo deles. - Rosa pega o telefone convencional da loja e liga para a papelaria. Faz a encomenda de cartões, caixas, papéis para montar os buquê, fitas. Fico a observando. ---- Já pensou no que vai dizer pro Rômulo ? - pergunta ao desligar o telefonema.

---- Eu disse, somente eu e você vamos saber disso.

---- Pensei que ele fosse seu melhor amigo/amor da sua vida. - diz ironicamente.

---- E é justamente por isso, que quero poupa-lo de mais preocupações.



     Passamos a tarde trabalhando na encomenda de flores para 5 casamentos, em duas cidades vizinhas. Parecia que nunca íamos terminar.
     Eram caminhões chegando e saindo. Fora as flores que foram preciso ser substituídas, devido algum problema de conservação.
      Assim que o último caminhão partiu, eu e a Rosa nos entreolhamos num sinal de missão cumprida e extremo cansaço. Conforto Rosa, dizendo que estou um "cansada bem".
      Meu celular vibra. "Ah não?!". Penso comigo mesma. O pego no bolso da calça.

    • "Estranho seria se eu. . .
Não me apaixonasse por você...
Não vejo a hora de te reencontrar
e continuar aquela conversa
que não terminamos ontem
Ficou pra hoje... "

 

   Admito não entender o sentido da mensagem. A mostro para Rosa, na finalidade de alguma resposta.

---- Vamos pra casa, você precisa se arrumar.

---- Perai, como assim ?

---- Sâmia, só me ajuda a fechar a loja. Depois te explico.


Estou com a tolha pendurada no corpo e outra nos cabelos. Rosa está sentada perto de sua penteadeira, usando roupão de banho.

---- Daqui a pouco vai fazer frio. Pega uma calça e um moletom no meu guarda roupa.

---- Ok. Agora isso já está ficando o cúmulo do estranho.

---- Ele está aqui ! - diz sorrindo.

---- Como assim ?

---- Rômulo está na cidade. Ele voltou. Agora se arrume. E vá atrás dele. - responde saltitando da cadeira.

Sento-me na cama, um pouco desanimada. Olho para os meus dedos polegares brincando um com o outro.

---- Qual o problema ?

---- Não era pra voltar agora. Eu não sei se vou conseguir esconder aquilo, com ele aqui.

---- Sâmia - Rosa senta-se ao meu lado e segura em minhas mãos. ---- Não deixa esse teu medo do amanhã, atrapalhar a oportunidade que está tendo hoje. Foram meses longe dele. Eu vi o quanto foi difícil pra você se permitir novamente, sem ele por perto. Sei o quanto sente falta dele, porque é com ele que tá a metade do teu coração. E agora ele está te esperando com toda saudade acumulada. Vai ver ele.

---- mas ...

---- Mas nada. Vista a roupa e vá. Agora!

---- Tá bom. Obrigada - Sorrio e vou até o seu guarda roupa. ---- Onde será que ele está ?

---- Qual lugar que se viram pela última vez ?

---- Na frente da minha casa.

---- Você disse que naquele dia não foi um final de noite muito bom.

---- Verdade. - penso nos lugares que Rômulo poderia estar. ---- Já sei. O nosso lugar, ele tá no nosso lugar.

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