Capítulo 40

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---- Pronto. Hora de irmos. - fecho o porta malas.



      A viagem segue tranquila. Rosa está dirigindo o carro atrás , enquanto eu vou na BMW de Dylan.
    Não posso acelerar muito, se não corro o risco de nunca mais ter a oportunidade de dirigir esse carro. É claro que eu não ligo tanto para coisas assim, mas caramba. Acho que todo mundo merecia a chance de,mesmo que uma única vez, estar em um carro como esse. Dá uma sensação de liberdade, de estar voando. É tao bom sentir os cabelos soltos, em envolvimento com o forte vento que bate nele. A música que naquele momento toca. Tudo está em perfeito equilíbrio, os raios de sol, os desenhos de nuvens, as paisagens, e bem lá no horizonte um oceano azul.
   Eu me esforcei em memorizar cada detalhe daquele momento em que eu estava voltando pra casa.
  Em dado momento, chega a hora de devolver o carro pro próprio dono. O combinado seria eu dirigir metade do caminho, pra poupar minhas energias, visto que eu acordei um pouco indisposta aquela manhã.
    Forço o beiço pra baixo, mas nada com muito sucesso. Afinal, Rosa estava ali todo tempo pra supervisionar caso Dylan e eu, quebrássemos o acordo.
 
      De qualquer maneira, a sensação de que em pouco tempo eu estaria em casa, me tomava toda atenção e satisfação. Enfim eu estaria com os meus pais, minhas irmãzinhas, meu quarto, minha varanda e o meu amado noivo. 

---- Acho que você deveria ir pro carro da Rosana. Não acho muito bom pegar tanto vento assim no rosto.

---- Você é bem ignorante as vezes, sabia disso ? - rimos.

---- Só estou falando ...

---- Tá tudo bem. Meus remédios andam sempre comigo. E uma viagem de carro não vai me prejudicar ou me deixar pior do que já me encontro.

---- Meu tio viajou pra São Paulo. Vai precisar participar de um congresso. Mas qualquer coisa que você precisar, ligamos pra ele. O hospital de já está todo equipado para...

---- Dylan eu não vou continuar o tratamento.

---- O que ? Do que está falando ? - Dylan estava olhando para a estrada enquanto dirige, mas ainda posso perceber que sua expressão se fechou naquele momento.

---- Eu pedi um tempo ou um mês, sei lá. Só para ficar longe de remédios e quimioterapia. É muito exaustivo.

---- Sâmia, você atrasou muito o seu tratamento no período que o Rômulo estava, e agora vai fazer isso novamente ?

---- Dylan por favor. Eu só quero estar bem para o meu casamento, estar com cabelos soltos e com um rosto corado. Quero ter forças para caminhar até o altar, sem as tonturas que os remédios me causam. Foram meses muitos difíceis, tenta entender.

---- Isso vai te prejudicar! 

---- Eu sei. Eu sei dos riscos.

---- Já sei que você não vai contar pros seus pais, até porque na hora eles iriam de proibir dessa decisão.

---- Vou contar. Depois de casada. - me ajeito no banco de passageiro, e tento dar um cochilo.

---- Mais 1 hora, a gente chega ! - Dylan estende a mão direita e faz carinho na minha cabeça.



     Estou deitada numa cama muito macia. Mesmo sem forças de abrir os meus olhos, posso escutar atentamente a voz de Rômulo. Ele segura nas minhas mãos, está chorando. Por que ele está chorando ? Meu amor eu estou bem. Eu não abro os olhos. Por que não abro os olhos ? Um barulho de bipe pertuba-me ao lado. Desliguem isso. -Não ainda não! - Rômulo protesta. Tá tudo bem, amor. Eles podem desligar. Tá tudo bem ...



---- Sâmia, acorde! - Dylan toca em meus braços, depois checa meus pulsos.

---- Se acalme. Estou acordada.

---- Chegamos.

   Lá estava eu novamente na minha casa. Tudo parecia ter cheiro, os asfalto, a grama, a madeira, o balanço, a árvore, os degraus. Tiro o cinto de segurança. Dylan sai rapidamente e abre a porta do carro, para mim. Estende a mão, reviro os olhos, mas agradeço pela gentileza.
    Caminho até a porta de entrada, um cheiro fresco de tinta começa a pairar pelo ar. Fico um pouco tonta, mas nada que eu permita atrapalhar aquele momento

   Rosa e Dylan estão logo atrás, me absorvendo como 2 seguranças de shopping. Aquela sensação me incomoda, mas continuar ali parada só contribui para isso.
     Abro a porta. Ouço um som de música infantil, vindo da televisão da sala.

---- Sâmia ?! - mama está segurando uma forma de bolo.

---- Eu voltei, mama. Voltei pra casa.

  Corro para os braços da minha mãe.
Lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Senti como se tivesse 5 anos, havia acabado de cair da bicicleta. Mama estava fazendo bolo, entro chorando, chorando muito. Nem estava doendo tanto assim, mas mama me pega no colo e me dá vários beijos. Promete um bolo com sorvete.
   Papa entra correndo dentro de casa, e também se junta ao abraço, Samira e Saluza vem saltitando para o abraço.

   Olho em direção a porta, Rosa e Dylan estão lá, parados e chorando.

---- Venham - ergo a mão, os chamando.

  



      

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