Capítulo 36

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6 meses depois...

---- Vamos lá,  Sâmia.  Você precisa ir pra radioterapia.  - Dra.  Paloma bate na porta. 

---- Eu estou muito enjoada.  Me dê um tempo. 

Olho no espelho.  Já não sou mais a mesma.  Meus olhos estão fundos.  Minha pele está pálida.  Meus lábios,  na maior parte do tempo,  ressecados.  Mas meu cabelo ainda continua ali,  uso um lenço na maior parte do tempo para disfarçar os fios ralos. 
   Faz 5 meses que mudei,  juntamente com Rosana, para uma cidadezinha próxima a Dolls Vale.  Optei para continuar o tratamento por aqui. 
   Ela comprou uma casinha de campo,  e Dra. Paloma tem cuidado de mim desde então.
  Meus pais me ligam diariamente,  no início foi bem difícil para todos nós.  Mas eu piorei demais em menos de 2 meses.  Foi necessário sermos um pouco mais violentos com todos os remédios. 
   Minha família mal tinha conseguido digerir a notícia do noivado,  quando então,  cheguei dizendo que precisava viajar.  Mas prometi que voltaria pra Dolls Vale,  quando Rômulo voltasse.
   Nos vemos em alguns feriados mas é coisa rápida,  em vista do trabalho de Papa.  Em parte eu me sinto devastada e aliviada pois ainda não sabem do meu tratamento,  nem da minha doença. 
    Há dias em que me sinto mais fraca e outros que parece que nada disso existe, e que eu sou a mesma garota saudável de antes. 
  Todas as noites eu choro pensando no tanto que eu e minha melhor amiga,  temos que aguentar sozinhas. 
Ela continua trabalhando na floricultura.  As vezes viaja para Dolls Vale,  ou as vezes trabalha daqui de casa mesmo.  De qualquer jeito ela contratou uma cuidadora,  para não me deixar sozinha. 

---- Sâmi,  estou aqui.  - Ouço Rosa afastar a Dra.  Paloma da porta e encostar - se.   ---- Me deixe entrar. 

Lavo o rosto e abro a porta,  lentamente. 
    Rosana entra e a fecha em seguida. 
Sento-me no chão,  perto da banheira. 
Ela se senta ao meu lado e segura em minhas mãos. 

---- Isso é um saco,  não ?!  - indaga,  forçando um sorriso. 

---- Tenho saudades de casa. 

---- Você sabe que poderíamos estar lá,  se realmente quisesse. 

---- Não me ajudaria vê-los sofrer.

---- Tudo bem.  - ela bate respectivamente sobre minha mão. 

---- Desculpa jogar tudo isso em cima de você. 

---- Sâmia você tem lutado mais que qualquer um aqui.  E outra coisa,  eu não suportaria te perder.  Então o que tiver ao meu alcance fazer pra cuidar de te,  eu vou sim fazer.  Agora você precisa ir pro hospital.  Depois podemos sair pra comer uma coisa bem gostosa. 





    Hoje o dia foi bem cansativo, óbvio que igual as todos os outros. Mas quando eu não consigo me alimentar,  ou melhor,  manter o alimento na minha barriga isso me deixa rapidamente cansada. 
   Rosana comprou um balde de frango frito acompanhado de molho,  2 porções de arroz e salada. Para a sobremesa ela comprou Cheesecake de baunilha e calda de morango.
  

---- Você deveria estar engordando.  - diz ela,  assim que começo a me servir. 

---- Difícil com os efeitos colaterais da quimioterapia. 

---- Falou com o Rômulo ? 

---- Ele me ligou hoje cedo.  A investigação ainda não deu de resultado,  porquê muitos dos aparelhos de segurança estão extremamente danificados. 

---- Acho que foi acidente de trabalho,  mesmo. 

---- Rômulo continua a se culpar.  Ele acha que se estivesse lá,  teria evitado. 

---- Ou teria morrido junto. 

  Sem querer bato no copo em cima da mesa,  e ele cai e se despedaça no chão. 

---- Desculpa. Eu limpo depois. 

---- Tá tudo bem,  Sâmi.  É só um copo.  Não precisa ficar nervosa.  Toda essa fase ruim vai passar.  Você vai ver. 

---- Você acha que eu deveria contar pra ele ?  Sobre...  sobre isso ? 

---- eu não sei,  amiga.  - ela franzi a testa.  ---- vocês vão se casar.  Uma hora ele terá que saber. 

---- Eu não quero que ele acorde e vá dormir com a minha imagem de saco de doença terminal. 

---- Você não é um saco de doença.  Você é uma garota linda,  apaixonada,  noiva,  guerreira...

---- ROSANA,  EU VOU MORRER,  TÁ?!  INDEPENDENTE DO QUE DIGA.  EU...  eu vou morrer. 

---- Todas as noites eu espero você dormir.  E até depois disso continuo te olhando e me certificando que está respirando.  Todas as manhãs eu acordo e olho o armário de remédios pra ter certeza que não está faltando um se quer,  pois eu sei o quanto é ruim com eles mas seria pior sem. Você acha que é fácil pra mim ? Você acha que foi fácil pra mim,  ter escutado 1 mês depois você dizer que sua doença não tinha cura e que precisava ir pra outro lugar se cuidar ?  Eu tento todos os dias não chorar na frente da sua família quando eles vão na floricultura,  perguntar por você.  Eu tento te ajudar mas você está sempre tão fria e cada vez mais distante. 

---- Desculpa.  Eu sei que não estou ajudando muito... 

---- Seu noivo vai chegar em breve.  Você vai ser casar. Vai ter uma linda família e eu quero estar aqui pra ver isso. Mas se não encontrar novamente o brilho da melhor amiga que eu conheci,  isso vai ser impossível pra mim.

---- Eu tenho medo de não conseguir.  Eu tenho medo de morrer,  Rosa. 

Ela levanta rapidamente da cadeira e se agacha ao meu lado,  para me abraçar. 

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