O Anticristo do Fogo | Vol. III [DISPONÍVEL NA AMAZON]

3: NO FINAL DA VIDA

REN

Tranquei a porta do meu quarto e antes de sentar na cama, joguei o celular na mesa ao lado dela. Encarei-me no espelho do banheiro com uma careta. Eu tinha os olhos azuis mesclados de verde da minha mãe e cabelos negros, provavelmente de meu pai.

Quando me arrependia do que fazia, o que era, mais ou menos, a todo segundo, pegava a carta que Christopher me deixara em seu leito de morte.

Tudo bem que a experiência de ter meu padrasto morto por overdose e minha mãe fumando pela casa, já deveria ser o bastante para fazer-me ficar longe das drogas.

Mas eu não conseguia, e no fundo, tinha medo de alegar estar viciado.

Isso me destruía por dentro todos os dias em que pegava um cigarro na mão ou mesmo fazia um trabalho sujo para Beckham. Quebrava meu ego e meu orgulho ao meio. Olhar a situação de cima e ver onde cheguei.

Na escória da sociedade.

Tinha vezes que eu me odiava somente por ter nascido.

Mesmo assim tirei a chave do cordão em meu pescoço e abri a gaveta onde deixava a minha baby, Glock 9mm. Se minha mãe sonhasse apenas que tinha uma arma dentro de casa, era capaz de surtar.

Bem, surtar ainda mais. Porque ela já era meio louca.

Tirei o pedaço de folha amarelada e sentei-me na cama, lendo as letras tão conhecidas e gravadas em meu cérebro como se fosse a fogo.

Caro Ren, meu filho.

Pedi a Analu que lhe desse essa carta aos dezesseis anos, acho que é uma idade para começar a não se jogar de cabeça em confusões, como tenho certeza de que mesmo com meus avisos, você vai fazer.

Acredito que todo jovem seja capaz de aguentar sua dose de merdas na adolescência, todos devem ter pelo menos experiências horríveis. Sim, você sabe que não tenho vocabulário exemplário, muito menos escrevendo, o que já está me dando dor nos dedos, mas tudo bem.

Quero, Ren, que nunca se esqueça tampouco onde estou e como me encontro. Em uma maldita cama de hospital, com Analu ao meu lado e você nos cuidados de meu irmão, Kevin.

Sinto muito, pequeno.

Não fui capaz de parar de me drogar e estou dando dor de cabeça a meu irmão e a sua mãe, como também não sou idiota de saber, que lhes trago dor. Dor por ver-me no final da vida somente com 23 anos e pesando 40kg.

Ren... me perdoe e sempre tenha em pensamento que te amo.

Christopher.

Respirei fundo, secando as lágrimas que já eram costumeiras.

Eu me lembrava pouco dele. Somente lembranças de cenas vagas, um sorriso, uma baita gargalhada, mas sabia de seu físico pela foto que vinha acompanhado da carta.

Não era de Christopher no hospital, deitado na cama, e sim ao lado de minha mãe, comigo no colo, somente com alguns meses de vida.

Ele sorria para a câmera, segurando-me com carinho e Analu tinha as mãos nos bolsos do moletom, fazendo uma careta para mim. Eu não conseguia parar de pensar em como ele estaria descontente comigo, de onde quer que estivesse me vendo.

Não o suposto Uriel. Mas Christopher.

A dor no coração fazia-me sentir como se Christopher ao mesmo tempo estivesse ao meu lado e longe. Era difícil explicar a situação. Bem difícil.

Fungando, coloquei tudo dentro da gaveta e tranquei-a. Ouvi minha mãe sair e fechar a porta da cozinha. Não me preocupei, geralmente ela ia à praia de noite, principalmente quando o céu estava estrelado e sem nuvens.

Deitei-me e fechei os olhos, e nem me preocupei em tomar banho. Em tirar o sangue de meu rosto, apenas... dormi.

{...}

Fui acordado com o som insistente de uma das músicas de John Legend, All Of Me. Olhei a hora com olhos semicerrados pela súbita claridade, 02:34h da manhã.

Praguejei de raiva, quem diabos ligava àquela hora?

— Alô. — Disse, ríspido.

— Senhor Ren Warner Spenc? Filho de Analu Warner Spenc? — A voz feminina do outro lado deu-me vontade de vomitar.

— Não, idiota — resmunguei, fechando os olhos — Jack Sparrow. O que você acha? Não está ligando para a bosta do meu celular?

Houve uma pausa de dois segundos. Onde ouvi seu suspiro de irritação.

— Senhor Ren, lamento lhe transmitir essas informações, mas... sua mãe está morta.

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Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)