25: UM ANIMAL SEM SENTIMENTOS

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LÚCIFER

— Droga! — Exclamei, sentando no trono.

Notei o corpo de Danielle dar um pulinho, mas ela continuou afiando a espada com lâmina negra sem me olhar. Eu dera para ela, de presente de cinquenta anos.

Os Anticristos envelheciam até descobrirem sua origem ou, até os sessenta anos — dependia dos casos.

Mas Danielle descobriu que era minha filha aos dezoito anos, e era assim sua aparência. Seria aquela até morrer.

— Tudo bem, pai?

Somente quando Danielle estava aprontando alguma coisa, ela vinha com essa de sentimentalismo e me chamava de pai. Em outros momentos ela fingia nem me conhecer ou se referia a mim como Lúcifer.

Descansei a cabeça nos dedos, olhando nostálgico para Danielle.

Ela queria brincar? Então iríamos brincar.

— Lembro de sua mãe.

Como esperado, todo o seu corpo retesou e senti uma onda de satisfação. Se eu quisesse lhe causar dor emocional, era somente falar de sua mãe.

A filha de uma bruxa. A única que eu consegui ter uma filha que não nasceu uma aberração.

Se bem que os olhos vermelhos e os cabelos brancos eram estranhos, mas ela podia se passar por uma humana normal que tingia os cabelos e colocava lentes.

Os meus outros filhos não passavam de criaturas asquerosas e nojentas.

Danielle levantou-se, empertigando os ombros e esticando o uniforme preto de couro. Sim. Aquela cor fazia-a bem, deixando-a assustadora e terrível. Era assim que uma filha do Diabo deveria se comportar.

Ela colocou a espada nas costas e começou a se distanciar.

— Ela está no Céu, sabia? — Provoquei.

Danielle parou, mas continuou de costas para mim.

— E você sabe que não vai para lá, mesmo sendo boa. Coisa que você não é. — Continuei, vendo-a finalmente se virar para mim com um olhar selvagem. — Porque é minha filha e Deus não vai querer uma cria minha andando por seu Paraíso.

Ela cerrou os punhos e controlou a língua, apertando a mandíbula, quase quebrando-a e rangendo os dentes.

— Mas vamos voltar a falar de Anabel — a mãe de Danielle —, eu gostei quando ela morreu dando à luz a você, foi menos um empecilho. Quando vi que era humana e linda, eu sorri. Acho que foi o melhor momento de toda a minha criação.

Danielle riu sarcástica.

— Ah, claro. Quem não acreditaria no diabo amoroso? Sabe o que eu nunca entendi? — Piscou inocentemente. — Por que você nunca me criou? Eu seria eternamente má e já teria destruído metade do mundo, Lúcifer.

Pela primeira vez, Danielle estava dando a volta em mim. Eu sabia que ela tinha uma alma equilibrada até demais, dependendo de seu estado de espírito, podia tanto ser uma boa pessoa, como um animal sem sentimentos.

Eu preferia o segundo, mas isso implicava na forma como ficava astuta. A raiva lhe dava mais coragem e dissipava a nuvem que mantinha com medo de mim.

Eu gostava de ser confrontado, era bom.

Ainda mais pela minha filha.

Quer realmente saber, Danielle? No fundo eu te amei. E tive medo de você não fazer o mesmo. — Engoli em seco. — Eu sinceramente esperaria mais tempo para te contar, mas aconteceram todas aquelas coisas...

— Era melhor você ter deixado que me matassem. — Cortou, saindo dali.

Encostei-me no trono de almas e deixei que seus tormentos tocassem meus ouvidos. Cocei distraidamente a nuca antes de lembrar que não tinha falado-lhe nem metade de meu plano para derrotar Ren.

O Anticristo que podia passar por cima de Danielle como um carro passa por cima do asfalto.

Rolei os olhos ao sair da sala do trono. Estava ficando tão mole que agora, chegava ao ponto, de ir atrás de Danielle e começar a ter um pouco de convivência pacífica.

Ah, deveria ser inveja de Uriel com Ren.

Só podia.

Senti seu cheiro, que me levou até os prisioneiros. Todos em jaulas diferentes. Meu digníssimo irmão, Miguel. Abaddon. Azazel e Aniel.

Danielle estava passando bastante tempo ali. Com Abaddon.

Antes que eu entrasse, ouvi murmúrios e colei o ouvido na parede.

Vergonhoso.

— Você tem que parar de vir aqui. — Abaddon tossiu. — Lúcifer nos matará quando souber.

Opa, aquilo sim chamou minha atenção. Praticamente atravessei a parede com minha orelha, fechando os olhos para imaginar a cena com mais atenção.

— Não, ele não se deu conta ainda. — Danielle sussurrou confusa. — Mas é claro que Lúcifer vai gostar. Pense no sentido diabês como vai ser ter um neto.

Arregalei os olhos.

Então Danielle estava grávida de Abaddon? Coloquei a mão na boca. A criança seria muito valiosa. Filha de uma Anticristo com o poder da Escuridão e de um anjo caído da destruição.

Saí dali a passos silenciosos.

Muito bem, se Danielle não quisesse cooperar em meu plano, já teríamos uma moeda de troca.

Ela seria incapaz de dizer não.

E de brinde, ainda seria avô? Nossa, Danielle me surpreendia a cada dia.

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