13: UMA CICATRIZ HORRÍVEL

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ARCANJO MIGUEL


Viver vinte e cinco anos não era nada para um Arcanjo. Eras se passaram como minutos diante de meus e dos meus irmãos no Céu... Mas ser vítima de meu próprio irmão no Inferno era pedir para morrer.

Lúcifer fazia-me sentir dor de diversas maneiras que eu nem imaginara existir.

Segurei um suspiro de irritação quando ele entrou em minha cela.

Eu estava sozinho ali.

Os outros — Abaddon, Azazel e Aniel — foram colocados longe de mim. Lúcifer sabia que eu era poderoso e não mediu esforços para me manter solitário.

Mas as perguntas que não queriam calar eram: Por que nosso Pai não me salvava?

Por que, se eu era tão forte, não saia dali?

Livre arbítrio. Meu receptáculo e Ren. Respectivamente.

Meu Pai não podia me salvar porque desde o início quem teve a ideia de salvar Uriel dos domínios de Lúcifer tinha sido eu. E também fui eu quem entrou no Inferno, nas autoridades da escuridão e lar dos pecadores.

Por ser o Príncipe dos Anjos, era óbvio, que essa situação esmagava minha honra até virar pó — mas o receptáculo a quem estava usando, não poderia ser machucado. Era somente um humano.

E eu tinha sido criado para cuidar deles.

Ren, meu querido sobrinho, precisa de uma prova para se tornar um verdadeiro Ceifador — filhos de Arcanjos que levam as almas para o Céu ou Inferno — o que melhor do que resgatar o Arcanjo Miguel?

Vergonha de lembrar que estava acorrentado esperando um pirralho vir em meu auxílio.

— Dormiu bem? — Lúcifer indagou.

— Claro. — Ironizei, tentando me acomodar da melhor maneira no chão frio. — Com essas belezuras cinzas circundando meus pulsos e tornozelos não tinha como ser melhor.

Pelo menos minhas asas tinham nascido novamente desde a última vez em que ele as arrancara. E estavam soltas, bom, Lúcifer somente queria demonstrar como poderia ser misericordioso quando queria.

Ele sorriu e se abaixou, até ficar no mesmo nível que eu. No chão.

Seus olhos azuis observaram todo meu corpo com atenção. O sangue do humano maculava os trapos que tapavam poucas partes.

— Tenho algo para lhe contar. Uriel está movimentando as tropas dos anjos e seu filho está disposto a ajudar. Até mandou uns homens para cá mais cedo.

Aquela informação trouxe alívio. Alívio por saber que Uriel não se esquecera de mim e estava vindo. Lentamente, porque ainda tinha que contar bastante coisas para o pequeno, mas no final, estaria aqui.

E eu seria libertado.

Talvez aquele sentimento tenha transparecido em meu rosto, pois Lúcifer deu uma risada e ficou de pé. Só então notei que Danielle, a filha dele, estava parada na porta da cela.

Ela segurara o pai para Uriel fugir e teve um grande preço.

Uma cicatriz horrível no pescoço. Negra e retorcida ela ia, praticamente, do queixo a clavícula. Danielle não era de todo mal, mas parece que Lúcifer não estava disposto a ter uma filha que praticava o bem.

— Não se iluda, Miguel. — Lúcifer cruzou os braços. — Como a mãe, ele não é normal. Gosta de matar, é sádico e bipolar. Talvez no meio do caminho o rapaz desista de se suicidar e salvar o tio no processo. — Saiu da cela rindo.

Mas Danielle ficou ali, olhando-me com receio.

É mentira. — Fez mímica com os lábios, e sem nenhum som.

Depois fechou as grades enfeitiçadas e deitei minha cabeça no chão frio.

Resolvi não pensar naquelas informações que podiam — ou não — serem verdades e fechei os olhos, mordendo os lábios.

O importante... É que estavam vindo me salvar.

Uriel estava cumprindo sua palavra.

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Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)

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