URIEL
Pela primeira vez em vinte e cinco anos, eu tinha tocado em meu filho. Ou melhor, ganhado um soco dele, mas teve contato, pele contra ele.
Mesmo que a do meu receptáculo tivesse sido danificada por segundos.
— Você está sendo duro com ele, Uriel. — Gabriel falou em minha cabeça enquanto Ren estava parado em minha frente.
Não me dignei a olhá-lo.
— Até você? Acha que está sendo fácil voltar depois de vinte e cinco anos? — Respondi.
Gabriel bufou ao meu lado, recebendo toda a atenção do meu filho em chamas.
— Não, mas sei qual é o seu real problema. Você não sabe lidar com Ren, pois ele lembra Analu em todos os detalhes. Você está com medo de amar seu filho.
Não aguentei e gemi inconformado, erguendo os braços para cima e atraindo os olhares deles, virando-me para o mar e lembrando de quando caí ali. Salvei Analu e aquela foi minha ruína. Aquela linda humana que estava morta.
Mas no Céu. Onde era o seu lugar por ter tentado cuidar de um Arcanjo.
Mesmo que exilado.
Ela foi ao Inferno por mim. Cuidou de nosso filho com o máximo de amor que sua alma e mente quebrada poderia dar.
Doeu, claro que doeu.
Eu tive que ver Analu dando a luz ao meu filho, e só pude visitá-la uma vez. Por estar lutando para conseguir o apoio dos anjos para voltar aos domínios de Lúcifer e tirar Miguel de lá. Meu irmão mais velho.
Mas eu precisava dele. O Anticristo mais poderoso. O que tinha meu sangue, o de Abaddon e Dhália. A única anjo fêmea. Por ela ter ficado com seu corpo no Inferno ao enfrentar Lúcifer e sua horda.
O vi crescer, mesmo com todos os esforços de Analu, ele era impertinente e marrento, parecido comigo quando era apenas um bebê-Arcanjo. Na adolescência, bem... as mulheres se jogavam aos seus pés.
Não tive coragem de descer a Terra e ajudá-la.
Eu era um covarde. Porque sabia que de descesse, ficaria.
Mas eu tinha presenciando a cena de Analu sendo morta, sem fazer nada. Sentia-me sujo e nojento.
Das nuvens vi Analu ser morta.
Vi os tiros e facas rasgarem seu corpo outrora belo, mas que naquele momento não passou de pele cortada e sangrenta.
Fechei os olhos, procurando esquecer. Mas não dava.
— Uriel? — Ren me chamou confuso, chegando perto de mim.
Notei que Gabriel e Dhália estavam se afastando sorrateiramente. Talvez Gabriel estivesse certo. O medo de ser rejeitado por meu próprio filho fazia-me tratá-lo como lixo.
Resolvi tentar ser mais condescendente.
Deixei que uma lágrima escorresse por meus olhos e apontei com o queixo para o mar.
— Foi aqui. — Minha voz estava fraca. — Foi aqui que tudo começou.
Ren assentiu.
— Ela contava as histórias.
— E você nunca acreditou. — Sabia que ele começaria a se fechar, mas neguei com a cabeça, sorrindo. Era nossa primeira conversa civilizada e isso era melhor do que eu imaginava. — Você não tem culpa. — Continuei. — Quem em sã consciência acreditaria nessa história?
Ren baixou a cabeça, envergonhado.
Ele tinha acabado de descobrir muitas coisas. Tinha o gene da mãe, só podia. O fogo de seu corpo acabou repentinamente, junto com suas lindas asas.
Somente depois de voltar ao Céu foi que lembrei que tínhamos o poder desses elementos. Recuperei todas as minhas lembranças, as que ainda estavam bloqueadas por nosso Pai.
— Não entendo uma coisa. — Ren lambeu os lábios. — Ela me dizia que seus olhos eram negros. Minha mãe gostava disso em você.
Sorri com tristeza.
— O receptáculo que Deus me colocou quando caí foi de um homem morto. Ele desapareceu assim que voltei ao Céu, filho. — Somente depois que vi o que tinha falado.
Desviei os olhos, com receio.
— Eu... — Hesitou, claramente duvidoso. — Não tenho nada aqui e estou jurado de morte. Aceito. Aceito a sua proposta de ir ao Inferno, Uriel.
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Espero que tenham gostado :3
Bjocas da Gótica Suave :)
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O Anticristo do Fogo | Vol. III [DISPONÍVEL NA AMAZON]
Fantasy⚠É BOM LER O LIVRO UM E DOIS ⚠ ALERTA DE SPOILER ⚠ Livro 3. Trilogia Caídos. "Ele vai fazer de tudo para ter seu pai de volta." Passou-se vinte e cinco anos desde os acontecimentos de O Anjo Exilado e Guiada ao Inferno. E o filho do Arcanjo Uriel e...