16: FILHA DE LÚCIFER

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REN


Caminhei até minha cama com o intuito de deitar e dormir... para sempre se possível. Tirei a roupa colocada às pressas quando saí e fiquei somente de cueca.

As tatuagens se destacando em minha pele branca.

Meu corpo estava dolorido. Muito.

As informações e tensões do dia estavam cobrando seu preço e deixando-me despedaçado. Gemi quando sentei na cama e só então me dei conta de que meus machucados da surra de Beckham não pareciam mais tão doloridos.

Era a minha alma que precisava de uma reforma.

— Estou vendo que a fabricação de Anticristos está ficando cada vez melhor. — Alguém disse.

Levantei em pulo e meus olhos se arregalaram de espanto.

— Quem é você?

— Acalme-se. — A garota de cabelos claros saiu da escuridão e olhou-me ironicamente. — Sua mãe deve ter falado de mim. Sou Danielle, a filha de Lúcifer.

Meu coração começou a acelerar com aquele nome. Minhas pernas ficaram bambas.

Cogitei a ideia de gritar pelos demais — que estavam espalhados pela casa —, mas se a intenção de Danielle fosse aparecer para todos, ela o teria feito quando nos reunimos para jantar... como uma maldita família feliz sem problemas.

Vasculhei o cérebro e franzi o cenho sobre Analu ter comentado de Danielle.

Nada.

— Provavelmente não então. — Ela não parecia magoada, mas um pouco ressentida. — A alma de Analu pertencia a Lúcifer quando ela caiu no Inferno. Foi aí que consegui seu sangue e o do meu pai, fazendo uma "poção" para livrá-la das garras dele. Deixe-me adivinhar, Analu também não citou essa parte?

Cerrei os olhos. Não, ela não contou essa parte.

Mas poção? O que?

— E essa cicatriz aí? — Foi insensível da minha parte, mas eu não podia confiar na filha de Lúcifer.

Danielle abriu a boca e deu um passo atrás. Onde consegui ver suas feições claramente, pois, a janela estava aberta e por ela entrava um feixe de luz do poste ao lado da casa.

A garota era bonita, mas não fazia meu tipo.

Seus cabelos eram brancos, seus olhos... vermelhos?, Jesus, e seu corpo curvilíneo. A visão de uma verdadeira guerreira. Mas a horrível cicatriz negra que ia de seu queixo até perto da clavícula me dava nojo.

Desviei o olhar incomodado, não com sua presença. Sabia que podia me defender, mas a visão daquilo... Danielle deve ter entendido, pois puxou o sobretudo preto para perto de si, tapando boa parte daquela coisa.

— Foi um pequeno sacrifício por salvar sua mãe e seu pai.

Senti-me tocado por seu gesto há anos atrás, mas não demonstrei em minha expressão. Não agora que Analu não estava aqui para dizer de seu jeito: "É verdade. Eu falei e você não prestou atenção nenhuma, Ren?"

Deixei que o fogo tingisse meus antebraços, senti o crepitar no ar e me afastei da cama para não queimá-la, e consequentemente colocar fogo na casa.

Seria um completo vexame desastroso.

— O que você quer aqui?

Danielle não se rebaixou, pelo contrário, deixou que nuvens negras surgissem de seus pés. Caos. O mesmo dom que seu pai. Então ela era igual a mim. Muito bom.

As coisas iam ficando cada vez mais fáceis para o meu lado. Nunca vi.

Aquela demonstração de poder mexeu comigo, será que seria meu teste para saber se conseguiria derrotar Lúcifer? Não sei. Mas meu estômago resolveu dar voltas naquele momento e minhas pernas ficaram mais bambas ainda.

Senti a mesma sensação de estar saindo de meu corpo e nem presenciando os acontecimentos.

Como sempre acontecia quando eu ficava nervoso demais.

— Não se preocupe. Não é comigo que você medirá forças. Somente vim lhe dar um recado de meu pai, Ren. — Entregou-me uma folha de papel, peguei-a rapidamente e engoli em seco.

"Querido sobrinho. Aceito suas lembranças a alma de Beckham Hanson será tratada extremamente mal, afinal, ele matou minha estimada Analu e aproveito para mandar as minhas mais sinceras condolências.

Já deve ter conhecido minha filha, Danielle. Sua prima.

Desculpe se estou rindo, é que... escrever isso é ridículo.

Você mandar aquelas pobres almas só fez-me ainda melhor e aumentou um pouquinho mais meu domínio. Não se vanglorie, por favor. Não passe vergonha à toa.

Ah, já ia esquecendo. Não deixe de mostrar isso ao seu pai.

Querido, à meia-noite sempre será menor que o alvorecer. Acostume-se."

Rei do Inferno. Lúcifer.

Levantei a cabeça para perguntar o que era aquela merda.

Mas Danielle tinha desaparecido.

Suspirei e abri a porta, indo em direção a de Uriel.

Aquela noite seria longa.

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