17: POR QUÊ LA VOLPE?

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URIEL

Não tem nem o que dizer que entrar naquela casa novamente me trazia uma angústia infinita.

Analu não estava ali, eu não veria seu olhar questionador ou amoroso pela minha insignificância.

Eu não... veria mais aquele olhar medroso pelo qual me deu quando soube que fiquei com um receptáculo de um assassino — na primeira vez que caí.

Não. Ela não estava ali, para ajudar-me com nosso filho.

Sentei na cama. Aquele era o antigo quarto dos pais dela, se eu não me enganava. As cortinas brancas dançavam ao vento cortante, mas deixei que ele arrepiasse minha pele.

Era bom saber que estava vivo.

E ela não.

Batidas na porta interromperam minha concentração depreciativa. Levantei-me suspirando irritado, somente por pensar que era Dhália do outro lado querendo um carinho ou um corpo quente para se esquentar.

Mas quando abri a porta, quem vi foi Ren.

— Algum problema? — Perguntei, olhando-o de cima a baixo em busca de algo.

Ele estava somente de cueca preta e aparentava estar transtornado. Seu corpo musculoso passou por mim e fechei a porta lentamente, olhando-o preocupado dessa vez.

— Sim. — Respondeu, tremendo. — Me responda... por que dentre todos os receptáculos, você escolheu um parecido comigo, mas como irmão e não pai?

Passei a mão pelo rosto e o encarei.

— Está falando sério? Você veio aqui, agora, a essa hora da noite... para que me perguntar justamente isso? Sei lá, Ren. O único mais perto da cena do crime foi esse. Nem vi se era parecido com você ou não.

As palavras ríspidas o pararam.

Ren massageou a testa com cuidado antes de morder os lábios e me entregar um pedaço de papel.

— Danielle me deu.

Okay.

Danielle? Aquela garota guerreira tinha um sério problema em escolher um lado para ficar. Peguei-o hesitante e li.

Meus olhos se perderam no chão enquanto sentava na cama.

— O que significa? — Ren sentou-se ao meu lado.

Li mais duas vezes o que estava escrito.

— Significa que eu sou a meia-noite e ele o alvorecer, é meio que um trocadilho. Sempre virei primeiro, mas sempre darei lugar ou serei derrotado por Lúcifer.

Ren ficou taciturno enquanto chamas circundavam suas mãos. Eu gostava de vê-lo aproveitar esse dom, era como se ele tivesse aceitado inteiramente ser meu filho.

Embora no fundo eu soubesse que não era isso.

Pensei nele naquele momento em que matou Beckham. Os gritos eram prazerosos.

— Por quê La Volpe?

Ren assentiu e levantou-se, sendo seguido por mim. Mas parei quando vi as tatuagens de asas em suas costas brancas.

Aquela visão mexeu comigo a tal ponto de fazer-me sentar outra vez para não cair duro no chão.

— Porque eu não suportava mais quando minha falava de você, então fiz essa tatuagem nas costas, mas mesmo assim ela não sossegou. Analu mexeu com minha cabeça de uma tal forma que você nem imagina. Então adotei La Volpe, a raposa, pois tinha que esconder meus verdadeiros sentimentos de todos. Sem contar que sou bom no que faço.

Em matar.

Essas duas palavras ficaram impregnadas no ar enquanto Ren ia em direção a porta, então parou, olhando-me nos olhos com um sentimento estranho.

Magoa? Dor? Ressentimento? Não sei, talvez todos.

— Por isso La Volpe, Uriel. Para esconder de todos o que eu realmente sou... um nada. — E fechou a porta atrás de si.

Mordi os lábios fortemente enquanto ia para a mesma sacada que Analu dera-me um tapa por ter dormido com ela com segundas intenções.

Como fui um idiota.

Fechei os olhos enquanto pegava o maço de cigarros do bolso do humano. Ascendi-o, não deixando de lembrar dela. Claro, Analu também fumava.

Deixei que o gosto ruim penetrasse minha boca enquanto avistava o mar e o Céu.

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